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08/Abr/2022

Fertilizantes: produtor dos EUA recorre ao esterco

Nos Estados Unidos, os agricultores estão em busca de estrume para suas lavouras. Com a escassez global de fertilizantes minerais, agravada pela guerra na Ucrânia, muitos agricultores passaram a buscar o produto. A Natural Fertilizer Services, empresa de gestão de nutrientes de Iowa, confirma que a demanda está aquecida. Mas, não há oferta suficiente para atender à demanda. Alguns criadores de gado de corte e de leite, que antes pagavam pela retirada dos dejetos, encontraram na venda a produtores de grãos um negócio adicional. Empresas de equipamentos que fabricam dispersores de esterco (conhecidos como honeywagons) também têm se beneficiado. O número de agricultores norte-americanos que buscam esterco para temporada de plantio de primavera cresceu, e alguns profissionais de engorda de gado que vendem estrume estão com estoques esgotados até o fim do ano. Segundo a Nutrient Advisors, sediada em Nebraska, o esterco é uma commodity muito procurada atualmente.

A empresa está com listas de espera. Com a escalada vertiginosa dos preços dos fertilizantes industrializados, as áreas de plantio de milho e trigo devem diminuir nesta primavera (de março a junho, no Hemisfério Norte) nos Estados Unidos, de acordo com dados do governo norte-americano. Isso ameaça ainda mais a oferta mundial de alimentos, em um momento em que os estoques de trigo do país estão em seu menor nível em 14 anos e no qual a guerra entre Rússia e Ucrânia desestabiliza as exportações de grãos desses países. Embora o esterco possa substituir parte dos fertilizantes que estão em falta, ele não resolve todos os problemas. Não há oferta suficiente de adubo orgânico para suprir toda a demanda norte-americana de fertilizante mineral. Além disso, o transporte de esterco é caro e os preços dos dejetos estão aumentando, puxados pelo crescimento da demanda.

Além disso, o estrume também é altamente regulamentado pelas autoridades norte-americanas, em parte devido a temores sobre os impactos do uso do material sobre os sistemas de abastecimento de água. Segundo a Universidade de Iowa, os rejeitos podem causar problemas graves se contaminarem os rios, lagos e o lençol freático das proximidades das lavouras. Os pecuaristas afirmam ser difícil cumprir todas as regras do governo sobre o rastreamento da aplicação do esterco. Independentemente dos percalços, a demanda está disparando. A Phinite, sediada na Carolina do Norte, que produz sistemas de secagem de esterco, disse estar recebendo pedidos de produtores de estados tão distantes quanto os de Minnesota, Illinois, Iowa e Indiana. A Smithfield Foods, a maior produtora de carne suína do mundo, observou a mudança nas fazendas de suinocultura que abastecem seus frigoríficos.

Percebe-se que os agricultores mudarem para o esterco por causa do aumento dos preços dos fertilizantes. Os preços começaram a disparar no ano passado, refletindo o aumento da demanda e redução da oferta. Em paralelo, condições climáticas extremas e surtos de Covid-19 desequilibraram as cadeias de suprimentos. A guerra na Ucrânia agravou a situação ao reduzir as exportações de fertilizantes da Rússia e de Belarus, devido a sanções impostas pelo Ocidente e a problemas de transporte marítimo. Isso ameaça encolher as safras no mundo inteiro em uma época de inflação de alimentos recorde. Segundo o Rabobank, Rússia e Belarus responderam por mais de 40% das exportações mundiais de potássio no ano passado, um dos três principais nutrientes usados para aumentar o rendimento das lavouras. Em dados de março, as cotações dos fertilizantes minerais alcançaram uma alta recorde: o preço dos nitrogenados quadruplicaram desde 2020 e os fosfatados e potássicos triplicaram.

Com a disparada da demanda por esterco, os preços seguiram o mesmo curso, gerando lucros inesperados para produtores de gado e fazendas de engorda. Só em Nebraska, os preços de esterco sólido, de boa qualidade, alcançaram de US$ 11,00 a US$ 14,00 por tonelada, patamar bem superior à média, de US$ 5,00 a US$ 8,00 por tonelada. O inverno seco puxou os preços para cima ao diminuir o teor de água no esterco, o que o deixa mais concentrado, e, portanto, mais valioso. A forte demanda também impulsionou o crescimento de empresas de maquinário que fabricam dispersores de esterco sólido, assim como os veículos chamados de “honeywagons”: tanques com rodas que são engatados em caminhões e tratores para transportar e aplicar estrume liquefeito. No Canadá, a Husky Farm Equipment está com os estoques de honeywagons esgotados.

A empresa construiu seu primeiro dispositivo mecânico em 1960, como maneira de tornar a coleta e a dispersão de esterco mais eficientes. Atualmente, a empresa vende diretamente aos agricultores e às revendedoras de maquinário, e não consegue dar conta da demanda. Há muita procura por equipamento para uso imediato e o estoque da empresa está esgotado por seis meses. A Husky vende honeywagons de vários tamanhos. Os tanques maiores são comercializados ao preço médio de US$ 70 mil. A CNH Industrial afirma ter observado firme demanda por seus dispersores em forma de caixa da marca New Holland. Essencialmente é uma caixa de aço que é engatada em um trator para carregar e distribuir esterco sólido. A revendedora de equipamentos do Kansas IanEquip esgotou os estoques de dispersores New Holland, embora os preços tenham dado um salto de 10% em relação ao preço normal de tabela, de US$ 30 mil. A revendedora encomendou 10 máquinas adicionais para atender à demanda.

Mesmo em estados em que grandes rebanhos geram enormes quantidades de esterco, não há volume suficiente para substituir totalmente o fertilizante mineral. Iowa, o maior estado produtor norte-americano de carne suína e milho, já aplica todo o seu esterco nas áreas correspondentes a cerca de 25% de suas áreas de cultivo de milho a cada ano. Em média, Iowa usa cerca de 52,99 bilhões de litros de esterco anualmente. Os agricultores de Iowa poderão absorver mais 3,785 bilhões de litros dos volumes armazenados nos tanques nas propriedades rurais para substituir o fertilizante comercial. Parte do atual problema de abastecimento tem raízes na evolução da economia agrícola dos Estados Unidos. Com a consolidação da criação de animais, há polos geográficos de criação para a produção de ovos, leite ou carne, nos quais é produzido a maior parte do esterco.

Em decorrência disso, em algumas localidades a quantidade de esterco é pequena, enquanto em outros é exageradamente grande, o que os obriga a procurar maneiras de dar um destino a esse esterco. O preço do esterco poderá avançar ainda mais ao longo deste ano, com a redução dos rebanhos de pasto e da criação de aves. O número de suínos nos Estados Unidos caiu para seu nível mais baixo dos últimos cinco anos, em um momento em que os produtores estão às voltas com doenças de suínos e custos crescentes de rações e outros insumos. A gripe aviária, por seu lado, eliminou mais de 22 milhões de frangos e perus das granjas comerciais norte-americanas desde fevereiro. Mas, mesmo criadores de aves duramente atingidos puderam ter algo de útil: suas aves mortas podem passar por compostagem e serem aplicadas como fertilizante, segundo o Departamento de Agricultura e Gestão de Terras de Iowa. Fonte: Valor Online e Reuters. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.