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07/Aug/2023

Insumos: distribuidoras ainda enfrentam desafios

O pior já passou para as distribuidoras de insumos que atuam no País, mas os reflexos das turbulências que começaram no início da pandemia, em 2020, e se aprofundaram com a invasão russa na Ucrânia, em fevereiro de 2022, ainda ecoam nos balanços. O cenário tende a se normalizar apenas no ano que vem. É o que esperam executivos de algumas das principais empresas do segmento. Eles preveem maior equilíbrio de estoques, aumento das vendas e recomposição de margens e esperam que o recente recrudescimento da guerra não resulte em novo descarrilamento no ramo de fertilizantes. Este é um ano de ajustes. Na pandemia, os preços de ingredientes ativos de defensivos que o Brasil importa subiram com a paralisação de fábricas na China e depois os fertilizantes mais que dobraram com a invasão russa, elevando os custos agrícolas na safra 2022/2023. No segundo semestre do ano passado, as cotações de grãos (como soja e milho) começaram a cair, bem como a dos insumos, e toda essa situação acabou resultando no crescimento do inventário de agroquímicos, a custos exorbitantes.

Segundo a AgroGalaxy, uma das líderes nesse mercado, com participação de aproximadamente 6%, cerca de 30% do volume ficou parado. Com essa conjunção, no primeiro trimestre do ano a receita líquida da companhia com insumos caiu 6,8% ante o mesmo período de 2022, para R$ 1,6 bilhão, e a receita líquida total teve redução de 11,4%, para R$ 2,8 bilhões. Como também faz originação de grãos, a empresa sofreu duplamente com a queda de preços, que influenciou a capacidade de compra de insumos de seus clientes e a sua própria comercialização de grãos. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado diminuiu 55% na comparação, para R$ 58,6 milhões. Houve prejuízo líquido de R$ 97 milhões e a carteira de pedidos em 31 de março somava R$ 2 bilhões, 41% menos que um ano antes. O balanço do segundo trimestre, divulgado no dia 3 de agosto, ainda reflete uma realidade difícil. Mas, no mês passado, a AgroGalaxy concluiu o processo de renegociação com fornecedores e o seu caixa agora está “saudável”.

Essa condição tem facilitado as conversas com produtores rurais inadimplentes, que cresceram em número na temporada 2022/2023. A hora é de cuidar da organização. O plano anual tem que ser entregue, mas sem agressividade. A empresa é controlada pela gestora Aqua Capital. A XP Research estimou para a AgroGalaxy resultados fracos no segundo trimestre, graças à queda dos preços de fertilizantes e defensivos e ao baixo nível de comercialização, por parte dos produtores, dos grãos da safra 2022/2023 no período. A empresa também atua nas áreas de originação, produção de sementes, armazenagem e prestação de serviços. Boa parte dos esforços para devolver a companhia à estrada que a transformou em uma das principais consolidadoras do segmento nos últimos anos, agora está a cargo de Eron Martins (ex-Lavoro Agro, Adama, Agrex e Grupo Saint-Global). Ele acaba de assumir o cargo de CFO. Em maio, a empresa concluiu a emissão de um Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) no valor de R$ 150 milhões, voltado a financiar seus clientes, o que pode ajudá-la a arredondar os negócios.

Embora descarte novas compras de redes nos próximos meses, o plano é abrir entre 11 e 16 novas lojas até o fim do ano, ampliando uma cadeia que, no fim de março, contava com 167 unidades no País. Uma vez superado o período definido pelo executivo como “ônibus em estrada de terra”, a perspectiva é retomar as aquisições. O ano que vem ainda será difícil, mas há boas companhias no segmento. Mesmo com o acelerado processo de consolidação do mercado brasileiro de revendas de insumos nos últimos anos, liderado por companhias como AgroGalaxy, Lavoro Agro, Belagrícola, Agro Amazônia, Nutrien e Syngenta, entre outras, ainda há cerca de 7,2 mil empresas no segmento, segundo dados da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav). Como a pulverização continua elevada, especialistas afirmam que a tendência é que o movimento de aquisições volte a ganhar força à medida que o cenário se normalizar.

