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28/Feb/2024

Indústria química: importação da Ásia prejudica setor

Segundo os dados consolidados do relatório de acompanhamento conjuntural (RAC) da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), a indústria química brasileira atingiu o menor nível de capacidade instalada da história no ano de 2023, de 64%. O valor é 6% abaixo do registrado no ano anterior. Se considerado apenas o mês de dezembro de 2023, o nível de capacidade instalada alcançou patamares ainda menores, em 60% do nível de utilização, o que representa uma queda de 9% na comparação com o mesmo mês em 2022, e estável ante novembro. Em 2023, a produção registrou queda de 10,1% ante o ano anterior, enquanto as vendas internas recuaram 9,4% e as exportações retraíram 10,9% no mesmo intervalo de comparação. As importações de produtos químicos, por sua vez, cresceram 7,8%, em meio a uma concorrência intensa dos produtos nacionais ante os de origem asiática, principalmente oriundos da China. O Consumo Aparente Nacional (CAN) registrou queda de 1,5% em 2023 ante o ano anterior, o que representa a segunda queda consecutiva para o indicador. Em 2022, a demanda já havia recuado 5,8%.

O setor não consegue competir com a agressividade do importado, tampouco buscar alternativas no mercado externo. A indústria química nacional vem perdendo competitividade de forma estrutural desde 2007, último ano em que houve o registro de um padrão considerado normal para o setor. De lá para cá, vem se acentuando ano a ano a perda de competitividade no Brasil, com importações crescentes e que ocupam espaço cada vez maior em relação ao atendimento da demanda local. Todos os grupos de produtos pesquisados na amostra do RAC, sem exceção, apresentaram aumento no nível de ociosidade. Por outro lado, apesar da criticidade do momento, todos os grupos de produtos analisados possuem espaço para elevar a produção no curto prazo. Entre janeiro e dezembro de 2023, o segmento de produtos químicos de uso industrial registrou deflação de 12,7%. O fenômeno é reflexo, basicamente, do comportamento do mercado internacional, visto que os preços no mercado nacional refletem o ambiente externo.

A Fundação Getúlio Vargas (FGV) afirmou que o cenário do setor químico, representado por forte queda em vendas, produção, exportação e deflação, é profundamente preocupante, visto que o ano de 2023 foi um período em que a economia brasileira apresentou um crescimento de 3%. Em contrapartida, a indústria química apresentou uma contração de 10%. Isso mostra claramente um grave processo de desindustrialização da economia nacional. Os setores mais sofisticados do ponto de vista tecnológico e que possuem salários mais elevados têm perdido espaço no Produto Interno Bruto (PIB), o que contrasta com o crescimento registrado no ano passado pela economia, impulsionado principalmente pelo setor de serviços, que possui menor nível de complexidade. Esse resultado é consequência da concorrência desafiadora de produtos asiáticos, com destaque para China. A presença desses produtos no mercado brasileiro, muitas vezes resultante de práticas como dumping ambiental e subsídios públicos, dificulta consideravelmente a competição para a produção doméstica brasileira.

Diante do quadro, há forte necessidade de uma ação do governo para proteger e fortalecer a indústria química. A Abiquim reconhece a importância de iniciativas como a nova política industrial, bem como o programa Gás para Empregar, que devem melhorar questões estruturais do País. Contudo, a Abiquim defende a adoção de uma ação emergencial, como a implementação da lista transitória de elevação das alíquotas de importação, para que se tenha tempo de produzir efeito nas agendas estruturais. A manutenção do quadro internacional atual, associado à elevada ociosidade e às crescentes importações, pode comprometer o parque instalado, trazendo consequências desastrosas ao País, que podem resultar em desativação de unidades, perdas de postos de trabalho e menor arrecadação de impostos pelo setor químico, que é atualmente o primeiro no pagamento de tributos federais. O governo perdeu quase R$ 8 bilhões em arrecadação de impostos federais por conta da queda da produção de químicos registrada em 2023. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.