22/Jul/2022
A soja e o milho são commodities, com suas cotações sendo determinadas internacionalmente e os preços regionais em países exportadores apresentando descontos baseados no custo de transporte do produto até seu acesso ao mercado internacional (portos). Nos países importadores, os preços domésticos terão um prêmio em relação aos preços internacionais com base nos custos logísticos até a região consumidora. Áreas próximas a centros consumidores em países exportadores também podem ter um prêmio. Contudo, não é somente a distância até os portos/regiões de consumo e a qualidade logística que determinam a flutuação dos basis (relação entre o preço doméstico e o preço de referência na bolsa). No curto prazo, é preciso avaliar a sazonalidade das safras e a capacidade de armazenamento. O momento de entrada de safra no mercado tende a pesar sobre os preços domésticos, além de aumentar a demanda por transporte, encarecendo os fretes.
Assim, no caso de falta de armazenagem, os grãos precisam ser comercializados e escoados num momento que não é o mais vantajoso para o produtor, período que costuma ser caracterizado por preços mais pressionados e frete mais alto e, portanto, com um desconto maior. Ao longo dos anos, as condições logísticas melhoraram significativamente no Brasil, o consumo de grãos se aproximou mais de grandes regiões produtoras e a capacidade de armazenamento também se expandiu. Esse conjunto de melhorias elevou o patamar dos basis, havendo uma tendência de reduzir os descontos frente ao preço de referência em bolsa ou mesmo aumentar os prêmios em regiões consumidoras e/ou próximas de portos. Entretanto, no caso da armazenagem, o crescimento da capacidade estática ficou aquém do avanço da produção de soja e milho, situação que limita o poder de escolher o melhor momento de escoamento das safras, resultando em preços mais baixos recebidos pelo produtor.
Alternativas acabam sendo adotadas para se contornar o déficit de capacidade de armazenamento, como o uso de silos-bolsa, ou mesmo a manutenção dos grãos a céu aberto, situação que traz riscos à qualidade do produto estocado. Mesmo com o uso de silo-bolsa, é preciso sempre verificar a sua integridade, uma vez que podem ocorrer furos, prejudicando o produto armazenado. Apesar da falta de capacidade estática em relação à produção combinada de soja e milho no Brasil, não significa que o número de armazéns está estacionado. Pelo contrário, estão sempre sendo incorporadas novas unidades, aumentando a capacidade disponível. Contudo, o crescimento da produção de grãos tem sido ainda mais acelerado, situação que aprofunda a falta de capacidade para se estocar o produto.
Em 2021, no Brasil, a diferença entre a capacidade estática de armazenamento e a produção combinada de soja e milho foi um déficit de 48 milhões de toneladas - o que representou 21,3% da safra de grãos do ano. Destaco que essa falta de capacidade está mal distribuída entre os Estados, com Mato Grosso tendo sido "responsável" por mais de 30 milhões de toneladas desse déficit. Contudo, mesmo dentro do próprio Estado, a distribuição dos armazéns é irregular, havendo regiões que registram superávit em relação à produção de grãos, como a de Rondonópolis, que conta com terminal de transbordo para ferrovia. Os outros Estados da Região Centro-Oeste também tendem a registrar déficit de armazenagem de milho e soja, assim como o MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
Por outro lado, o Sul, que é uma região mais antiga e consolidada de produção de grãos, registrou uma capacidade mais elevada em relação ao que foi produzido de soja e milho em 2021. Mas, novamente, a distribuição dos armazéns dentro dos Estados varia bastante. No Paraná, por exemplo, há superávit de capacidade na região portuária, enquanto o oeste enfrenta déficits. Além disso, períodos de quebra de safra "melhoram" a relação entre produção e capacidade. Considerando que o Brasil tem grande potencial de continuar aumentando a produção de grãos nos próximos anos, uma vez que, além dos ganhos de produtividade, o País conta com áreas disponíveis para a expansão da agricultura, a situação da falta de capacidade estática deve continuar presente, mesmo com a instalação de novos armazéns. Fonte: Ana Luiza Lodi. Broadcast Agro.