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15/Mar/2022

Fertilizantes: produzir aqui no Brasil ou importar?

A viabilidade de potenciais greenfields, ou sejam, novos projetos de indústrias de fertilizantes precisam ser avaliados sob aspectos técnicos e econômicos. Então, precisamos analisar os três principais itens produzidos e comercializados neste segmento: N, P e K.

Nitrogênio

Para produzir Nitrogênio, precisamos de amônia e, para ter amônia, precisamos de gás, o que não temos, pelo menos não o suficiente. O gás que temos por aqui é caro – custa entre 5 a 10 vezes mais que em países que são grandes produtores. Daí, dá para entender por que a planta de Três Lagoas/MS não tem e provavelmente não será viável economicamente. Até termos uma fonte de gás de baixo custo, teremos dificuldades em produzir Nitrogênio de forma competitiva. Talvez possamos ter com o pré-sal, mas sabemos ter ainda enormes desafios pela frente até entrar em produção. Hoje o Brasil compra parte do Nitrogênio da Rússia e região. Mas pelo Nitrogênio ter uma produção mais pulverizada ao redor do mundo, neste caso o risco é menor.

Fósforo

No caso do Fósforo, temos várias minas em operação, notadamente no centro do país e potenciais áreas a serem exploradas espalhadas pelo território. Mas nossas rochas, geralmente, têm baixa concentração e exigem um processo industrial intenso e de maior custo, como forma de concentrar seu teor de P, já que, a maior parte de nossas rochas tem concentração de 1 digito (até 9%). O Marrocos, como exemplo, tem rochas 8 vezes mais concentradas que as brasileiras e extraídas a céu aberto, com reservas com esgotamento distante dos dias atuais, segundo eles, para centenas de anos, possivelmente um exagero.

Potássio

No caso do Potássio, Rússia, Belarus e Canadá concentram a produção, com baixos custos e excelente logística. Lembro que de 2004 a 2008, a tonelada de potássio vendida para o Brasil foi de US$ 140 a tonelada para US$ 900 a tonelada nos portos brasileiros. Muitos projetos economicamente inviáveis a US$ 140 a tonelada começaram a sair do papel. Percebendo esta movimentação, russos e canadenses derrubaram os preços (dumping) para que os projetos voltassem atrás ou nem saíssem das gavetas.

A mina que tem sido citada na região Amazônica é próxima a Itacoatiara, um porto fluvial de carregamento de soja. A mina é profunda em abaixo do nível do rio Madeira. Sabe-se que o principal desafio em uma mina de profundidade, é inundações. Uma mona a 1000 metros de profundidade, inundada é simplesmente abandonada. Esta luta não será nada diferente por aqui, especialmente em uma mina debaixo do rio Madeira. Então, a pergunta que deve ser feita é: qual será o custo extrair uma tonelada de potássio nesta mina? US$ 500, US$ 600, US$ 1000/tonelada? Com certeza, será muito maior que o custo doas atuais países produtores, que em algum momento no passado era de menos de US$ 100/tonelada.

Expandir a produção nestes países produtores, irá requer investimentos muito menores que um greenfield brasileiro. Além disso, a logística deles está pronta. O potássio da costa leste canadense está a apenas 12 dias de navegação do Brasil. Qualquer novo projeto de exploração entrará em produção em não menos de 5 a 7 anos, possivelmente 10 anos. Será muito mais rápido e barato fazer outro investimento no Canadá ou Rússia, os chamados brownfields, com custos muito menores.

Produzir internamente ou importar?

Então, montarmos projetos que não serão competitivos no longo prazo, em um futuro não muito distante, serão mais ameaçados pelo fato de serem totalmente dependentes de subsídios estatais. “Quando o rio baixar, as pedras aparecerem novamente”. Ou seja, o risco de termos criado mais “elefantes brancos” é enorme. Somos exportadores de alimentos e precisamos ter trocas internacionais. Nenhum país tem tudo. A receita não seria buscar o equilíbrio via gestão e parceiras comerciais e estratégicas de longo prazo? Se a decisão for investir em plantas locais, espera-se que os projetos que venham a ser patrocinados pelo governo, tenham realmente uma avaliação sem emoção e atemporais, sem gerar arrependimentos e busca de culpados no futuro, de uma decisão tomada no calor de uma guerra

Autor: Paulo Schuch, Engenheiro Agrônomo, Mestre em Gestão e Negócios pela Unisinos.