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14/Feb/2024

Terras: preços recuam com queda das commodities

A combinação entre a supersafra de grãos, os juros ainda elevados e a queda na cotação das commodities no ano passado interrompeu um ciclo de supervalorização do preço da terra para cultivo agrícola, iniciado em 2020. Em três anos, entre 2020 e 2023, a valorização foi de 59,9%. No ano passado, no entanto, houve uma freada: o aumento real nas terras usadas para cultivo foi de 3,2%, descontada a inflação medida pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) da Fundação Getulio Vargas. Os números constam de uma pesquisa da consultoria S&P Global Commodity Insights. No caso das terras para pastagens, a situação foi diferente: o avanço, em termos reais, foi de 12,9%. Nesse caso, entre 2020 e 2023, o crescimento havia sido de 42,7%. Uma das principais explicações para isso é a rentabilidade da safra agrícola, que sofreu uma queda exatamente pela supersafra - que joga os preços para baixo.

No caso da soja, o principal produto do agronegócio brasileiro, a rentabilidade em 2022/2023 ficou próxima dos níveis históricos, mas inferior às duas safras anteriores. O milho também teve rentabilidade baixa. Isso acabou pesando no preço das terras, de acordo com o relatório da consultoria, que pesquisou preços com corretores e agentes de mercado em 133 regiões do País. Com perspectivas de menores ganhos, os produtores investem menos em terras, o que derrubou os preços. O comportamento modesto do mercado de terras no ano passado acabou sendo uma volta aos patamares históricos, de uma valorização anual entre 3% e 6%. Nos últimos anos, a pandemia da covid-19, a guerra entre Rússia e Ucrânia, a quebra de safra na Argentina e os efeitos do evento climático La Niña levaram a uma forte valorização dos grãos.

Isso proporcionou excelentes resultados para os produtores, que expandiram áreas e turbinaram as cotações da terra. Aquele foi um momento fora da curva e esses fatores ajudaram os preços das terras a subirem muito naquele período. O mercado de terras é consequência direta do que acontece com as finanças do produtor. No entanto, no ano passado, o mercado virou. Segundo cálculos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, os preços dos produtos agropecuários caíram, em média, 16,4% em 2023. Houve uma retração de 22,5% nos grãos - com recuos na soja (-22,2%), milho (-25%), trigo (-26,4%) e algodão (-34%) -, além de queda de 11,1% nas cotações dos produtos da pecuária. A pesquisa da S&P Global Ratings mostra que, no ano passado, terras para pastagem tiveram uma valorização quatro vezes maior que a média registrada em áreas para agricultura.

O resultado pode parecer contraditório em um ano no qual o preço da arroba do boi gordo caiu 20,5%, em média, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP. Existem razões para esse movimento aparentemente contraditório. Uma delas é que áreas para agricultura valem mais do que as de pastagem e, portanto, têm menos margem para valorização. Além disso, nos últimos tempos vem ocorrendo um movimento de conversão de pastagens degradadas para terras destinadas à agricultura. E isso teria impulsionado o preço das pastagens, embora a cotação da arroba esteja muito distante do pico atingido no passado recente. Houve também um componente político que ajudou no desempenho fraco no ano passado. Teve muito boato de que o governo faria a reintegração de posse de algumas propriedades.

Num ano em que o preço médio das terras para o agronegócio no País perdeu o forte impulso de alta, algumas regiões foram na contramão e registraram forte crescimento. A maioria dos municípios com maiores valorizações de terras para grãos e pecuária está localizada nas Regiões Centro-Oeste e Norte. São José do Xingu, por exemplo, que fica no Estado de Mato Grosso, registrou a maior alta de terras para grãos do País em 2023, segundo a pesquisa. O preço do hectare de terra plana subiu 55% em um ano. Custava, em média, R$ 14,5 mil no fim de 2022 e encerrou o ano passado cotado a R$ 22,5 mil. O clima e a produtividade do solo, além da topografia plana que permite o uso de máquinas agrícolas, explicam a liderança do município no ranking das maiores valorizações das terras para grãos no País. O clima da região é excelente. A qualidade do solo é outro fator importante, porque alavanca a produtividade. É normal encontrar no município áreas com 30% a 40% de argila no solo. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.