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05/Oct/2023

Fertilizantes: Unigel enfrentando cenário desafiador

A Unigel entra em nova fase de sua reestruturação financeira ao deixar de honrar o pagamento de US$ 26 milhões em juro de sua maior e principal dívida, de mais de US$ 530 milhões em títulos de dívida (bonds) que vencem em 2026. O movimento sinaliza que, além de insolvente, a queda de braço com esses credores pode ficar mais dura e coloca em perspectiva inclusive a possibilidade de uma recuperação judicial ou uma mediação. A companhia tem 30 dias para resolver esse impasse, prazo previsto no contrato dos bonds para que a empresa pague, sob o risco de ter essa dívida executada. Essa não é, entretanto, a alternativa trabalhada nesse momento. Fontes próximas à questão afirmam que a busca é por uma solução "pacífica" e "construtiva" e que, tampouco a companhia tenha uma saída via justiça como objetivo. Para isso, a Unigel está apresentando aos credores um plano de readequação do fluxo de dívidas com sua capacidade de geração de caixa e 18 fábricas como garantia. A empresa negocia também com debenturistas, dois bancos e paralelamente com a Petrobras, que tem contratos de arrendamento de fábricas de fertilizantes com a Unigel em Sergipe e na Bahia.

Existem conversas com a estatal para que se encontre um equilíbrio financeiro nesses contratos, uma vez que estão baseados no preço do gás, que dobrou. O tempo é curto para a Unigel, diante dos gargalos em suas receitas e da quase impossibilidade de estender esse prazo. Uma das fontes que participa das negociações explica que seria necessária a adesão de 100% dos bondholders para ampliar para além dos 30 dias o período de cura. A empresa optou por não pagar o juro porque já existem conversas para reestruturação em curso. Muitos desses bonds já estão em mãos de fundos especializados em situações problemáticas, que compram os papéis quando percebem risco de insolvência e os vendem quando a dívida está ajustada. Eles são maioria e tendem a buscar soluções a partir das quais possam extrair maior valor em toda a operação. São fundos de que um custo de capital elevado, porque fazem investimentos de alto risco. O grupo de debenturistas carrega o equivalente a pouco mais de US$ 100 milhões em créditos contra a empresa. A Unigel tem pouca dívida com bancos, cerca de US$ 35 milhões, a maioria com Caixa Econômica Federal.

A empresa foi pega no contrapé da queda dos preços das commodities de químicos e em projetos que ficaram inacabados, entre eles uma planta de hidrogênio que precisa de um investimento de US$ 1 bilhão. O Citi foi contratado para buscar um investidor para a operação, mas provavelmente esse é um assunto com desfecho posterior à renegociação de suas dívidas. A companhia também precisa realizar investimentos adicionais da ordem de US$ 20 milhões em uma fábrica de aço sulfúrico. A Unigel, que é uma das maiores empresas do setor químico e principal produtora nacional de fertilizantes nitrogenados na América Latina, vive um cenário de forte pressão macroeconômica, em meio a um período de baixa do ciclo petroquímico. Ao mesmo tempo, a companhia enfrenta problemas na sua divisão de negócios em fertilizantes. É esperado que a empresa apresente um Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) negativo para o ano de 2023. A Unigel apurou R$ 104 milhões em Ebitda nos três primeiros meses de 2023, valor 81% menor na comparação com o mesmo intervalo em 2022, quando a empresa havia obtido R$ 568 milhões.

A maior pressão que a empresa tem enfrentado em suas margens envolve, sobretudo, o custo do gás natural, um importante insumo para a produção de ureia, ao mesmo tempo em que os preços de venda da ureia apresentaram recuo. Em 2022, a ureia se aproximou da faixa de US$ 1.000,00 por tonelada enquanto a mesma quantidade do produto atualmente é negociada por US$ 400,00 por tonelada. O gás natural, por sua vez, também registrou picos de alta durante o início deste ano e o período de junho e julho, avaliou a StoneX. A equação ficou mais complexa entre os preços da matéria-prima e os preços de venda dos produtos. Mas, a Unigel está trabalhando junto com os investidores internacionais e locais para acomodar uma solução. Isso é importante para o Brasil. A companhia é responsável pela oferta de cerca de 1 milhão de toneladas de ureia, importante insumo utilizado como fertilizante, ou 11% do consumo brasileiro do produto. Apesar de estar entre as principais produtoras nacionais de fertilizantes, a empresa é pressionada também por preços mais baixos e maiores gastos com matérias-primas.

Em meio a dificuldades, a Unigel chegou a anunciar, no final de junho, a suspensão temporária das atividades de produção de fertilizantes em duas plantas, no Sergipe e na Bahia. As operações foram retomadas em agosto após discreta melhoria do ciclo petroquímico como um todo. Além da pressão nas margens, a empresa também enfrenta dificuldades do ponto de vista competitivo, uma vez que os fertilizantes importados chegam ao Brasil com preços mais baixos e tomam a maior parte do consumo doméstico. Em junho, a Fitch Rating rebaixou a classificação de crédito da Unigel de "B" para "CCC", alertando para aumento no risco de que a empresa não conseguiria honrar as suas obrigações. Para a agência de risco, a alavancagem da petroquímica brasileira pode chegar a até 9,1 vezes em 2023, valor superior ao limite de 3,5 vezes estabelecido como compromisso firmado pela companhia para a obtenção de debêntures.

De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), o problema não se restringe apenas à Unigel, mas também se reflete nos diversos negócios que envolvem o segmento químico. O preço do gás natural no Brasil é quatro vezes mais caro na comparação com mercados como Estados Unidos, Rússia e China. O cenário aumenta a pressão sobre as empresas do setor químico em geral, uma vez que indústrias estrangeiras conseguem produzir tendo acesso às matérias-primas com preços muito mais baixos. Um levantamento feito pela consultoria Argus aponta que houve uma redução de 51,4% no preço internacional do gás durante o acumulado de 2023. Os fertilizantes produzidos no resto do mundo a partir de um gás natural mais barato entram no Brasil com preços muito mais baixos, então a primeira cadeia produtiva que sofreu com este cenário foi a de fertilizantes. Este problema está se disseminando pelo resto do setor químico no Brasil. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.