28/Mar/2023
O governo chinês colocou na mesa de negociação para a visita de Estado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Pequim a adesão formal ao projeto da nova Rota da Seda (Belt and Road), lançado por Xi Jinping em 2013. A iniciativa chinesa completa dez anos agora. A participação brasileira, ainda em avaliação, divide opiniões na diplomacia e seria um gesto político a favor da China, num momento de rivalidades e tensões exacerbadas com os Estados Unidos, segundo maior parceiro comercial e principal investidor externo no País. O plano consiste na formação de uma grande rede de infraestrutura, passando por diversos modais de transporte, principalmente portos, rodovias e ferrovias, conectando os continentes para escoamento de produtos.
O projeto começou integrando países do Leste Europeu e da antiga União Soviética. Vizinhos do Brasil integram a lista de 147 países participantes, como Argentina e Chile. A pressão chinesa pelo ingresso do Brasil, maior economia da América Latina, é recorrente. Outros 20 países da região já fazem parte e recebem investimentos chineses em infraestrutura, para conectar as rotas marítimas e terrestres. Desde 2009, a China é o principal parceiro comercial do Brasil, com comércio no ano passado de U$ 150 bilhões. Além de diversificar a pauta de produtos, atualmente ancorada nas commodities, o governo quer atrair mais investimentos chineses em setores estratégicos. O acumulado de investimentos é de cerca de U$ 70 bilhões. Na balança comercial, o saldo é favorável ao Brasil, com US$ 61,8 bilhões.
Integrantes do governo deram declarações conflitantes. O ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial de Lula, afirmou que não haveria problemas na subscrição do governo brasileiro. Principal influenciador de Lula nas relações internacionais, Amorim disse que não vê razão para o Brasil deixar de ingressar na nova roda da seda, nem “dano político” com os norte-americanos. A declaração é vista por embaixadores mais como um movimento político do ex-chanceler. Os resultados práticos a favor do Brasil e as consequências na relação com os Estados Unidos, na avaliação de diplomatas especializados em China, são incertos. Trata-se de um “gesto político” a favor da China. A adesão seria apenas uma “vantagem retórica” para o Brasil e que o País de fato não necessita entrar no projeto para desenvolver a relação com a China.
Além de não ser fundamental para o empresariado brasileiro, o lado chinês é quem mais insiste no ingresso brasileiro, e certamente haverá reação dos Estados Unidos. Em seu primeiro mandato, Lula fez outro gesto importante para a China. Em 2004, durante visita do ex-presidente Hu Jintao a Brasília, Lula reconheceu o status da China como “economia de mercado”, sob resistência e crítica da indústria nacional. Isso submeteria processos antidumping a regras da Organização Mundial do Comércio (OMC). Em contrapartida, a China prometeu privilegiar o Brasil no acesso ao mercado interno. Mas, o status anunciado aos chineses não foi posteriormente confirmado pela Câmara de Comércio Exterior. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.