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03/Aug/2023

Tecnologia: internet no Programa Norte Conectado

O Programa Norte Conectado, que vai implementar redes de fibra ótica no leito dos rios da Amazônia, passando por 59 cidades, atraiu uma série de empresas de atuação nacional e local na sua primeira fase. Do total de 8 infovias previstas, 2 já estão prontas e foram colocadas a cargo de consórcios que reuniram 12 companhias em cada. Elas receberam, em julho, o aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para assumir as redes, o que irá acontecer nas próximas semanas. O consórcio da Infovia 00 (Macapá a Santarém) reúne Aquamar, BR Digital, Claro, Clickip, MobWire, HTM Telecom, Ozônio Telecom, Sea Telecom, Telefônica, TIM, Você Telecom e Easytech. Por sua vez, o consórcio da Infovia 01 (Santarém a Manaus) conta com Aquamar, BR Digital, Claro, Clickip, Easytech, Manaós, MobWire, Ozônio Telecom, PPLink, Telefônica, TIM e Você Telecom. O que atraiu as empresas foi a possibilidade de fazer a exploração comercial das infovias por meio de uma infraestrutura compartilhada.

Ou seja: não foi necessário cada uma construir sua própria rede na região, o que demanda um investimento alto e desestimula a oferta de internet em cidades do interior. Cada infovia é composta por uma espécie de duto por onde passam cabos de fibra ótica. Metade dos cabos foi destinada para o atendimento de órgãos públicos, como escolas, hospitais, polícia e prefeituras, por exemplo. A outra metade será explorada comercialmente pelas empresas em um contrato válido por 15 anos. A licitação não previu pagamento de outorga. Em vez disso, as empresas ficaram responsáveis pela manutenção das redes, que é um serviço difícil e custoso. São necessárias centrais de atendimento em locais remotos na floresta, além de profissionais com conhecimento técnico e experiência em mergulho. Se houver um rompimento da fibra no leito do rio, o reparo deve ser imediato. Segundo o Ministério das Comunicações (MCom), essas empresas se responsabilizam por operar e manter toda a infraestrutura.

Em troca, têm o direito de uso da fibra. E os agentes da administração pública fazem uso da infraestrutura, mas não integram o consórcio, portanto, não têm custo para seu usufruto. Nas próximas infovias, o modelo de operação ainda será definido pelo Comitê Gestor do Programa, que é liderado pelo ministério. A tendência é replicar a estratégia de consórcios, talvez, com algum ajuste dependendo da experiência observada nas primeiras infovias. Naturalmente, o uso do modelo atual deverá ser apreciado e, caso necessário, até rediscutido, caso haja alguma especificidade. A Claro é uma das operadoras presentes nos dois primeiros consórcios e pretende investir R$ 50 milhões no projeto. O dinheiro vai para o prolongamento da fibra até a casa dos clientes e para lançamento da banda larga em mais cidades, como Santarém (PA), onde ainda não oferece internet fixa por fibra. Em Manaus (AM), maior município da região, a rede aumentará a capacidade de atendimento e servirá de reserva em caso de falhas de outras redes.

O Norte Conectado tem dois vieses. Um: aumentar a robustez das nossas redes que já operam na região. E dois: levar conectividade para onde ainda não existe. O modelo de consórcio é inteligente, pois permite que várias empresas passem a atuar em regiões com poucos habitantes, com cidades isoladas e entrecortadas por rios e florestas, o que dificultava a construção de redes próprias. Não faz sentido que cada uma tenha a sua rede. No consórcio, as participantes dividem o custo em partes iguais. A Claro vai analisar a participação nas próximas infovias. A MobWire, empresa do grupo Alloha, também está nos dois consórcios. Ela é a líder da infovia 00, portanto, responsável pela administração geral do grupo empresarial e contato com as autoridades. A iniciativa está em linha com a visão da empresa de que não é possível fazer inclusão social sem o lado digital. E as infovias servem para aumentar a cobertura na região e ter uma rede com mais capacidade.

