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13/Jun/2023

Máquinas: setor otimista com o “Mais Alimentos”

A indústria de máquinas agrícolas vê com bons olhos a iniciativa do governo federal de retomar o Programa Mais Alimentos, voltado à venda de equipamentos para a agricultura familiar. A expectativa é de que o programa ofereça condições adequadas aos pequenos produtores para viabilizar o investimento em maquinário, como maior prazo de financiamento. Montadoras avaliam que o programa, se for ofertado com vantagens competitivas, pode fomentar as vendas destes equipamentos já neste ano. O governo sinaliza que a reedição do programa, criado em 2008 durante o segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deve manter a tradição de condições mais atrativas aos pequenos produtores, adequadas às particularidades do segmento, mas ainda não forneceu detalhes. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) apresentaram no fim de maio a minuta do decreto que institui o programa para a indústria de máquinas e afirmaram, na ocasião, que se trata de política de incentivo à produção e ao acesso de máquinas para a agricultura familiar.

Estima-se que seriam contemplados pelo programa tratores de baixa potência (de 50 a 80 cavalos), que giram entre R$ 180 mil e R$ 280 mil com cabine e tecnologia embarcada, e colheitadeiras de classe II, em torno de R$ 700 mil. Na primeira versão do Mais Alimentos, foram comercializados mais de 80 mil tratores, sobretudo de 80 cavalos. O programa está previsto para ser lançado juntamente com o Plano Safra 2023/2024, o que deve ocorrer nas próximas três semanas. A Case IH, fabricante de máquinas agrícolas do grupo CNH Industrial, que participou da primeira versão do programa, espera que a linha volte a ter condições especiais para os pequenos produtores, como prazo mínimo de dez anos para pagamento (hoje é de sete anos), carência de dois anos, seguro em caso de frustração de safra e maior subsídio às taxas de juros. O Mais Alimentos ajuda o pequeno produtor e a fomentar as vendas de tratores de baixa potência se vier com juros mais competitivos. No passado, o programa foi um sucesso porque teve muito aporte, carência e prazo prolongado.

O que realmente importa para o pequeno produtor é o valor da parcela, portanto, um prazo maior de financiamento é necessário. Para a viabilização do programa é fundamental que haja seguro para cobertura da parcela do produtor rural em caso de frustração de safra a fim de evitar a sua inadimplência e comprometimento de crédito. Outro fator que hoje trava o acesso do produtor é o fato de que ele não tem muitas garantias para dar ou uma terra pequena para dar como garantia, a qual os bancos exigem. Por isso, um seguro de produto que realmente pague a prestação se o produtor não conseguir por quebra de safra ajudaria a fomentar as vendas para esses pequenos agricultores. A Case IH refuta as possibilidades cogitadas de inclusão na linha apenas de máquinas sem tecnologia embarcada, com argumento do governo de que encarecem os produtos. Hoje, os equipamentos de baixa potência saem de fábrica com modem 4G e conectados com tecnologias de monitoramento e acompanhamento. Tirar a tecnologia seria retroceder e perder produtividade, performance e rentabilidade.

O AGCO Finance, banco de fábrica voltado às marcas do grupo, espera que o Mais Alimentos corrija um dos atuais detratores das vendas de máquinas a pequenos produtores, o limite do Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) Investimento de financiamento de no máximo R$ 200 mil por produtor. A expectativa é de que o governo consiga com o programa ter condição de atender o pequeno produtor com os equipamentos que já existem para esse público. Hoje, há muitos equipamentos para agricultura familiar com valor superior a R$ 200 mil e o produtor não consegue financiar 100% porque ultrapassa o limite. O governo deveria melhorar o limite individual do valor financiado. A Massey Ferguson, marca de máquinas agrícolas do grupo AGCO, também pretende participar ativamente do programa e espera ver recursos maiores direcionados ao investimento pela agricultura familiar no Plano Safra 2023/2024. Embora exista hoje no mercado uma gama de produtos voltados à agropecuária de pequeno porte, há dificuldade de acesso pelo produtor rural às linhas de financiamento.

As marcas precisarão estar, cada vez mais, próximas dos agricultores familiares e criar mecanismos de vendas a eles. Talvez seja o distanciamento das linhas de crédito que não possibilita que os agricultores familiares já façam este tipo de investimento. Na mesma linha, a New Holland Agriculture, do grupo CNH, pondera que o pequeno produtor é o mais afetado nos momentos de restrição de crédito. Ele é muito dependente desse crédito e do aporte por parte do governo para fazer o desenvolvimento da sua agricultura. Os fabricantes são unânimes em afirmar que o Mais Alimentos, se retomar as condições mais competitivas aos pequenos produtores, deve fomentar as vendas dos equipamentos de pequeno porte. Os executivos evitam projetar o tamanho do eventual incremento do mercado, mas estimam impacto já neste ano, em percentual ainda a ser calculado quando as bases do programa forem conhecidas. Se for confirmado, o programa pode contribuir para a retomada da comercialização destes equipamentos.

No primeiro quadrimestre deste ano, as vendas de tratores de baixa potência, os contemplados pelo Mais Alimentos, recuaram 5% ante igual período do ano passado. O programa não atende à grande massa dos produtores grandes, mas atende à massa da quantidade de pequenos produtores, portanto, olhando em volume, pode haver aumento, mas o faturamento é bem menor, observou a Case IH. Para a Massey, o aumento das vendas deste tipo de equipamento dependerá das condições ofertadas. O investimento pode ser barrado em uma taxa de juros que fique fora das condições de pagamento do agricultor ou até num limite de investimento que não possa suportar a compra de uma máquina agrícola. Primeiro, é preciso conhecer qual será a base do programa, mas efetivamente tende a ter impacto no mercado de máquinas de baixa potência, de 50 a 100 a cavalos. O plano pode incentivar também as indústrias a ampliarem a gama de produtos de menor porte ofertadas no mercado. Hoje, por exemplo, colheitadeiras de classe II são comercializadas no País apenas pela Yanmar, marca japonesa que importa os equipamentos.

Geralmente, a agricultura familiar não tem capacidade de realizar investimento em colheitadeira e utiliza colheita terceirizada. Mas, há planos de trazer colhedoras de menor porte para poder também participar desse nicho de mercado para o pequeno agricultor. É um nicho ainda pouco explorado no Brasil pelas fabricantes e de um segmento estratégico porque, independentemente do Mais Alimentos, essa agricultura em algum momento vai demandar esse tipo de máquina. A Case IH considera que seria importante o programa incluir colheitadeiras das classes quatro até a cinco. Para o pequeno produtor, de cinco a dez alqueires, a compra de uma máquina de classe menor, dois ou três, não viabiliza o investimento da máquina. Ele geralmente compra em sistema cooperativado ou para prestação de serviço, por isso, neste caso uma colheitadeira maior seria mais interessante. A New Holland, por sua vez, cogita trazer ao Brasil tratores abaixo de 50 cavalos, com os quais opera em outros mercados, caso o Mais Alimentos se torne viável e demande maior variedade de equipamentos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.