30/Jan/2024
Primeira das “novas energias” a chegar ao Brasil, a fonte eólica, ou movida pelos ventos, tem batido recordes sucessivos de instalação e já trouxe mais de R$ 300 bilhões em investimentos para o País. Em 2023, respondeu por quase 50% de toda expansão do setor elétrico, dos 10,3 mil megawatts (MW) adicionados ao sistema elétrico, 4,9 mil MW vieram das usinas eólicas. E a tendência é essa expansão continuar firme nos próximos anos. Até 2030, serão investidos mais R$ 175 bilhões para acrescentar 25 mil MW de potência, levando-se em conta apenas os projetos já contratados em leilões nos últimos anos. Com isso, a geração eólica deve quase dobrar, passando da capacidade atual de cerca de 30 mil MW para 55 mil MW. Esses números se referem, por enquanto, apenas a projetos construídos em terra.
Quando a tecnologia chegar ao mar, o que deve acontecer na próxima década, a expectativa é triplicar os investimentos. O crescimento da eólica se deve, primeiro, à sua competitividade, porque ela gera energia mais barata. E, desde 2018, além das contratações em leilões, a eólica também começou a ser contratada no mercado livre (onde o consumidor pode comprar energia diretamente de quem oferece o menor preço). O mercado livre foi um grande impulsionador e continua sendo, e não deixará de ser, segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). A geração eólica representa atualmente cerca de 15% da matriz elétrica brasileira, com 30 mil MW de potência instalada. A potência total no Brasil, de todas as fontes, é de 200 mil MW. A geração eólica está espalhada por 1.003 parques em 12 Estados, e é responsável por abastecer 41 milhões de residências no País.
De 2009 até 2018, a fonte eólica instalava uma média de 2 mil MW por ano. A partir de 2019, com a maior expansão do mercado livre para empresas, essa média saltou para volumes superiores a 3 mil MW e chegou a contratar mais de 4 mil MW. Desse total, 80%, em média, vieram do mercado livre, porque as empresas estão buscando energia renovável para colocar na sua produção, tanto pela competitividade quanto pelo fato de ser energia limpa. Os leilões de energia do governo foram se tornando bastante insignificantes, já que são feitos para atender à demanda das distribuidoras (o chamado mercado cativo), e essas dependem do crescimento da economia. A lista de projetos de grandes empresas no Ibama para licenciar parques eólicos offshore (em alto-mar) não para de crescer, antes mesmo da aprovação de um marco regulatório para o setor.
O que não significa que os empreendimentos em terra serão abandonados. A tecnologia eólica é tão atraente que até a gigante Petrobras tem planos de voltar ao setor, inicialmente, em terra. Os projetos de parques eólicos e solares em terra vão absorver US$ 5,5 bilhões dos US$ 100 bilhões totais previstos no Plano Estratégico 2024-2028 da estatal, e os primeiros projetos já devem sair neste ano, segundo o diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras, Maurício Tolmasquim, um dos responsáveis pela expansão da fonte quando estava à frente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). O que vai mais rápido, onde está o grosso do investimento do PE (Plano Estratégico 2024-2028) é em solar e eólica onshore.
A estatal, porém, está chegando atrasada na corrida eólica, implantada no Brasil em leilões e no mercado livre por empresas privadas desde 2009, e onde se destacam empresas como Enel, Neoenergia e Eletrobras. Por meio da Enel Green Power, a italiana Enel é atualmente uma das maiores operadoras de usinas eólicas e solares do Brasil. Possui mais de 5 mil MW de capacidade instalada de energia renovável, sendo metade de fonte eólica. Entre os projetos da empresa, está o complexo Lagoa dos Ventos, no Piauí, de 1 mil MW, o maior parque eólico atualmente em operação na América Latina. Nos últimos anos, o Brasil tem sido parte importante dessa jornada, cujo desafio principal é acelerar a descarbonização das atividades com base em fontes limpas de energia.
A espanhola Iberdrola, por meio da Neoenergia, já construiu 44 parques eólicos no Brasil, todos em operação, com capacidade instalada de 1,55 mil MW, e não pretende recuar. Com a brasileira Prumo, tem intenção de produzir hidrogênio verde no Porto do Açu (RJ), a partir da geração de energia eólica offshore. O Brasil tem recursos naturais diferenciados para a geração eólica e, hoje, tem uma indústria potente e madura. A Eletrobras, até o terceiro trimestre do ano passado, contava com 714 MW instalados em 43 parques, e está implantando o Parque Eólico Coxilha Negra, no município de Santana do Livramento (RS), com investimentos estimados em mais de R$ 2 bilhões. O parque terá capacidade instalada de 302,4 MW, energia suficiente para o atendimento de 1,5 milhão de consumidores.
As obras foram iniciadas em agosto de 2022 e o início da operação está previsto para ocorrer ainda em 2024. Com 72 aerogeradores em área total de 8.644 hectares, Coxilha Negra também vai contribuir para o desenvolvimento socioeconômico da região, destaca a companhia, já que, para a viabilização do projeto, estão sendo construídos 100 Km de novos acessos, além da revitalização de outros 56 Km de estradas. O empreendimento reúne desenvolvimento socioeconômico na região e geração de energia limpa. A expansão das fontes renováveis, além da eólica, a solar também tem ganhado bastante espaço no Brasil, é importante por pelo menos dois motivos. O primeiro é a questão ambiental, já que essas são fontes consideradas “limpas”, em um momento em que o mundo passa por um acelerado processo de descarbonização, com a urgência dos problemas provocados pelo aquecimento global.
O segundo é econômico. Uma boa oferta de fontes limpas de energia pode ser um poderoso atrativo para investimentos de empresas que buscam reduzir suas emissões de carbono na atmosfera, pressionadas por acionistas e consumidores cada vez mais preocupados com os problemas climáticos. Além disso, as fontes renováveis também têm se provado, nos últimos anos, mais baratas do que as fontes tradicionais. No leilão de energia nova (de usinas que entrarão em operação a partir de 2027) realizado em outubro de 2022 pela Aneel, as usinas solares e eólica conseguiram oferecer energia a menos de R$ 180,00 por megawatt/hora, enquanto usinas a biomassa tiveram preço de R$ 211,00 por MWh e as hidrelétricas, de quase R$ 280,00 por MWh. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.