22/Apr/2024
O hidrogênio e seus derivados ainda não se firmaram como combustível limpo para transporte, mas o gás já começa a ser utilizado como linha auxiliar para aumentar a eficiência de motores à combustão e reduzir suas emissões de carbono. Fazer isso em navios é o objetivo de uma tecnologia nova desenvolvida pela Ocyan, empresa de serviços offshore para o setor de óleo e gás, e pela startup LZ Energia, com aporte milionário da Shell. Trata-se de um equipamento de injeção inteligente de hidrogênio no ar de admissão de motores marítimos, capaz de reduzir em até 10% o consumo de combustível fóssil das embarcações e, na mesma proporção, o gás carbônico emitido à atmosfera. Outros gases poluentes, como metano e monóxido de carbono, podem assistir redução de até 30% nas emissões, diz a LZ Energia.
Para evitar riscos relacionados ao transporte do hidrogênio, o insumo não vai ser embarcado em quantidade, mas gerado a bordo por meio de eletrólise da água, em um processo cujas quantidades são comandadas pelo computador do equipamento. É utilizada água de uso da própria embarcação, que passa por processo de purificação. A energia para eletrólise vem do próprio alternador, como no isqueiro de um carro. Por ora, o sistema a ser embarcado nos navios tem o tamanho de três geladeiras e lança mão de um computador capaz de medir a quantidade ideal de hidrogênio para cada momento do motor. Batizada H2R (sigla de "hidrogênio para redução"), a tecnologia recebeu no começo de abril uma aprovação da certificadora norueguesa DNV, especializada em indústria offshore. O carimbo atesta o potencial efetivo da tecnologia.
Uma das principais vantagens dessa tecnologia é não requisitar alteração nos motores, podendo ser instalada em barcos existentes. Usar o hidrogênio como combustível requer outros motores. Não é o que acontece neste caso. Essa tecnologia não exige modificação, só busca aperfeiçoar a combustão, com menor atraso na ignição e queima mais completa. E não é promessa qualquer: desde o fim de 2023, a LZ Energia já comercializa equipamento análogo voltado a caminhões. A adaptação para navios é, portanto, questão de tempo. Nos caminhões, o aparelho se assemelha a uma caixa com volume de uma garrafa pet de 3 litros, que é alimentada com água já purificada a cada três meses. Desenvolvido a partir de 2015, o produto para caminhões custa hoje R$ 7,5 mil e tem retorno financeiro após cinco meses de uso, na média. O aparelho também pode ser alugado. Para a tecnologia voltada a navios, ainda não há projeção de preço.
Segundo a Ocyan, o plano é aperfeiçoar o equipamento até o início de testes em plataformas offshore em meados de 2026. A comercialização efetiva da máquina é esperada para o segundo trimestre de 2027. Um dos principais interesses das empresas envolvidas é aplicar a tecnologia em navios-plataforma de posicionamento dinâmico, cuja operação é intensiva em consumo de diesel. Caso a tecnologia avance e seja aplicada em motores de sondas e navios-tanque, é esperado efeito relevante na redução de custos e emissões de carbono do setor. A Ocyan e a LZ Energia terão a propriedade intelectual da tecnologia, enquanto a Shell vai receber royalties por vendas futuras e facilidades para a instalação na própria frota em função dos R$ 17,7 milhões investidos por meio da cláusula de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Combustível (ANP). A cláusula obriga as petroleiras a investirem 1% de sua receita bruta nessa frente.
No caso do H2R, os recursos serão aplicados para escalar os testes. O conceito do projeto está bem evoluído e começa a mostrar os resultados da tecnologia a partir do trabalho feito em laboratório. Não só Shell e Ocyan vão fazer uso dessa tecnologia. A ideia é que a sua aplicação aconteça em todo o mundo. A Shell tem investido cerca de R$ 500 milhões por ano em mais de 100 projetos desse tipo nos últimos cinco anos. Um terço das iniciativas é voltado a tecnologias de baixo carbono, desenvolvidas dentro de universidades ou por startups como a LZ Energia. Antes do apoio da Shell, a startup já havia recebido apoio da Ocyan para desenvolvimento inicial e testes ao preço de R$ 1 milhão. A LZ Energia participou, em 2021, do programa Ocyan Waves, para inovações do tipo beta, em que a empresa define um problema e recebe propostas de soluções. Uma nova edição do programa está aberta, com inscrições até 15 de maio. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.