15/Mai/2023
A AgroGalaxy, uma das maiores varejistas de insumos agrícolas e serviços voltados ao agronegócio do Brasil, registrou no primeiro trimestre de 2023 prejuízo líquido ajustado de R$ 96,6 milhões, ampliando em 116,1% o prejuízo líquido ajustado registrado no primeiro trimestre de 2022, de R$ 44,7 milhões. A margem de lucro ajustado, que há um ano havia ficado negativa em 1,4%, no primeiro trimestre deste ano ficou negativa em 3,5%. O resultado financeiro seguiu afetado pelo CDI em patamares elevados, mas melhorou o repasse de custos financeiros de produtos vendidos a prazo aos clientes, amenizando o efeito da Selic. No primeiro trimestre do ano passado, o CDI (que acompanha a Selic) estava em 10,5%, 3% abaixo dos atuais 13,7%. A receita líquida total no primeiro trimestre de 2023 atingiu R$ 2,8 bilhões, 11,4% abaixo dos R$ 3,1 bilhões apurados nos três primeiros meses do ano passado.
A receita de insumos diminuiu 7%, para R$ 1,6 bilhão, mas a participação das especialidades subiu para 8,2%, ante 5,3% no primeiro trimestre de 2022. A receita com bioinsumos aumentou 72% e alcançou R$ 65 milhões no trimestre. O lucro bruto ajustado atingiu R$ 257 milhões, queda de 21% na comparação anual, com margem de 9,2% (contra 10,3% um ano atrás). O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado totalizou R$ 59 milhões, recuo de 55% ante o primeiro trimestre do ano passado, com margem de 2,1% (ante margem de 4,1% um ano antes). O cenário desafiador era esperado. O primeiro trimestre do ano foi afetado por dois efeitos principais: queda nos preços de fertilizantes e herbicidas, com altos estoques de alguns produtos no setor, e o atraso da colheita e comercialização de soja em comparação aos quatro últimos ciclos.
O primeiro ponto levou ao menor faturamento nesse segmento, acompanhado de queda de margens; o segundo, ao aumento do plantio de milho safrinha fora da janela e ao atraso no faturamento de grãos, com consequente deslocamento do recebimento de contas de insumos, que devem ocorrer no segundo trimestre. Parte da queda da receita com a venda de insumos se deve à redução de 6% do volume vendido no primeiro trimestre, na comparação anual, e à diminuição dos preços, de 0,8% na mesma base de comparação. Além disso, a margem de lucro obtida com a comercialização de insumos caiu 3,2% comparando os dois trimestres, de 18,3% para 15,1%. A companhia já iniciou o ano sem estoques de fertilizantes, apenas com algum estoque de defensivo para atender aos produtores em momentos em que há necessidade de pronta entrega. Hoje, o estoque de defensivo é muito menor do que no começo do ano.
A carteira é muito maior do que o estoque, então a exposição em estoque não existe mais. Os estoques de fertilizantes e herbicidas da companhia haviam sido formados quando os preços desses insumos estavam mais altos, mas as vendas ocorreram posteriormente em um período de preços mais baixos. Os estoques mais recentes já vêm sendo formados com custos mais baixos, o que tende a ajudar a empresa a recompor suas margens. Com os novos custos de reposição (de estoques de insumos) e preços na ponta, a carteira entra na normalidade histórica. A empresa perdeu margem no primeiro trimestre e daqui para a frente volta a uma margem de normalidade. No segmento de insumos uma margem "normal" seria ao redor de 18%. Há sazonalidade nos resultados da companhia ao longo do ano. Em 2022, 68% do faturamento da empresa se concentrou no segundo semestre (27% no terceiro trimestre e 44% no quarto) e somente 32% no primeiro semestre.
Na média do período de 2020 a 2022, 71% do faturamento da AgroGalaxy ocorreu no segundo semestre. A carteira de pedidos da AgroGalaxy no fim do primeiro trimestre de 2023 somava R$ 2 bilhões, 41% menos do que em igual período de 2022. A queda se deve ao recuo de preços em fertilizantes e herbicidas e ao adiamento de pedidos por parte de produtores, estimulados pela tendência de queda de preços em alguns segmentos de insumos. Os produtores que vêm adiando a compra de fertilizantes para a próxima safra terão de fazê-lo no segundo trimestre, de modo a receber o produto a tempo do plantio, a partir de setembro. Isso porque a maior parte dos insumos para produção de adubos no País é importada e, além do tempo de importação, é preciso considerar também o prazo para as matérias-primas chegarem às unidades de mistura de fertilizantes e depois às regiões agrícolas.
