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31/Mai/2022

Fertilizantes: riscos de desabastecimento diminuem

Os riscos de desabastecimento de fertilizantes no Brasil diminuíram substancialmente em meio à retomada dos embarques russos a partir de meados de março e abril deste ano e ao ajuste de demanda, tanto no mercado interno quanto externo. De um lado, há recuperação dos embarques e russos e, de outro, há indicação de países que estão comprando adubos neste momento de corte da ordem de 30% na demanda. Houve uma melhora de cenário muito grande ao longo de abril e maio. Entre os players que sinalizam corte na aplicação dos macronutrientes do complexo NPK (nitrogênio, fósforo e potássio), pode-se citar os Estados Unidos, que estão semeando a safra de grãos 2022/2023, e reduziram em 27% a importação de fósforo e produtores indicaram usar 25% menos adubo nas lavouras. Na crise de 2008, última grande crise no mercado global de adubos, os Estados Unidos cortaram o uso de fósforo em 30% e de potássio em 40%.

No Brasil, a safra será plantada a partir de setembro, mas já se observa corte de 25% a 30% no volume de compras, especialmente para potássio e fósforo, porque há determinada fixação no solo de aplicação em anos anteriores. Muito volume já foi comprado com este devido corte. Neste cenário, e com uso mais racional dos adubos, demanda e oferta tendem a se equalizar no País. O expressivo aumento no preço dos fertilizantes também contribui para a decisão de corte dos produtores. Para o cloreto de potássio (KCl), anteriormente a estimava escassez era de 25% a 30% do ativo no País para a safra 2022/2023. Agora, a leitura é de que oferta e demanda tendem a se equalizar. Em relação ao fosfato monoamônico (MAP), a análise é de que pode até ter excedente do ativo no mercado doméstico, com importações acima do esperado, line-ups razoáveis do produto e tendência de redução do uso. Antes, a previsão era de risco concreto de desabastecimento para o nutriente. Para a ureia, a avaliação desde o começo era de que não haveria risco.

No caso do nitrato de amônio (NAM), o risco de falta do produto é inevitável, não somente pela guerra, mas também pelo corte nas exportações russas do ativo. O NAM é menos crítico em termos de volume usado nas lavouras brasileiras e pode ser substituído parcialmente pela ureia. A situação é menos grave. O prejuízo ao abastecimento de adubos do Brasil era uma das principais preocupações do setor produtivo nacional desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, em 24 de fevereiro deste ano. A Rússia é o principal fornecedor destes insumos ao Brasil, respondendo por 22% do adubo importado anualmente pelo País, de aproximadamente 9 milhões de toneladas anuais. Até o fim de abril deste ano, o Brasil continuou recebendo cargas russas de fertilizantes. No mês, 659,767 mil toneladas de adubos russos chegaram ao Brasil, conforme os dados mais recentes do Comextat (serviço de estatísticas de comércio exterior do Brasil) da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). O volume foi 31,4% superior ao reportado em igual mês do ano passado.

No primeiro quadrimestre do ano, o Brasil recebeu 2,448 milhões de toneladas de fertilizantes russos (8,7% menos na comparação anual), de um total importado de 11,194 milhões de toneladas. O menor volume do ano deve-se, em parte, às interrupções pontuais nos embarques logo que a guerra começou. Do montante internalizado da Rússia no ano, 1,015 milhão de toneladas foram de fertilizantes potássicos, 429,594 mil toneladas de nitrogenados e 1,004 milhão de toneladas de adubos contendo dois ou três nutrientes do complexo NPK (nitrogênio, fósforo e potássio). Tanto o volume importado no ano quanto o de abril surpreenderam, porque esperava-se atraso nos embarques. Com exceção da ureia que foi razoavelmente normal (319,52 mil toneladas), o volume de MAP (496,08 mil toneladas) foi muito grande e o de sulfato de amônio (SAM, de 32,3 mil toneladas) e o de Kcl (1,026 milhão de toneladas) também. A maioria dos volumes trata-se de carga adquirida antes do conflito no Leste Europeu e que, em sua grande parte, já estava em trânsito no início da invasão.

