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20/Jun/2023

Hidrogênio verde: falta de plano nacional no Brasil

O hidrogênio verde vai se tornar uma commodity nos próximos 10 anos e o Brasil, apesar de ter tudo para liderar a comercialização do novo combustível no mundo, ainda não tem um planejamento nacional para incentivar a produção e exportação do produto. O País está no centro das atenções globais devido à sua matriz elétrica 85% limpa, condição fundamental para a produção do novo combustível. Mas, dos 359 projetos já anunciados no mundo, apenas 1 é no Brasil, em Suape, Pernambuco, segundo levantamento da consultoria A&M Infra. O Brasil está deixando uma oportunidade enorme na mesa e não vai surfar como deveria. Há pouco incentivo do governo e a regulação está uma bagunça. O plano de hidrogênio verde no Brasil não existe.

As iniciativas para projetos no País estão sendo tomadas individualmente pelos Estados, em parceria com empresas privadas, o que pode deixar o Brasil de fora da corrida para abastecer países que não conseguem se descarbonizar, principalmente na Europa, em contraponto a outros países que saíram na frente, com planos bem estruturados pelos governos para desenvolver não apenas a produção, mas também a comercialização e transporte, além de linhas de financiamento e subsídios. A demanda pelo combustível vai ser muito grande. Segundo o estudo da A&M Infra, serão 90 milhões de toneladas por ano no mundo em 2030. Para atender esse consumo, será necessário investir US$ 500 bilhões. E mesmo que todos os projetos que foram oficialmente anunciados saiam do papel, o total da produção soma 60 milhões de toneladas, o que ainda deixa um déficit de 30 milhões de toneladas de oportunidades.

Dos mais de 300 projetos, apenas 5% saíram do papel, e são plantas piloto, que vêm de investimentos em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) e que não estão preocupados com o retorno do investimento. É mais para estudar a tese e tirar benefícios dessa tese, de como funciona todo o processo, que é o que deveria estar sendo feito aqui no Brasil. O Brasil tem sido centro do interesse de países que tem dificuldade de cumprir as suas metas de descarbonização por possuir uma robusta geração de energia renovável, base fundamental para a produção de hidrogênio verde, que é obtido a partir da eletrólise (processo que tira o hidrogênio da água). Para isso, é necessário um grande volume de energia, o que não falta no Brasil, principalmente levando em conta projetos de eólicas offshore, que podem dobrar a geração de energia elétrica no País.

Exemplo disso foi o recente anúncio do Comitê Europeu de investir R$ 10 bilhões em projetos brasileiros de hidrogênio verde. Os países veem necessidade de o Brasil fazer parte disso, mas o Brasil não se estrutura. A Europa tem o senso de urgência do que precisa para se descarbonizar, e quer fazer esse plano de negociação no Brasil, mas vai fazer por meio de empresas privadas. A União Europeia está colocando "os ovos em várias cestas", se aproximando do Brasil e do Chile, mas deve começar com investimentos na África, que fica mais perto, e depois o Sudeste Asiático. O Brasil precisa correr para não ficar de fora do novo negócio, enquanto países como Chile e Austrália vêm se destacado por já terem um planejamento para desenvolver esse mercado.

Os países têm criado seus próprios planos de hidrogênio nacional, como o Chile, que criou um bom plano nacional, a Austrália também. São países que estão se posicionando para de fato trabalhar nessa exportação. Porém, o Brasil não. O Brasil está vendo esse movimento acontecer e fazendo pouco para incentivar. Os Estados Unidos deram um grande passo recentemente, com o anúncio de financiamento de US$ 9,5 bilhões pelo Departamento de Energia para criar hubs de hidrogênio verde no País. Lá, o governo colocou uma vertente de incentivo a hidrogênio verde e já começa a se desenvolver uma indústria. Não estão pensando apenas na commodity, mas no desenvolvimento de tudo que envolve a indústria do hidrogênio verde. O governador do Piauí, Rafael Fonteles, anunciou em suas redes sociais que o Estado terá R$ 50 bilhões em investimentos na produção de hidrogênio verde.

Um dos acordos firmados foi com o grupo espanhol a Solatio Energia, que investirá R$ 30 bilhões em plantas industriais de produção de hidrogênio verde no Piauí. Outros Estados também têm anunciado interesse de iniciar a produção, mas sem detalhar projetos. Em Suape (PE), as parcerias envolvem empresas como a francesa Qair, White Martins, Casa dos Ventos e Neoenergia. Mesmo estando entre os 20 maiores projetos de grande escala, pelo projeto de Suape, o Brasil ainda tem tempo de se estruturar, se houver incentivo governamental, mas, um projeto de hidrogênio verde leva entre 4 e 5 anos. Se demorar mais 2 ou 3 anos para se estruturar, quando a demanda mundial estiver em 90 milhões, daqui a 7 anos, o Brasil vai ter apenas as cinco mil toneladas de Suape, nada representativo. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.