29/Jun/2022
Diante da escalada contínua dos preços do combustível no mercado internacional, o diesel vai seguir pressionando as empresas de logística, em especial transportadoras e motoristas autônomos, que estão sem capacidade de repasse integral, e imediato, das altas do petróleo. O problema deve afetar o frete e até limitar o crescimento de setores demandantes. Segundo levantamento do Instituto Ilos, especializado em logística, no ano passado o diesel representou aproximadamente 30% dos custos do transporte rodoviário de carga no Brasil. Para 2022, a estimativa é que esse número atinja em média 36%, recorde da última década. Muitas vezes, a empresa transportadora consegue repassar parcialmente a alta de custo, mas com atraso. As negociações, que costumavam ser feitas uma vez ao ano, passaram a ser mensais, rotineiras. Em setores como o agronegócio, por exemplo, cujo perfil do frete é de longas distâncias, o diesel chega a representar até 55% do custo do transporte rodoviário.
Nas empresas de última milha ("last mile") do varejo, essa fatia costuma girar em torno de 10% (em distâncias curtas) até 30% (nas mais longas). No agro, temos algumas culturas que já estão se deparando com problemas no transporte. A construção civil, que também segue em expansão, já começa a ter problemas. O crescimento da produção desses setores pode enfrentar desafios de logística. Na avaliação da FGV Transportes, o aumento do diesel na bomba não significa necessariamente um gatilho no contrato para reajuste do frete. Os transportadores são os maiores afetados no contexto atual, principalmente motoristas autônomos, que não podem parar de rodar. É difícil mensurar o impacto que esses aumentos causam, muitas vezes não há retorno sobre o frete. Vai chegar um momento em que será impraticável para o caminhoneiro autônomo sair de casa. Nem todos têm capital de giro e linhas de crédito. Endividamento tem limite. Nas negociações sobre frete com os clientes, principalmente grandes embarcadores, o autônomo deve ser o primeiro a perder.
O próximo são os transportadores, que já estão há algum tempo sem reajustar. O problema é que essa situação vai começar a chegar em quem contrata o frete. Já há dificuldades de se fazer orçamento. Quem contrata o frete é mais forte que o transportador, mas há uma preocupação em não quebrar essas empresas. O risco de desabastecimento de diesel no País é mais um agravante para o setor de logística. O mundo todo está sofrendo com a alta dos combustíveis. O Brasil ainda é muito dependente das importações e, em caso de escassez, os preços vão subir mais ainda, e no final das contas é sempre o consumidor que vai pagar mais. A escalada recente do petróleo só evidencia o grave problema de falta de investimentos em infraestrutura que o Brasil enfrenta há décadas. A infraestrutura do País não é condizente com a pujança da economia, sem isso não há crescimento. O País poderia ser muito mais competitivo no setor de grãos, por exemplo, se não dependesse tanto do transporte rodoviário.
É preciso um investimento massivo na integração dos modais. Caminhão é fundamental no País, mas não pode fazer o papel das ferrovias e hidrovias. Isso impacta o crescimento econômico, resultando em um custo logístico altíssimo. O produto vai chegar mais caro na ponta. Não há uma solução de curto e médio prazo para esse problema, e os investimentos não devem se restringir à iniciativa privada. Infraestrutura não se constrói em apenas um mandato, depende de planejamento de longo prazo. Os governos têm que ser responsáveis pela infraestrutura, a iniciativa privada é complementar, até porque as empresas só vão investir no que for de seu interesse. O aumento da taxa de juros impacta os investimentos em eficiência logística, o que agrava o problema para o futuro. Com os transportadores investindo menos em capacidade, haverá um desequilíbrio entre oferta e demanda e as empresas vão buscar quem paga o maior frete. O cenário é de grandes incertezas. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.