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15/Mai/2023

Boa Safra Sementes: resultado do 1º trimestre/2023

A Boa Safra Sementes reportou prejuízo líquido de R$ 13,58 milhões no primeiro trimestre, ante prejuízo de R$ 7 milhões em igual período de 2022. O prejuízo bruto passou de R$ 10,28 milhões para R$ 25,18 milhões na mesma base de comparação. A receita operacional líquida atingiu R$ 115,81 milhões no primeiro trimestre, aumento de 55,4% ante os três primeiros meses do ano passado. O Ebitda ficou negativo em R$ 32,09 milhões entre janeiro e março, contra um Ebitda negativo de R$ 16,3 milhões observado um ano antes. A empresa informou ter registrado crescimento de 21,2% no número de pedidos em comparação ao ano passado. Foram R$ 900,5 milhões em contratos de venda que se referem a solicitações feitas agora, para serem entregues e faturadas no segundo semestre. Do total, 96% dos pedidos foram de sementes de soja com biotecnologia embarcada, um aumento de 5% em relação a 2022.

A empresa começou o ano com capacidade de investimento superior a R$ 600 milhões para atender às oportunidades de crescimento da Boa Safra. No primeiro semestre, são realizadas a produção e o armazenamento das sementes, o que implica concentração de custos. No segundo semestre, quando os agricultores começam o plantio, a companhia gera quase todo faturamento de sementes. Na comparação do LTM (Last Twelve Months, últimos 12 meses) encerrado no primeiro trimestre de 2023 com o finalizado no primeiro trimestre de 2022, a receita operacional líquida cresceu 64%, e o lucro líquido aumentou 36,4%. A venda de estoques de grãos da Boa Safra a um valor mais baixo em virtude da queda dos preços das commodities afetou o resultado da empresa no primeiro trimestre, disse o diretor financeiro e de relações com investidores da Boa Safra.

A empresa tinha muito estoque de grãos no fechamento de dezembro, e acabou vendendo no primeiro trimestre de 2023. Como o negócio de grãos tem margem próxima de zero, ele teve impacto negativo. A carteira de pedidos recorde de R$ 900 milhões, 21% maior do que em igual trimestre de 2022, só influencia no resultado no segundo semestre, quando as sementes são entregues para os produtores para serem plantadas. Acaba tendo esse impacto contábil. O aumento nos pedidos veio apesar de um cenário em que produtores protelaram a decisão de compra de insumos em consequência de adiarem a decisão de venda da soja. Há atraso na compra de insumos. E, mesmo com esse atraso, a empresa está aumentando a carteira mais do que a capacidade instalada, porque tem aumento de volume e de preço. A empresa atingiu percentual recorde de sementes com biotecnologia, de maior valor agregado, dentro da carteira, de 96%. E 10% disso são com as novas biotecnologias de terceira geração. No ano passado, eram 3%.

A decisão do produtor de adiar compras não significa menor intenção de semeadura. A área vai ser plantada, só que ele está demorando para a vender a soja e vai demorar a ter dinheiro para fazer os pedidos. É uma questão que toda a indústria de insumos está sofrendo, fertilizantes e defensivos também. Como no ano passado a empresa atingiu níveis recordes de germinação e vigor, deve se beneficiar da busca incessante do produtor por produtividade. O produtor está cada vez mais tecnológico. Ele consegue ganhar dinheiro tendo mais produtividade, e a semente tem participação fundamental nisso. Sobre o efeito das quedas dos preços das commodities nos resultados da Boa Safra nos próximos trimestres, o pico da colheita de soja no Brasil influenciou nos prêmios negativos no Brasil, mas que, encerrada a retirada dos grãos, pode haver uma recuperação. Houve basis negativos recordes no Brasil, o País acabou produzindo muito. Mas, quando se olha o supply and demand (os balanços de oferta e demanda) no mundo, as coisas não estão tão folgadas assim. Os níveis de estoque versus consumo ainda são baixos historicamente.

O mercado começa agora a se equalizar do ponto de vista de basis. Essa pressão tende a passar. Do ponto de vista do produtor, fertilizantes e defensivos tiveram queda de preços, o que influencia em relações de troca favoráveis para a safra 2023/2024. A semente é diferente. Como as sementes têm cada vez mais biotecnologia, estão aumentando o seu valor agregado. O componente preço do grão versus preço da semente é menos relevante do que era. É uma dinâmica diferente das sementes em relação ao restante das cadeias de insumos. No passado, o preço de grão e semente de soja tinham relação maior, mas, atualmente, com os royalties de germoplasma e biotecnologia e tratamentos de sementes, as cotações de ambos se descolaram. As oscilações hoje no preço do grão têm impacto muito menor na composição do custo da semente, ainda mais agora com um portfólio com 96% de biotecnologia. A empresa já tem uma carteira de pedidos de sementes de milho com contratos a performar de R$ 51 milhões, referente à Bestway Seeds, adquirida pela empresa no ano passado.

O milho representou 10% da receita líquida no primeiro trimestre, o que reflete a estratégia de ser uma empresa de sementes em geral, não apenas de soja. Destaque para a diversificação nos segmentos de sementes de feijão e forrageiras. A obra da fase 2 da Bestway Seeds em Uberlândia (MG) deve ser concluída perto do fim do primeiro semestre, mas a data deve ser confirmada brevemente. Dos R$ 152 milhões previstos para 2023, a empresa já investiu R$ 61 milhões no primeiro trimestre. A maior parte dos recursos a ser aplicada neste ano vai para projetos brownfield (que já têm produção em andamento). Em ano mais restritivo, com juros mais altos, a empresa buscou alocação de capital mais eficiente. A empresa está trabalhando para entrar em 2024 com capacidade de beneficiamento e armazenagem de 240 mil big bags na soja, ante 200 mil big bags em 2023. Para 2027, o plano é chegar a 360 mil big bags.

Este é um ano mais difícil para financiamentos de longo prazo, mas a empresa já fez um movimento de buscar crédito em 2022 para os investimentos que deve realizar neste ano. A empesa tem aproximadamente R$ 200 milhões de dívida de longo prazo. Boa parte tem taxas prefixadas e abaixo do CDI. O ano de 2023 será mais difícil nos financiamentos longo prazo para o mercado em geral, com custos mais altos e sem tantas linhas disponíveis. Até agora, não se vê muitos incentivos por parte do governo de estar favorecendo os investimentos com taxas atrativas via BNDES ou fundos constitucionais ou por meio dos próprios bancos públicos, Caixa e Banco do Brasil. Apesar do cenário mais desafiador, a empresa está bem posicionada na comparação com o restante do mercado, com destaque para as cotas do Fiagro ainda não vendidas, que somam R$ 138,5 milhões. Isso pode ser oportunidade para diferenciação em relação a outros players em um ano mais difícil, com custo de capital mais alto. Do ponto de vista de crédito de curto prazo, os bancos em geral estão mais restritivos, mas tem ocorrido um movimento de procura de boas contrapartes para exposição de crédito. Estão buscando empresas sólidas, e a Boa Safra é uma delas. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.