15/Mar/2023
Ao longo dos dois últimos anos, o mercado mundial de fertilizantes vem enfrentando muitos desafios, tais como a interrupção da cadeia de suprimentos por falta de produto (devido à pandemia de Covid-19), a alta no preço do gás natural, o embargo econômico imposto pela União Europeia e Estados Unidos sobre Belarus (desde 2021) e, já há um ano, o conflito entre a Rússia e a Ucrânia. A consequência desses fatos, sobretudo da guerra no Leste Europeu, foi a valorização dos principais fertilizantes intermediários em importantes regiões de negociação. Assim, o primeiro semestre de 2022 foi especialmente desafiador para agentes brasileiros na aquisição de fertilizantes, devido à importância da Rússia nesse mercado, aos gargalos logísticos e aos mecanismos de pagamentos comerciais, além das incertezas sobre a abrangência dos embargos econômicos do mundo sobre a Rússia. Os preços médios dos fertilizantes intermediários registraram fortes aumentos ao longo do primeiro semestre de 2022 frente ao mesmo período do ano anterior.
No entanto, no final do ano passado, já com a oferta do fertilizante ajustada, observou-se o recuo dos preços médios dos insumos, que voltaram a registrar os patamares de 2021. No norte do Egito, a cotação média da tonelada de ureia no primeiro semestre de 2022 esteve 122% mais cara frente ao mesmo período de 2021. Já em dezembro de 2022, o valor médio do nitrogenado caiu 6,7% frente ao mês anterior, sendo o menor desde agosto de 2021. Para o fosfato negociado no Porto do Mar Báltico, o valor médio da tonelada do MAP (fosfato monoamonio) aumentou 77,9% no primeiro semestre de 2022 frente ao mesmo período de 2021. Em dezembro de 2022, porém, o valor médio do MAP caiu 1,7% em relação ao mês anterior e voltou ao patamar de fevereiro de 2021. A tonelada de cloreto de potássio se valorizou 227,7% no primeiro semestre de 2022 na comparação com o mesmo período de 2021, mas a cotação média no último mês de 2022 ficou 10,2% menor que a de novembro/2022, sendo também a mais baixa desde agosto de 2021.
No Brasil, o cloreto de potássio ficou 150,7% mais caro no primeiro semestre de 2022 em relação ao mesmo período de 2021, enquanto a média em dezembro de 2022 foi a mais baixa desde julho de 2021. Para o MAP, a cotação média desse fosfatado ficou 66,9% mais cara no primeiro semestre de 2022 frente ao mesmo intervalo de 2021. No encerramento de 2022, registrou-se o menor valor desde fevereiro de 2021. É importante relembrar que o Brasil tem grande dependência externa de fertilizantes intermediários. Em 2022 (dados até novembro), a quantidade de fertilizantes no mercado nacional somou 37,72 milhões de toneladas, 11,3% menos que no mesmo período de 2021, sendo que 86% desse volume foi importado, conforme dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). Dentre os principais fertilizantes intermediários importados, destacam-se o cloreto de potássio, que representa, em média, 38% do total importado nos últimos cinco anos (2017-21); seguido pela ureia, com participação de 22%, do MAP, com 14%, do sulfato de amônio, 9%, e do nitrato de amônio, 6%.
Em 2022, em razão do conflito no Leste Europeu a importação de fertilizantes pelo Brasil foi antecipada. Enquanto de 2017 a 2021, pouco mais de 70% do cloreto de potássio adquirido pelo Brasil foi alcançado em setembro, em 2022, as compras se concentraram até julho, quando somaram 71,4%. O Brasil elevou a quantidade de cloreto de potássio adquirida do Canadá, Israel e Alemanha em 2022, mas reduziu as compras da Rússia e de Belarus. Assim, a quantidade de cloreto de potássio importado pelo Brasil do Canadá somou 4,54 milhões de toneladas em 2022, volume 9,1% maior que o de 2021. Alemanha e Israel enviaram 1,25 milhão de toneladas e 1,1 milhão de toneladas do insumo ao Brasil em 2022, com aumentos de 6,3% e de 14,1%, respectivamente, frente a 2021. Por outro lado, a Rússia forneceu 3,1 milhões de toneladas de cloreto de potássio em 2022, queda de 13,7% frente ao ano anterior. Belarus foi responsável por fornecer 1,07 milhão de toneladas do insumo em 2022, menos da metade (queda de expressivos 55,3%) da quantidade do ano anterior.
No caso da ureia, os volumes importados pelo Brasil de Omã e da Nigéria cresceram 27,2% e 44,2%, respectivamente, de 2021 para 2022, enquanto o fornecimento do insumo por parte da Rússia caiu 17,7%. No balanço, a quantidade total de ureia importada pelo Brasil em 2022 foi de 7,17 milhões de toneladas, queda de 7,9% em relação ao ano anterior. Como o Brasil é um grande produtor e exportador de commodities agropecuárias e muito dependente de fertilizantes estrangeiros o cenário internacional recente acende um alerta. Nos últimos 20 anos, a capacidade interna de produção desses insumos evoluiu pouco, e o Plano Nacional de Fertilizantes pode auxiliar na redução da dependência estrangeira. Nesse sentido, a produção nacional de fertilizantes é questão estratégica e precisa ser avaliada com presteza, tendo em vista a definição de como ela será implementada. Complexidades de natureza tanto político-institucional como socioambiental precisam ser tratadas tendo em conta os interesses nacionais num contexto econômico e geopolítico mundial bastante adverso a acordos e sem claras perspectivas de normalização no curto e no médio prazos. Fonte: Mauro Osaki. Cepea.