25/Sep/2023
Depois do anúncio de restrição nas exportações russas de diesel e gasolina, empresas têm reportado a suspensão de carregamentos em portos, o que pode prejudicar o fluxo de diesel para o Brasil, inclusive de cargas já contratadas. Mais do que uma alta geral nos preços internacionais das commodities em função de menor oferta no curto prazo, fica patente a ameaça ao abastecimento de países como o Brasil. No caso do diesel, o Brasil importa mais de 20% do volume que consume. E, como em agosto três a cada quatro litros de diesel trazidos para o País (74%) teve origem russa, alguma escassez de combustível pode ser enfrentada. Ainda assim, a tendência é que o fornecimento russo não demore a se estabilizar, o que vai limitar no tempo os efeitos do decreto do governo russo. A Nimofast, maior importadora de diesel russo para o Brasil, tem contratos de 12 meses com fornecedores russos, um prazo considerado longo, e espera que seu fluxo de produto não deve ser interrompido à frente.
Mas, fontes do mercado se dizem céticas a essa continuidade de fluxo a importadores e distribuidoras brasileiras, por acharem que a proibição de importação com efeito imediato abarca não só o mercado spot (imediato), como cargas contratadas a mais tempo. Segundo essas fontes, não só a Nimofast tem trazido produto russo. Nos últimos meses, pequenos importadores e distribuidores de todos os portes fizeram o mesmo movimento. A Transneft, empresa de transporte e oleodutos estatal da Rússia, reportou a suspensão de embarques em portos, que passam a ficar "fechados" para combustíveis. É o caso do Porto de Primorsk, a maior porta de saída de petróleo e derivados russos no mar Báltico, inclusive para o Brasil. Outro porto na mesma situação é o de Novorossiysk, no Mar Negro, a porta de saída para exportações à Turquia, principal compradora de diesel russo no mundo hoje.
Para o Brasil, outro ponto de escoamento do produto é o Porto de Ust-luga, também no Báltico e sobre o qual ainda não se tem notícia de paralisação da atividade. O mesmo movimento de restrição de saída em portos russos foi verificado pela consultoria Stonex. Segundo a Argus, caso as restrições afetem cargas encomendadas para o Brasil, importadores e distribuidores brasileiros terão de "correr" para antigos fornecedores, do Golfo do México (EUA), comprando mais caro, ou pedir à Petrobras mais volume, o que tende a não ser atendido, já que o fornecimento interno da estatal costuma estar tomado pela carteira de clientes e não teria grande elasticidade no curtíssimo prazo. A Petrobras trabalha com encomendas ancoradas no consumo passado dos clientes, o que praticamente impossibilita destinações inéditas ou aumento repentino nas entregas.
Para efeito de preços, a escalada das referências internacionais, do petróleo bruto e agora do diesel, pressiona a Petrobras por reajustes em seus preços de refinaria ou por mais importações próprias a fim de estabilizar o mercado doméstico. Ainda assim, a estatal afirmou que segue "confortável" com a importação de combustíveis e ainda não ultrapassou os limites de seu túnel de volatilidade para o petróleo. A Petrobras permanece com sua política de suprimir a volatilidade dos preços de curto prazo dos combustíveis, mesmo após a disparada nos preços do barril do tipo Brent. Segundo a Argus, que acompanha o preço efetivo de negociações, o prêmio sobre o preço do petróleo nos portos brasileiros disparou e há recuo por parte dos ofertantes de cargas, que assumiram posição de cautela para avaliar as tendências do mercado no momento.
No dia 20 de setembro, antes do anúncio russo, cargas de diesel eram negociadas no Porto de Paranaguá (PR) com prêmio de R$ 620,00 por metro cúbico sobre o preço Petrobras, usado como referência. Na quinta-feira (21/09), embora não tenha havido negócios, esse prêmio tinha saltado para R$ 1.100,00 por metro cúbico, um aumento de R$ 480,00 por m³ ou 77,4%, equivalente a R$ 0,48 por litro, que afastou compradores. A Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom) calcula que a defasagem entre os preços de refinaria da Petrobras e a referência de importação (PPI) por ela precificada avançou para 17% ou R$ 0,76 por litro no diesel, e 8% ou R$ 0,23 por litro na gasolina. Embora tenham subido na margem, essas defasagens já foram maiores há poucos dias, animadas pelas altas no preço do Brent. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.