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16/Aug/2023

AgroGalaxy divulga resultado do 2º trimestre 2023

A AgroGalaxy, um dos maiores grupos varejistas de insumos agrícolas e serviços voltados ao agronegócio do Brasil, registrou no segundo trimestre deste ano prejuízo líquido ajustado de R$ 257,1 milhões, ampliando em 138,9% o prejuízo líquido ajustado registrado no segundo trimestre do ano passado, de R$ 107,6 milhões. A margem de lucro ajustado, que há um ano havia ficado negativa em 5,5%, no segundo trimestre deste ano ficou negativa em 14%. A receita líquida total da AgroGalaxy no segundo trimestre do ano atingiu R$ 1,832 bilhão, 6,9% abaixo do R$ 1,967 bilhão apurado em igual período do ano passado. A receita de insumos diminuiu 38,7%, para R$ 478,6 milhões, com queda de 47% em preços e aumento de 8% em volume. Já a receita com grãos subiu 14,1%, para R$ 1,353 bilhão. O lucro bruto ajustado atingiu R$ 93,3 milhões no segundo trimestre, queda de 51,6% na comparação anual.

O Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado ficou negativo em R$ 72,5 milhões com margem negativa em 4%, revertendo resultado positivo de R$ 56,3 milhões (com margem de 2,9%) reportados um ano antes. Os resultados foram afetados pela sazonalidade histórica do período e pelo cenário ainda desafiador do mercado brasileiro. A empresa esteve sujeita às turbulências que tiveram origem em 2022, com a invasão russa à Ucrânia, culminando na intensa volatilidade nos preços e ameaça de escassez de fertilizantes em todo mundo e o mesmo ocorreu com alguns defensivos químicos por diferentes razões. Desde o final do ano passado, a empresa antecipou que a volta à normalidade de fornecimento desses insumos e o excesso de estocagem de defensivos químicos no setor levariam a quedas de preços. Essa tendência de queda influenciou o comportamento do produtor, que passou a realizar pedidos muitos mais próximos a seu uso.

Além do ritmo mais lento de vendas dos insumos e da queda dos preços dos produtos, a queda dos preços das commodities levou os produtores a segurarem a comercialização do grão e, consequentemente, atrasarem os pagamentos às distribuidoras. Todos esses fatores afetaram os resultados do 2º trimestre de 2023, mas o faturamento representa menos de 10% do total do ano, historicamente. Outro impacto desfavorável no resultado financeiro do AgroGalaxy veio da taxa Selic, atualmente em patamares elevados, o que foi parcialmente compensado pela melhoria nos custos financeiros repassados aos clientes. Sob o aspecto de estrutura de capital, foi possível fechar o trimestre com robusta posição de caixa, equivalentes e aplicações de R$ 1,4 bilhão e o Retorno Sobre Capital Investido (ROIC) alcançou 17,3% em junho. A AgroGalaxy projeta alcançar receita líquida entre R$ 11 bilhões e R$ 11,3 bilhões no acumulado do ano ante R$ 11,5 bilhões registrados no ano passado.

O Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado da companhia é estimado entre R$ 500 milhões e R$ 550 milhões ao fim do ano, contra R$ 705 milhões reportados em 2022. De janeiro a junho de 2023, a receita líquida da AgroGalaxy recuou 9,7% na comparação anual, para R$ 4,617 bilhões. No mesmo período, o Ebitda ajustado da empresa saiu de R$ 186,6 milhões no primeiro semestre de 2022 para R$ 13,9 milhões negativos na primeira metade deste ano. O ano é desafiador. Os focos para o ano são redução da inadimplência com a realização de campanhas de valorização de grãos em parceria com fornecedores, negativação de clientes e execução de garantias; equalização de estoques e foco em rentabilidade, com captura de sinergias pós-M&As, especificamente em pessoas e processos; concretizar o ramp up das 60 lojas abertas desde 2019, e a otimização do Capex, com redução das aberturas de lojas no curto prazo e adiamento de projetos não prioritários no momento.

