22/Apr/2024
Após uma semana intensa de mobilização do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no tradicional Abril Vermelho, os episódios recentes de invasões ocasionados pelo movimento desgastam ainda mais o relacionamento entre o agronegócio e o Executivo. Fontes do setor produtivo consideram que o governo não agiu para evitar aos atos e que parte deste, inclusive, deu aval para as invasões sob a alegação de que as áreas são improdutivas. “Avançamos uma casa com o governo e retrocedemos duas. O MST sempre será um fantasma para o agro na atual gestão", afirmou um representante do setor produtivo. Parte dos interlocutores avalia que, embora haja bons laços construídos com o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, o relacionamento do setor com o Palácio do Planalto e a Presidência da República já estava fragilizado.
Na tentativa de diminuir as rusgas entre o agro e o Executivo, o Palácio do Planalto vinha realizando diversos jantares informais com segmentos do agronegócio a fim de aparar as arestas, estreitar laços e reduzir a impopularidade no agro. Para fonte do setor produtivo que participou de um dos encontros recentes a aproximação foi insuficiente e colocada em risco com as novas mobilizações do MST. O produtor na base cobra as entidades sobre a insegurança de propriedade voltando a bater na porteira. As invasões, realizadas pelo MST chegaram a 30 áreas em 13 Estados e no Distrito Federal até o dia 19 de abril, envolvendo mais de 30 mil famílias do movimento. As invasões vão desde áreas públicas, ligadas a órgãos do governo como Embrapa e Ceplac, a áreas privadas.
Outro representante do setor produtivo afirma existir desapontamento com as falas recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante o lançamento do programa Terra da Gente para reforma agrária, quando disse que o programa "não invalida a continuidade da luta pela reforma agrária" e falou sobre não "pedir para ninguém deixar de brigar". "Achávamos que o repúdio (às invasões) estava pacificado no governo, mas essa fala endossa as invasões e estimula a mobilização", comentou a liderança do setor de grãos. "A nossa intenção é deixar as ideologias partidárias de lado e trabalhar a pauta técnica do setor, como fazemos com Fávaro, mas isso sempre esbarra no atrito com o MST."
Parlamentares ruralistas reforçam a avaliação de piora no relacionamento e citam também a revisão do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) com redução do escopo de produtores atendidos, os vetos aos projetos de defensivos agrícolas e ao socorro considerado "insuficiente" à crise do setor. Isso tudo piora a relação. O programa de reforma agrária não agradou sequer ao MST. “É um absurdo o movimento estar dentro do próprio governo", observou um parlamentar sobre pessoas aliadas ao MST possuírem cargos no Executivo. A mobilização atual do MST foi o segundo teste de fogo da atual gestão na condução das questões agrárias e de direito à propriedade junto ao setor produtivo. Em 2023, o MST também realizou uma série de invasões no País enquanto o Executivo buscava apaziguar sua posição com o agro. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.