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19/Jun/2023

Gás Natural: oferta nacional é restrita e custosa

No mesmo dia em que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), acusou a Petrobras de negligência por reinjetar grandes volumes de gás natural em campos de petróleo, executivos graduados do setor minimizaram publicamente o potencial gasífero do País. A Petrobras e a Shell no Brasil descartaram a possibilidade de o Brasil basear largamente sua matriz energética no insumo. As razões são o baixo volume relativo de reservas e alto custo de produção. O Brasil não tem tanto gás. É um País petrolífero, não gasífero. É preciso entender isso para não criar frustrações. A Petrobras quer fazer algumas coisas que outros países com muito gás fazem, mas não tem como fazer. A Shell disse que é preciso desmistificar a questão do gás reinjetado no Brasil. Um gás extraído a 250 Km da costa nunca vai ser competitivo. O ministro Alexandre Silveira acusou o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, de negligência por reinjetar gás em campos do pré-sal em vez de trazê-lo para a costa a fim de alimentar a malha nacional de gasodutos.

A alternativa, nas palavras de Silveira, poderia derrubar os preços do insumo usado pelos chamados grandes consumidores em 30%. Era uma resposta a declarações de véspera de Prates sobre a impossibilidade de escalar muito mais a oferta de gás da Petrobras. A estatal reiterou que o gás brasileiro está localizado a uma distância da costa e profundidade muito grandes. Não tem como competir com shale gas dos Estados Unidos, com o gás da Rússia ou com outros de fácil extração. Mas, o Brasil é rico em petróleo, energia eólica, solar e biomassa. No gás, não há disponibilidade. A Shell colocou a disparidade em números: o Brasil tem reservas de gás de 12 Tcf (trilhões de pés cúbicos), enquanto a América do Norte tem 400 Tcf e, a Rússia, mais de 1000 Tcf. Só o campo na divisa do Catar com o Irã tem mais de 900 Tcf. A competitividade do gás brasileiro nunca vai chegar perto de outras regiões. Ambos defenderam que o melhor uso econômico do gás, na maioria das vezes, é mesmo o da reinjeção, por tratar-se de um gás associado a óleo e extraído longe do território.

O gás reinjetado nos campos de petróleo otimizam sua produtividade, ao aumentar a pressão interna dos reservatórios. O pagamento de royalties e participações especiais da produção de óleo bruto despencaria em alguns casos se o foco principal fosse produzir o gás ora reinjetado e 40% do gás reinjetado hoje no Brasil é gás carbônico (CO²), operação com forte benefício ambiental. Outros 40% são de gás que poderia de fato ser utilizado pela indústria em geral, mas tem aplicação econômica na produção de petróleo. Uma fatia de 10% é do Campo de Urucu, no Amazonas, que é reinjetado por falta de mercado próximo e os 10% restantes aguardam o gasoduto da Rota 3 para ser comercializado como insumo energético. A Rota 3 vai escoar 18 mm³/dia, dos quais 15 mm³ secos a partir do ano que vem. Esse gás será produzido nos campos do pré-sal da Bacia de Santos (SP) e entregue no Polo Gaslub da Petrobras, em Itaboraí (RJ). O Brasil tem algum gás, mas não muito. E o gás disponível não é exatamente no preço atrativo. Ainda assim, a Petrobras defendeu o debate sobre a escolha do melhor uso do gás brasileiro: se é a reinjeção, GNV para automóveis, geração elétrica ou aplicações industriais.

Governo e sociedade têm que debater qual é a prioridade. A companhia tem feito o máximo de esforço para reduzir preços e melhorar contratos. A Petrobras foi questionada porque, em maio, havia falado em um choque de gás nos próximos anos devido a entrada na malha nacional de cerca de 50 milhões de metros cúbicos do insumo. Esse volume adicional virá da ativação da Rota 3 em 2024 (15 milhões m³/ dia); do gasoduto BM-C-33 (16 milhões m³/dia), da norueguesa Equinor, a partir de 2028, além das futuras operações da Petrobras em Sergipe Águas Profundas, na Bacia de Sergipe e Alagoas, que devem perfazer mais 18 mm³/dia. Será um choque de oferta dado a nossa quantidade, mas em relação à demanda, não é o suficiente para atender todas as necessidades. Parte desse gás previsto vai substituir fontes que estão caindo e, além disso, esse volume será efetivado de forma escalonada ao longo do tempo. As reservas do Brasil não são grandes comparadas às de outros países produtores. O gás está situado longe da costa e custa caro escoá-lo. Por isso, é importante ter opções e trabalhar com a realidade. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.