A carteira de pedidos da AgroGalaxy no fim do segundo trimestre deste ano somava R$ 2,6 bilhões, 33% menos que em igual período de 2022, quando acumulavam R$ 3,9 bilhões. A queda se deve ao menor ritmo de compras pelos produtores rurais, que adquirem os insumos "da mão para boca", em meio à expectativa de queda de alguns produtos, sobretudo fertilizantes e defensivos, e ao recuo dos preços de adubos e herbicidas. Em contrapartida, os pedidos se aceleraram em relação ao primeiro trimestre deste ano. No período, a carteira da empresa cresceu 27%, o que mostra a aceleração dos pedidos pelos produtores rurais para a próxima safra. No momento em que a umidade começar a chegar mais, o agricultor vai correr para fechar o pacote de insumos. Esse adiamento nas compras pode gerar um risco logístico para a entrega dos fertilizantes para a safra 2023/2024, que começa a ser plantada em setembro, principalmente nas áreas remotas.

Vai chegar um momento em que a empresa ficará impossibilitada de tomar pedidos, mas fertilizantes e sementes estão bastante mais acelerados do que químicos e especialidades. Mesmo com a queda dos preços das commodities, deve haver recomposição no volume aplicado de fertilizantes pelos produtores rurais na próxima temporada, em virtude da queda do custo dos insumos. A relação de troca para o agricultor é muito favorável neste ano e ele tem tudo para fazer uma boa safra. A soja não deve atingir US$ 17,00 por bushel, mas ficará entre US$ 13,00 e US$ 14,00 por bushel, o que permite margem sadia de rentabilidade. Mesmo com o cenário de menor rentabilidade, os produtores tendem a manter o apetite por investimento em especialidades (insumos com maior valor agregado). A empresa vendeu especialidades para o agricultor no início da safra, quando ele começa a sua carteira.

Há apetite por uso de biológicos, porque eles trazem produtividade melhor e com rentabilidade menor, se a especialidade gerar duas ou três sacas a mais por hectare ajuda. Os resultados financeiros da AgroGalaxy no segundo trimestre deste ano refletiram a conjuntura do mercado brasileiro. O resultado não é surpresa. É um ano de ajustes de mercado, tanto ao nível do agricultor quanto de distribuidor/varejista e de fabricante. Este ano tem sido a conclusão do ciclo que iniciou na pandemia de Covid-19, quando as fábricas de ativos pararam e houve uma escalada muito grande dos preços de ativos; alguns podem demorar de um ano a 18 meses a ficarem prontas. Com a retomada da produção, houve uma queda muito grande desses produtos. Ao mesmo tempo, a guerra entre Rússia e Ucrânia gerou uma expectativa muito grande de falta de fertilizantes no mercado no ano passado, o que não aconteceu de fato e influenciou nos preços.

Segundo estimativas da AgroGalaxy, os preços dos herbicidas recuaram até 74% na comparação com o ano passado, enquanto os de fertilizantes cederam 50% na mesma base comparativa. Além da queda das cotações globais, os elevados estoques dos insumos no País contribuíram para a necessidade de ajuste no mercado neste ano, avalia Pascoal. Em químicos, o Brasil encerrou o ano passado com 30% de inventário na mão dos distribuidores, patamar recorde, o que trouxe para o mercado distribuidor a necessidade de voltar ao fornecedor e ajustar os preços a uma realidade mais condizente do mercado e devolver produtos que estavam com excesso de inventário e preço muito alto. Essa tendência de queda influenciou o comportamento do produtor, que passou a realizar os pedidos muitos mais próximos ao período de utilização de insumos.

Somado a este cenário, a queda significativa dos preços das commodities levou os produtores rurais a retardarem a comercialização dos grãos, no caso da soja a mais atrasada em quatro anos, e consequentemente, a atrasarem o pagamento dos insumos às distribuidoras. Em março, o mercado tinha fechado 25% da soja que foi produzida em 2022/2023. Teve um salto maior de março para setembro, onde alcançou por volta de 75% a 78%. Com isso, o agricultor atrasou o pagamento. O segundo trimestre combinou inventário com preços distorcidos e volumes altos, atraso de pagamento por parte do agricultor e ajustes dos preços internacionais. A empresa vem desde o início do primeiro semestre buscando ajustar as estratégias para um ano de ajustes. A AgroGalaxy foi uma das primeiras a ajustar a casa e está totalmente preparada para aproveitar as oportunidades do ano que devem surgir no segundo semestre. Há atraso de 33% em pedidos em carteira até junho, o que deve fazer com que produtores concentrem as compras próximo da entrada da safra.