O número de clientes no primeiro trimestre de 2023 aumentou 28% em comparação a março de 2022, para 29.294, e a receita de insumos por cliente nos últimos 12 meses encerrados em março deste ano cresceu 7,9%, para R$ 258 mil. A perspectiva de preços de insumos agrícolas em 2023 mais baixos do que em 2022 levam a AgroGalaxy a trabalhar com um cenário de menor crescimento da receita no ano, porém com aumento das vendas de especialidades (foliares e insumos biológicos). Tal combinação deve contribuir para a companhia recuperar a margem bruta de lucro ao longo de 2023. Nos planos da AgroGalaxy para o ano estão também controle de despesas para elevar o Ebitda e geração de caixa para pagar dívidas e assim reduzir as despesas financeiras, em um ano de taxas de juros mais elevadas do que em 2022. Esse é o direcionamento para o ano, menos crescimento, melhor mix (de produtos que tragam margens de lucro maiores), mais margem bruta.
A despesa ainda aumenta porque haverá mais lojas, mas controlando bastante a despesa dá para recuperar um pouco disso no Ebitda e conseguir trazer mais lucro líquido. O foco será gestão de caixa, redução de dívida para aumentar lucro líquido. O aumento de margem bruta deve ser observado principalmente no terceiro e no quarto trimestres, períodos do ano nos quais sazonalmente se concentram os maiores percentuais de faturamento da empresa, 71% no segundo semestre, na média do período de 2020 a 2022. Nos últimos 12 meses encerrados em março deste ano, a dívida líquida da AgroGalaxy chegou a R$ 1,847 bilhão, 61,2% superior à contabilizada em março de 2022. Com isso, a relação entre a dívida líquida e o Ebitda ajustado aumentou de 2,3 vezes para 2,9 vezes entre os dois períodos. O Retorno Sobre Capital Investido (Roic) nos 12 meses encerrados em março de 2023 chegou a 21,3%, ante 22,2% um ano antes.
Com a ampliação do prejuízo líquido no primeiro trimestre do ano, ante igual período de 2022, para R$ 96,6 milhões, assim como redução da margem Ebitda Ajustado (de 4,1% para 2,1%) e as margens de lucro ajustadas negativas maiores (de -1,4% para -3,5%), a companhia revisou seu guidance para a abertura de novas lojas em 2023, de 20 a 25 para 15 a 20, de modo a reduzir o montante aplicado em investimentos em novos pontos de venda. A empresa informa que no restante do ano deve adicionar mais 11 a 16 unidades, incluindo a expansão na região da BR-163, em Mato Grosso, onde a empresa já tem equipes contratadas atuando para gerar demanda em 11 dessas localidades. No primeiro trimestre, a AgroGalaxy abriu 4 lojas, estendendo a atuação para o Piauí. Com isso, passou a estar presente em 14 Estados brasileiros com 167 lojas.
Os produtores rurais devem usar em 2023 volume maior de fertilizantes em suas lavouras do que em 2022, após terem reduzido as aplicações no ano passado e usado reservas do solo diante da forte alta dos preços do insumo no período. Há uma tendência de estabilidade nos preços de fertilizantes neste ano. Os preços de adubos, hoje, estão em média 50% mais baixos do que o pico dos valores de 2022. Observa-se também uma queda nos preços de herbicidas, especialmente de glifosato, o que tem levado produtores a adiar compras destes insumos na expectativa de novas baixas ou adquiri-los "da mão para a boca". Isso leva a uma administração muito forte dos estoques. A empresa tomou uma decisão em janeiro de acelerar a saída desses herbicidas, para não ter essa exposição, aproveitando um custo de reposição mais atraente (mais baixo para a companhia repor estoques de herbicidas).
A companhia revisou algumas de suas metas ESG para 2023. Uma das novas metas é elevar em 40% a receita obtida com a venda de bioinsumos em comparação com 2022, chegando a R$ 320 milhões. No primeiro trimestre do ano, a empresa contabilizou receita de R$ 65 milhões com bioinsumos (não inclui fertilizantes organominerais), um incremento de 77% ante o primeiro trimestre de 2022. Ainda em relação a insumos, a AgroGalaxy se propõe a diminuir em 25% a venda de defensivos químicos autorizados no Brasil, mas considerados altamente perigosos pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O alcance destas metas se refletirá na remuneração variável dos colaboradores. Foi citado o plano de aprimorar o geomonitoramento de propriedades de clientes, com foco em biomas prioritários. Para 2023, o objetivo é monitorar 85% das áreas na Amazônia Legal e 50% no Cerrado; em 2024, chegar a 100% na Amazônia Legal e 80% no Cerrado; e em 2025%, em 100% de todos os biomas. Outros compromissos da varejista de insumos para este ano em ESG são lançar um programa de carbono para clientes, treinar 80% dos colaboradores sobre temas relacionados a ESG e alcançar um percentual de 17% de mulheres em posições de liderança. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.