A MobWire fornece internet para empresas, inclusive, para provedores locais de pequeno porte. Ela já atua em Macapá (AP) e Santarém (PA), e agora passará a atender também as cidades de Alenquer, Almeirim e Monte Alegre (todas no Pará), por onde passa a infovia 00. A expectativa é de desenvolvimento das economias locais com a chegada da fibra. A partir do momento em que aparece a infraestrutura digital, também se vê a atração de empresas de outros setores, que muitas vezes não abrem negócios nesses locais por falta de internet. Outra grande companhia que se interessou pelo programa foi a TIM. As infovias serão aproveitadas como uma forma de complementar a oferta de conexão à internet e, possivelmente, lançar novos serviços. Na Região Norte, as cidades são mais distantes umas das outras. É mais difícil conectar a população com fibra. E o satélite não garante transmissão de dados com a velocidade, por isso a importância das infovias.

O Brasil acertou em criar uma política pública capaz de atrair empresas para atender uma região que, historicamente, conta com pouco acesso à internet fora das capitais. Não tem como cada empresa construir a sua própria rede em um País tão grande quanto este. Há uma onda de interesse porque o programa vai na linha do que as operadoras já fazem há anos no ambiente privado, que é compartilhar as redes. A TIM foi pioneira na partilha de redes com a Oi e a Vivo, desde 2013. A implantação de cabos de fibra ótica nos rios da Amazônia, por meio do Programa Norte Conectado, une empresas brasileiras e estrangeiras em uma iniciativa que nunca foi realizada nessas proporções em nenhum lugar do mundo. Ao todo, serão 12 mil quilômetros de cabos atravessando os leitos dos rios Negro, Solimões, Puruá, Madeira, Juruá e Branco, ao longo de 59 municípios. Nesta etapa serão construídas três infovias, somando 2,3 mil quilômetros.

A produção dos cabos foi feita em duas fábricas da multinacional chinesa ZTT Cables e levou cinco meses para ficar pronta. Depois, foram mais 50 dias para transportar o material da China até o Porto de Manaus (AM). Este foi o maior projeto de fibra ótica em rios que já visto pela ZTT. O setor de cabos submarinos já é bem desenvolvido no mercado internacional, mas há poucas empresas que fabricam cabos subfluviais, já que os rios têm condições variadas de correnteza, tensão, acidez e sedimentos. Foi um grande desafio, porque foi preciso participar de uma licitação e atender especificações locais. Depois, o desafio foi achar um navio grande o suficiente para levar essa quantidade de fibra, mas que não fosse tão grande a ponto de não poder navegar pelos rios até o Porto de Manaus. Os materiais chegaram nesta semana. Os cabos vêm enrolados em carretéis gigantes. Na sequência acontece o transbordo, quando a fibra é transferida do cargueiro internacional para as balsas que vão lançar os cabos nos rios.

O processo para desenrolar os carretéis com 2,3 mil quilômetros de fios vai levar 26 dias. A partir daí começa outra tarefa com desafios de logística: colocar os cabos nos rios, uma tarefa que também conta com poucos prestadores de serviço especializados. O serviço está a cargo da Navegação Prates, empresa familiar de Iranduba, cidade na margem do Rio Negro vizinha de Manaus. A companhia é da área de transporte fluvial de cargas e já trabalhou com o Exército nas primeiras infovias do País, criadas nos idos de 2015 e 2016. Foi preciso adaptar os equipamentos que lançam os cabos no mar para a realidade dos rios. E agora é necessário estruturar a embarcação para navegar com 60 a 70 pessoas que vão conviver noite e dia. Isso porque o lançamento da fibra nos rios é um trabalho sequencial e ininterrupto, de modo a evitar rompimentos. A balsa vai navegar sem parar o tempo que for necessário para completar os trajetos. A duração varia de 10 a 35 dias, dependendo da extensão das infovias.

Para que o Programa Norte Conectado dê certo, será preciso superar erros de planejamento do passado. Esta é a segunda vez que o poder público aposta em uma iniciativa para levar internet rápida para a região por meio de cabos subfluviais. A primeira tentativa enfrentou muitas dificuldades. O Programa Amazônia Conectada, lançado em 2015 durante o governo Dilma, teve carência de recursos, indefinição sobre a liderança e erros de engenharia e logística, conforme apontou um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU). Entre outros problemas, por exemplo, houve falta de manutenção e demora para reparo nos cabos instalados nos leitos dos rios, deixando a população sem internet. Naquela época, o comitê gestor do programa tinha representantes do Exército, do Ministério da Defesa, do MCTIC e da estatal Telebras. O Exército ficou encarregado de lançar o cabo nos rios, mas a infraestrutura acabou se deteriorando por falta de coordenação entre todas as partes e porque acabou o orçamento, segundo relatório do TCU.