Historicamente, o segundo trimestre representa cerca de 10% do faturamento anual da empresa. Além dos fatores específicos do mercado de varejo de insumos agrícolas, a taxa Selic elevada, em dois dígitos, pesou sobre os resultados financeiros do grupo no primeiro semestre deste ano, ao elevar as despesas financeiras pelo maior custo da dívida. A redução da Selic deve ajudar positivamente nos gastos financeiros, mas a empresa atua muito forte no nosso capital de giro, o que vai ajudar a reduzir o nível de endividamento. A AgroGalaxy se preparou no primeiro semestre para entrar enxuta para a nova safra, o que permite entrar no segundo semestre, quando acontece o faturamento na ponta, com um nível de estoque muito saudável e custos parecidos ao de mercado. A companhia encerrou o trimestre com inventário de R$ 300 milhões ante R$ 1,6 bilhão reportado ao fim de 2022 e caixa de R$ 1,4 bilhão. É um nível bastante robusto que dá para suportar a entrada da safra.

A conjuntura de elevados estoques de insumos agrícolas, preços menores dos produtos e agricultor retraído na comercialização não se resume ao mercado brasileiro. O produtor ficou aguardando aumento dos preços das commodities, o que gerou uma inadimplência forte no setor como um todo. Isso não afetou somente a distribuição no Brasil. Os resultados globais das grandes companhias distribuidoras de insumos apresentam impacto deste cenário. O mercado de varejo agrícola precisou se ajustar para o segundo semestre do ano. No período, a receita líquida do grupo caiu 6,9%, para R$ 1,832 bilhão, enquanto o seu prejuízo líquido ajustado foi ampliado em 138,9%, para R$ 257,1 milhões. Os resultados foram afetados pela retração dos produtores nas compras, pelo atraso no pagamento pelos agricultores, pelos elevados estoques nas distribuidoras e pela queda nos preços dos insumos (de até 74% nos químicos e 50% nos fertilizantes).

O mercado estava muito cheio de inventários e com custo alto de capital. O problema era da cadeia como um todo. Foi preciso renegociar estoques junto à indústria. O agronegócio é um setor cíclico. O agronegócio continua pujante e crescendo. Será sempre assim: anos excelentes, anos de ajuste e anos de crise. A retração dos produtores na compra antecipada dos insumos deve-se sobretudo aos preços recordes dos grãos na safra anterior e à expectativa dos produtores de que os preços dos insumos possam recuar ainda mais. O produtor está comprando da mão para boca. Há um componente logístico crítico para entrega dos produtos para a safra. A comercialização da soja 2022/2023 está atrasada ante a temporada anterior, com 75% da produção vendida até setembro. Será preciso conviver com preços mais baixos de commodities, a não ser que haja evento drástico no mercado.

Apesar da menor rentabilidade esperada na safra 2023/2024, a temporada ainda trará viabilidade econômica para os produtores rurais. A relação de troca entre soja e insumos está acima da safra 2021/2022, mas favorável em relação à safra 2022/2023. Não se trata de uma questão de inviabilidade econômica, mas de uma questão de volatilidade de preços e de incertezas de mercado, o que faz o produtor segurar a comercialização dos grãos e a fixação da compra dos insumos. De acordo com a AgroGalaxy, na safra 2023/2024 serão necessárias 28,1 sacas de 60 Kg de soja por tonelada de pacote tecnológico de insumos agrícolas, ante 31,8 sacas de 60 Kg de soja da safra 2022/2023 e 23,8 sacas de 60 Kg do ciclo 2021/2022 (referências base Cerrado).

No milho, com a maior queda do preço do cereal, a relação de troca entre o grão e os insumos agrícolas na safra 2023/2024 será desfavorável tanto na comparação com o ciclo 2022/2023 quanto com a temporada 2021/2022. Nos últimos três a quatro meses, a relação de troca tem aumentado. A relação de troca atual é superior à da última safra. Mas, a viabilidade econômica continua, talvez menor do que nas últimas safras, mas ainda é uma indústria rentável com dificuldades temporárias. De acordo com a AgroGalaxy, na safra 2023/2024 serão necessárias 59,8 sacas de 60 Kg de milho por tonelada de pacote tecnológico de insumos agrícolas, contra 53,2 sacas de 60 Kg da safra 2022/2023 e 37,8 sacas de 60 Kg do ciclo 2021/2022 (referências base Cerrado). Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.