Da mesma forma que a Andav indica a consolidação como uma tendência, também é possível afirmar que há mercado para todos. A projeção é de aproximadamente 900 lojas de distribuição de insumos serão abertas nos próximos três anos, apenas entre o grupo de associados à entidade, que representa mais de 2,7 mil empresas. Com ações listadas na Nasdaq, nos Estados Unidos, 215 distribuidoras no Brasil e na Colômbia no fim de 2022, além de presença no Uruguai, a Lavoro Agro, controlada pelo Pátria Investimentos, também viu os resultados piorarem entre janeiro e março, o terceiro trimestre de seu atual exercício. Mas, acredita que há bons fundamentos que tornam o cenário ainda positivo para o segmento, no qual tornou-se um peso pesado também graças a uma série de aquisições nos últimos anos. De janeiro a março, as vendas consolidadas da companhia caíram 2,6% em relação ao mesmo período do exercício passado, para US$ 486 milhões, sendo US$ 426,5 milhões no “cluster” Brasil, queda de 1,3%.

O Ebitda ajustado recuou 43,5%, para US$ 25,2 milhões, e o resultado líquido ajustado foi negativo em US$ 7,3 milhões, ante lucro líquido de US$ 15,1 milhões um ano antes. O momento é de transição. Foram três ou quatro anos de commodities agrícolas em alta, e agora o ciclo é de preços mais baixos, embora ainda historicamente elevados e rentáveis para o produtor. Junto com isso, há complicações pontuais de curto prazo, que tiveram como consequência o atraso das vendas de soja e milho na safra 2022/2023 por parte dos agricultores e o atraso nas compras de insumos para a safra 2023/2024. Mas não haverá redução de área plantada e o volume de vendas de insumos vai crescer, estima a Lavoro. No Brasil e no mundo, os canais de vendas vêm de um elevado nível de estoques, formados sob o receio de que houvesse falta de produtos, principalmente fertilizantes. A escassez de fertilizantes não aconteceu no País, daí por que os novos ataques da Rússia na Ucrânia preocupam menos o segmento.

A Rússia é um dos principais países exportadores de fertilizantes ao Brasil, que é um dos maiores importadores do mundo. As produtividades das lavouras brasileiras de grãos foram boas em 2022/2023 e, se o El Niño permitir, o ciclo 2023/2024 também ajudará os produtores a pagarem suas contas e a investir. No que tange à Lavoro, que desde maio tem como CFO Julian Garrido Del Val Neto, a captação bruta de US$ 134 milhões com a abertura de capital na Nasdaq, em março, fortaleceu o caixa e ajudou em mais uma aquisição (Cromo Química, em junho). Outro reforço de caixa veio da entrada da companhia americana de propósito específico TPB Acquisition Corporation em seu capital. O modelo de negócios da Lavoro é diferenciado e a expectativa é continuar crescendo. As vendas da divisão de produtos biológicos do grupo, a Crop Care, continuam dobrando ano após ano. No momento, ainda, há uma nova aquisição da Lavoro em análise no Conselho de Administração de Defesa Econômica (Cade): trata-se do controle da Referência Agroinsumos, que conta com nove pontos de distribuição no Rio Grande do Sul.

Alberto Araújo, presidente da Belagrícola, controlada pela chinesa Pengdu, acredita que o mercado voltará ao normal no ano que vem, desde que o clima não seja um problema para a próxima safra de grãos. A empresa, que conta com 56 revendas de insumos no Paraná, em Santa Catarina e em São Paulo, ainda teve que vender, no primeiro semestre, produtos comprados a preços mais elevados no ano passado, mas os novos negócios já estão sendo fechados com produtores a valores mais baixos. A volatilidade no mercado de grãos ainda está muito acentuada, o que afeta tanto o ritmo de comercialização dos produtores quanto as vendas de insumos para a safra 2023/2024. Nesse mercado, as operações de barter (troca de insumos por colheitas futuras) têm grande peso e a instabilidade, que nas últimas semanas refletiu problemas climáticos nos Estados Unidos, atrapalha o fechamento desse tipo de operação.

Mesmo assim, a Belagrícola prevê repetir em 2023 a receita líquida que registrou em 2022 (R$ 8,1 bilhões, 25% provenientes das vendas de insumos). A companhia tem nas operações de grãos a parte mais importante de seu faturamento (a originação deverá atingir 3,1 milhões de toneladas este ano), e conta com uma marca própria de sementes, a Bela Sementes. As turbulências geraram um aumento de inadimplência nas vendas aos produtores rurais, mas esse aumento foi pequeno e as perspectivas são de normalização. Quando o período é de estabilidade, os pagamentos vencidos a mais de 90 dias costumam representar pouco menos de 0,4% das vendas, e esse índice bateu em 1,1% este ano. Na safra 2016/2017, quando o clima foi vilão, o percentual superou 5%. Em boa medida, isso não aconteceu agora porque os produtores vinham de pelo menos três safras de boas margens de lucro. Fonte: Infomoney. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.