Reformulado no governo Bolsonaro, o programa se transformou numa espécie de parceria público privada. Nas infovias 00 e 01, a implementação foi feita por uma entidade civil chamada Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), ligada ao Ministério das Comunicações (Mcom). Nas infovias 02 a 06, o trabalho será da Entidade Administradora da Faixa (EAF), ligada à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Já a operação fica a cargo de um consórcio de empresas, com direito de explorar a fibra para oferta comercial de internet. Em troca têm de fazer a manutenção da rede. O contrato vale por 15 anos. A colocação dos cabos nos leitos dos rios é diferente do que acontece no oceano. O rio tem correnteza e bancos de areia que mudam constantemente de lugar. Há também muita "sujeira", como galhos de árvore, pedras e sedimentos. Outro ponto é que o rio sobe e desce nas épocas de chuva e seca, o que pode deixar a fibra exposta e vulnerável a furtos.

Para evitar danos aos cabos, Mcom, Anatel e EAF se empenharam no mapeamento dos rios, para entender o curso, o nível da água nas diferentes estações do ano, bem como o trajeto das embarcações. Os projetos anteriores ajudaram no aprendizado, tanto da instalação de cabos subfluviais, quanto de cabos submarinos na costa brasileira. Hoje, usa-se as melhores práticas, afirma o Ministério das Comunicações. São soluções inovadoras e, como toda inovação, decorreu um tempo para sua maturação. Os desafios permanecem quanto aos aspectos técnicos. Por outro lado, houve avanços. Quase dez anos depois do primeiro projeto piloto, há uma experiência acumulada em relação ao levantamento sobre o curso dos rios. A escolha da rota para lançamento do cabo tem como premissa buscar a instalação em profundidades em que o cabo não fique exposto na vazante nem muito profundo na cheia.

Além disso, a rota de navegação comercial também foi estudada para não "trombar" com o local onde os cabos serão depositados. Segundo a EAF, este é um projeto inédito no mundo, o que traz desafios. Há meses, a equipe de operações tem liderado as expedições que fazem o raio-x dos rios onde os cabos serão instalados. As embarcações são transformadas em laboratórios flutuantes, com sonares que mapeiam o leito e servem de orientação para determinar o local exato onde o cabo será acomodado com segurança. O Exército comandou a instalação das primeiras infovias em um trecho de cerca de 800 quilômetros entre Manaus e Coari, no Amazonas, em 2015 e 2016. Foi o primeiro projeto de fibra ótica subfluvial do Brasil. E quando se faz um projeto inédito, se está mais sujeito a ocorrerem falhas. Uma das maiores dificuldades dos primeiros projetos era o custo elevado para consertar o rompimento de cabos. A tarefa exigia envio de mergulhador para levar o cabo à superfície, técnico de telecomunicações para conserto, estoque de equipamentos e deslocamento para zonas remotas.

Um conserto sai por pelo menos R$ 50 mil. É muito caro. O maior gargalo para as empresas que vão assumir não é falta de mão de obra. É o custo. Para a TIM, uma das teles que integra o consórcio responsável pela operação e manutenção das infovias 00 e 01, o programa Norte Conectado está bem organizado para transpor os desafios do passado. A verba de R$ 1,5 bilhão para implementação das redes já foi repassada pelas empresas que participaram do leilão do 5G. Além disso, a política pública está bem definida quanto às obrigações de cada uma das partes. Por fim, existe um acúmulo de experiência e evolução tanto no conhecimento de operação das fibras nos rios quanto da tecnologia. Não é algo trivial. Tem seus riscos. Mas qualquer resposta para se levar conexão para a região vai ter que enfrentar limitações. A internet por satélite, por exemplo, é cara e não oferece a mesma qualidade da fibra. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.