Estima-se que as cargas levam cerca de 60 dias da saída da Rússia até o desembaraço nos portos brasileiros. Há pequeno volume, porém, comprado após a eclosão da guerra, quando importadores aceleraram aquisições na tentativa de garantir a disponibilidade dos nutrientes. Havia uma antecipação dos contratos e embarques por parte dos importadores desde janeiro por conta da intensificação das restrições às exportações de Belarus. Quando as tropas russas começaram a avançar sobre o território ucraniano, importadores e exportadores aceleraram os embarques para tirar o material o quanto antes de lá. Neste mês, mesmo em meio à continuidade da guerra, novas remessas saíram da Rússia com destino ao Brasil. Os números de importação do Brasil de maio deste ano devem ser divulgados pela Secex até o décimo dia útil de junho. Line-ups de navios mostram que cerca 300 mil toneladas de fertilizantes da Rússia estavam a caminho do Brasil até o início da segunda quinzena, devendo chegar ao País no fim deste mês e em junho, segundo dados preliminares de embarques.

De repente, surgiram nos line-ups 7 novos navios da Rússia, o que surpreendeu, somando um total de 10. Isso mostra a retomada dos embarques do país, uma recuperação mínima. Tendem a ser novos contratos, são novas aquisições ainda com saída em abril e na segunda semana de maio. Alguns volumes, provavelmente, estavam prontos para embarque com pressão do comprador. Contudo, os dados de line-ups não são estatísticas oficiais, sendo informados voluntariamente pelos embarcadores e, por isso, podem não refletir os volumes totais sendo exportados. A avaliação é que mesmo com a normalização dos embarques, o volume exportado pelo país para o Brasil tende a ser menor na comparação com o ano passado. Se for considerado os dados de line-ups de maio, que provavelmente saíram da Rússia em abril, como a totalidade dos embarques russos e somados aos dados oficiais de março, o volume exportado da Rússia para o Brasil, cerca de 530 mil toneladas, no período pós-guerra foi 56% inferior ao reportado pelo governo russo em março e abril do ano passado, de 1,2 milhão de toneladas de NPK.

Para a safra de verão (1ª safra 2022/2023), plantada a partir de setembro, deve ter entrado bastante volume no País, além de que o line-up está razoavelmente alto. Se a situação for mantida como está, em relação à intensidade do conflito, e se as sanções econômicas à Rússia não forem aprofundadas, os embarques devem se regularizar até o fim do ano. Em meio à percepção do mercado de certa melhora no balanço global entre oferta e demanda de adubos, com menor demanda de fertilizantes por grandes produtores, como os Estados Unidos, e retomada, apesar de lenta, dos embarques russos, os preços internacionais dos adubos operam em trajetória de queda desde o início do mês. A tendência é de que o recuo, observado nas últimas semanas, se acentue no curto e médio prazo. Os nitrogenados devem seguir em queda e podem cair ainda mais em meados de junho e julho. Os fosfatados estão antecipando o recuo, ante previsto para agosto e setembro. Os potássicos devem recuar a partir de junho e julho, com intensificação da queda em agosto e setembro.

De 24 de fevereiro, início da invasão russa ao território ucraniano, ao dia 20 de maio, o preço do cloreto de potássio (KCl) importado aumentou 48%. Na data, o KCl atingiu US$ 1.169,20 por tonelada CFR (custo e frete) em porto no Brasil. O valor da ureia, referência para nitrogenados, avançou 18,4% na mesma base comparativa, para US$ 691,70 por tonelada CFR porto no dia 18 de maio. O fosfato monoâmonico (MAP) subiu 23% na mesma base comparativa, para US$ 1.108,30 por tonelada CFR porto. Apesar do aumento no comparativo com o período pré-guerra, os preços dos três nutrientes recuaram em relação à semana anterior, na ordem de US$ 33,30 por tonelada de KCl, US$ 34,00 por tonelada de MAP e US$ 9,20 por tonelada de ureia. Os produtores brasileiros podem se beneficiar destes preços mais atrativos dos fertilizantes e, consequentemente, melhor relação de troca entre commodity e adubo, ainda para compras para a safra de verão (1ª safra 2022/2023). Quem precisa comprar adubos para 2ª safra de milho de 2023, há espaço para maior queda dos preços. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.