07/Feb/2024
Do mesmo jeito que a safra recorde do ano passado ganhou manchetes e impulsionou o Produto Interno Bruto (PIB), a quebradeira de empresas do setor do agronegócio começa a ter destaque, e a levantar preocupações. O número de pedidos de recuperação judicial cresceu 300% entre janeiro e setembro, segundo a Serasa Experian. Nesta terça-feira (06/02), a Elisa Agro entrou com um pedido de recuperação judicial e dívidas de R$ 680 milhões. A AgroGalaxy, uma das maiores plataformas de varejo de insumos agrícolas, anunciou uma reestruturação que envolveu troca de comando, o corte de 80 cargos e mudanças operacionais. O fundo Aqua Capital, maior acionista da empresa, afirmou que está se antecipando ao mercado porque há uma ‘lição de casa’ a ser feita, mas foi um movimento muito estudado. Isso porque a varejista, que faturou R$ 11,6 bilhões em 2022, vê perspectivas difíceis não apenas para este ano como em 2025.
Porém, é mais um dos muitos eventos cíclicos ao qual o setor está acostumado. Esse é um mercado que cresce e encolhe a cada cinco ou sete anos. Será mais uma fase de reajustes, mas não haverá quebradeira porque o agronegócio é como um “acordeão”: na baixa, todos se apertam e, quando ganham dinheiro, todos crescem mais. Apesar de as recuperações judiciais terem crescido quatro vezes, o número absoluto de pedidos foi de 20 para 80 no período analisado. Isso é um número pequeno no universo do agronegócio. Assusta e preocupa, mas não é o que define o mercado. A maioria dos produtores rurais e indústrias do setor querem pagar suas contas e evitar pedidos de proteção à Justiça. Porém, ao entrar no segundo ano de dificuldades, os credores têm menos flexibilidade para prorrogar dívidas. De agosto/2023 para cá, mudaram as perspectivas e todos ficaram mais restritivos.
Se logo após a safra recorde, os produtores bastante estocados sofreram com a queda no preço das commodities e o aumento nos insumos, agora é a vez do clima ter atrapalhado, além de os produtos novamente terem perdido valor em dólar e o real ter se apreciado. Mesmo assim, não é um cenário caótico. Em média, o produtor brasileiro vai colher mais de 90% do volume histórico. Esse é um dos motivos que para a estratégia da AgroGalaxy. A estrutura que havia sido montada era para um cenário de crescimento rápido do setor, porém foi necessário dar um passo para trás, para voltar com força mais adiante. A AgroGalaxy tinha sete níveis, entre o CEO e o vendedor, e agora serão cinco. Isso é bom porque, no negócio de revenda, a agilidade e o foco no cliente fazem muita diferença. Além disso, havia lojas, como as alocadas nas cidades ao longo da BR-163, que enfrentavam grande concorrência e estão na região mais afetada pelas condições climáticas desfavoráveis.
Seriam unidades que sugariam caixa por cinco anos. São poucas as que serão fechadas, mas tudo foi estudado com muito cuidado e vai bem além do simples corte de custos. A operação nos Estados Unidos, por outro lado, tem se normalizado, com o inventário e o clima melhorando. O produtor norte-americano está retomando aos poucos e agora com uma margem razoável. A troca no comando da AgroGalaxy estava desenhada havia tempos. Axel Labourt assume o cargo de CEO no lugar de Welles Pascoal. O aporte de R$ 150 milhões que o Aqua Capital fez na AgroGalaxy, no fim do ano passado, foi um movimento que indicou confiança na gestão. Serviu para fortalecer o caixa num momento de baixa e para mostrar nosso comprometimento com a estratégia da empresa. Após o anúncio da reestruturação, as ações da AgroGalaxy tinham alta de 1,21% por volta de meio-dia, mas caíam mais de 72% no ano. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.