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18/Jul/2023

Energia solar: mobilidade elétrica e hidrogênio verde

Estudo inédito do Portal Solar, franqueador de projetos solares fotovoltaicos, indica que a demanda extra por energia elétrica no Brasil, decorrente da eletrificação da frota de veículos e da produção de hidrogênio verde, pode movimentar o mercado nacional de energia solar em cerca de R$ 2,2 trilhões até 2050. O relatório aponta que a energia solar deve ser protagonista nesse cenário de demanda adicional, que virá nas próximas três décadas para descarbonizar a economia. Os recursos serão necessários para a instalação de mais 540 gigawatts (GW) em sistemas solares fotovoltaicos, sejam centralizados ou distribuídos, bem como a aplicação de baterias para armazenamento energético, levando em conta que toda a geração adicional seria feita pela energia solar. Projetos de eólicas onshore e offshore, no entanto, irão concorrer com a fonte. Embora outras fontes renováveis devam crescer para acompanhar a nova onda de demanda por energia no País, a solar fotovoltaica se configura como uma das mais competitivas e atrativas neste cenário que se avizinha.

O estudo, feito a partir de cruzamento de dados oficiais e projeções de entidades setoriais, órgãos de governo e institutos internacionais, destaca, por exemplo, a queda dos preços de equipamentos fotovoltaicos; a melhora na geração por metro quadrado das placas solares; e os projetos de rápida instalação e de baixo custo da geração descentralizada. Em razão de exigências ambientais, custos de investimentos e possibilidade de geração elétrica próxima ou junto ao local de consumo, a energia solar fotovoltaica se posiciona, portanto, como a tecnologia mais viável para atender esse crescimento de demanda. Diversos fatores em conjunto fizeram com que o mercado de energia solar crescesse 36 mil vezes no Brasil entre 2012 e 2023, saindo de 8 megawatts (MW) para 32 GW de capacidade instalada, potência atingida este mês, colocando a fonte solar fotovoltaica como a segunda maior da matriz elétrica, atrás apenas da hídrica, com aproximadamente 110 GW, em termos de capacidade instalada.

Em termos de carga de energia, a geração eólica representa cerca de 20% da matriz, enquanto a energia solar contribui com uma fatia em torno dos 7%, segundo o Operador Nacional do Sistema (ONS). A resolução normativa 482 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que criou o mercado de geração distribuída, abriu o caminho para que combinação entre a inflação das tarifas de energia e a redução de custos dos equipamentos fotovoltaicos catapultassem o crescimento vertiginoso da energia solar no País. Há também o avanço tecnológico do mercado internacional. Conforme dados da Agência Internacional para as Energias Renováveis (Irena), o preço dos painéis solares caiu 90% no mercado global entre 2010 e 2019. Na última década, esses equipamentos também passaram a gerar 80% mais energia por metro quadrado. Paralelamente, a tarifa média da classe residencial explodiu no Brasil, saindo de R$ 284,67/MWh para R$ 632,62/MWh entre 2013 e 2022, segundo evolução histórica da Aneel, um aumento de mais de 122%.

O estudo elaborado pelo Portal Solar aponta que a transição energética total da atual frota de veículos circulantes do Brasil traria uma demanda adicional de 403 terawatts-hora/ano (TWh/ano), um volume que se aproxima da capacidade total de geração energia elétrica do Sistema Interligado Nacional (SIN) e exigiria o equivalente a cinco novas hidrelétricas de Itaipu. Segundo a Bloomberg New Energy Finance, os veículos elétricos deverão se tornar mais baratos que veículos a combustão por volta de 2027. O ponto de paridade indica o momento em que os fabricantes poderão construir e vender os dois tipos de automóveis com a mesma margem, assumindo que não existam subsídios. As tecnologias de carregamento também avançaram muito. Conforme publicação da Agência Internacional de Energia (IEA), em 2022, mais de 900 mil pontos de carregamentos públicos foram instalados globalmente, representando um crescimento de 55% em relação a 2021.

Atualmente, o país que mais investe nesse mercado é a China. No Brasil, a instalação de eletropostos ainda engatinha, e é considerado o principal gargalo para que o segmento se desenvolva como no resto do mundo. Uma vez que todos os grandes fabricantes automotivos já estão colocando em prática a migração de suas linhas de produção para veículos elétricos, a transição da frota de veículos se torna eminente no mundo, incluindo no Brasil. Segundo a Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), a frota de veículos elétricos do País saltou de 77 mil para 126 mil de 2021 para 2022. A associação reporta também que, no primeiro trimestre de 2023, as vendas cresceram 55% em relação ao mesmo período do ano passado, levando a frota de veículos elétricos para mais de 140 mil carros em circulação. Embora ainda pequeno, esse mercado tem uma curva de crescimento que se assimila à registrada em revoluções tecnológicas anteriores, como nos mercados de chips, internet, smartphones e painéis solares.

Agora, chegou a vez dos veículos elétricos, baterias e hidrogênio verde. Segundo dados do Ministério dos Transportes, da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) e do Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavan) existem aproximadamente 120 milhões de veículos automotores no País, sendo que metade desse total circula nas ruas diariamente. Considerando o cálculo do Portal Solar sobre a energia adicional necessária para a transição energética veicular no Brasil (403 TWh/ano) e o fator de capacidade médio de 17% dos sistemas fotovoltaicos residenciais, isso representará uma necessidade adicional de 270 GW de capacidade instalada na matriz energética brasileira. A maior parte dessa demanda de energia, aproximadamente 75%, virá de ônibus e caminhões, que rodam mais quilômetros por ano e possuem eficiência energética menor, devido ao peso. Os carros representam aproximadamente 17% do total, e as motos menos de 2%.

O estudo destaca ainda, que a demanda por energia no País irá aumentar por uma série de outros fatores além eletrificação da frota de veículos, entre eles o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB); a eletrificação de outros setores, como a indústria; e a produção de hidrogênio verde. A União Europeia vai investir o equivalente a R$ 10,5 bilhões no País para produção de hidrogênio verde, considerado o combustível mais limpo do mundo, porém altamente intensivo em energia. O composto, produzido no processo de eletrólise da água, tem três vezes mais energia que a gasolina e tem atraído a atenção de grandes empresas. Segundo artigo publicado pela McKinsey, o Brasil pode se tornar um dos líderes mundiais na produção de hidrogênio verde, dado seu potencial de energia eólica e solar abundante; um sistema elétrico integrado e de baixo carbono; e uma posição geográfica vantajosa para alcançar a Europa e a costa leste norte-americana; além de uma relevante indústria doméstica.

De acordo com a Secretaria de Hidrogênio Verde (SHV) do Instituto Nacional de Energia Limpa (INEL), a Europa, por exemplo, precisará instalar 3.350 GW de energia renovável para viabilizar a eletrificação e produção de hidrogênio verde, necessárias para atingir a meta de descarbonização até 2050. Porém, a Europa só tem capacidade de instalar 20% desse total e o restante terá que ser importado. Segundo relatório do Portal Solar, se o Brasil quiser atender 10% dessa demanda, teria que instalar 268 GW adicionais de projetos renováveis para a produção de hidrogênio verde e seus derivados nos próximos 27 anos. Este cenário desconsidera a necessidade de investimento para servir ao mercado doméstico, em particular o transporte de carga por caminhões, a siderurgia e outros usos energéticos industriais. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.