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08/Jan/2024

Investimentos no agronegócio desaceleram em 2024

A expectativa de uma menor safra de grãos neste ano somada à conjuntura de preços não tão remuneradores das commodities e juros ainda elevados devem levar à desaceleração nos investimentos do agronegócio. Os produtores rurais tendem a manter a cautela nos investimentos neste ano, sobretudo em bens de capital, sem aportes expressivos, mas em níveis semelhantes ao realizado no ano passado. Do lado das agroindústrias, o custo do capital será determinante para a definição de novos investimentos, além da avaliação sobre as modificações nos incentivos estaduais em virtude da reforma tributária. A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) prevê estabilidade na venda de máquinas e equipamentos agrícolas neste ano, mas o nível de juros e os reflexos do El Niño sobre a safra de grãos influenciarão o apetite do produtor, segundo a Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA) da Abimaq.

Além dos efeitos climáticos sobre a safra, os juros também continuam no radar do mercado de máquinas, com a expectativa de redução na taxa básica de juros (Selic). Entretanto, juros mais baixos tendem a se refletir no mercado apenas no 2º semestre, com o lançamento das linhas de crédito do Plano Safra 2024/2025, já que o atual Plano 2023/2024, que se estende até 30 de junho, está com as taxas determinadas. Hoje, mesmo com a queda, os juros seguem na casa de dois dígitos, o que encarecem os investimentos de longo prazo, como em bens de capitais. A tendência é de um maior nível de investimentos em armazenagem, a depender também do resultado final da safra de grãos 2023/2024. Com a queda do custo de produção, o produtor tende a ter maior rentabilidade e retomar aos poucos os investimentos. O receio da troca de governo que permeou o ano passado também já passou.

Agora, novos recursos para armazenagem e a tomada de financiamentos vão depender do desenvolvimento da safra, se haverá recuperação ou o tamanho das perdas. Mesmo menor, a safra ainda será robusta e a capacidade de armazenagem continua baixa. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) projeta um cenário de menor rentabilidade dos produtores decorrente do ano passado e de preços não tão atrativos, sem espaço para aumento expressivo das cotações. Essa conjuntura reforça o contexto menos promissor para os investimentos puxados pelo setor. No Centro-Oeste, cooperativas, como a Comigo, seguram os aportes que seriam feitos neste ano em virtude das incertezas com a safra, com o câmbio e com a instabilidade dos preços dos grãos. A Comigo vinha investindo aproximadamente R$ 200 milhões por ano desde 2019 em revendas de insumos e em armazéns, mas, para este ano, não vai direcionar recursos às estruturas.

Os preços dos grãos caíram muito, o que derrubou a margem do produtor e a capacidade do investimento. O mesmo acontece com a cooperativa. É um ano que exige cautela e análise de cada passo, porque com juros altos é impagável buscar recursos no mercado, portanto, é necessário capacidade de recursos próprios para os projetos, segundo a cooperativa. O único projeto estudado pela Comigo é de uma indústria de processamento de soja, que exigirá R$ 1,2 bilhão ao longo de dois anos de construção, mas que terá sua realização atrelada aos incentivos fiscais do Estado. No Paraná, a Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) observa que a decisão final sobre os investimentos deve ser tomada pelas cooperativas ainda nos primeiros meses deste ano. Para os próximos cinco anos, a Ocepar prevê aporte de R$ 30 bilhões pelas cooperativas paranaenses, mas a concretização está sujeita às condições de mercado.

No ano passado, as cooperativas do Estado investiram R$ 6,5 bilhões nas agroindústrias, dos quais R$ 1,5 bilhão para armazenagem de grãos. Uma das cooperativas que quer reforçar o caixa, diminuir o endividamento e se preparar financeiramente para momentos adversos é a Lar Cooperativa Agroindustrial, de Medianeira. De 2020 a 2022, a Lar investiu em média R$ 800 milhões por ano nas suas estruturas. No ano passado, aportou R$ 650 milhões e neste ano deve reduzir a cifra para R$ 500 milhões para uma nova unidade de recepção de grãos. Os números do Plano Safra 2023/2024 retratam essa realidade. Nos primeiros seis meses, de julho a dezembro de 2023, o valor desembolsado nas linhas de crédito para investimento agropecuário diminuiu 11,6%, para R$ 54,437 bilhões, de acordo com dados atualizados do Sistema de Operações do Crédito Rural e do Proagro (Sicor) do Banco Central. O Plano Safra 2023/2024 prevê um total de R$ 92,1 bilhões para operações de investimento, de 1º de julho do ano passado a 30 de junho deste ano. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.