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14/Mar/2022

Guerra traz desafios quanto aos insumos agrícolas

Algumas crises oportunizam novos ângulos para a análise da realidade. É o caso da crise humanitária, ambiental, econômica, política e militar provocada pela guerra entre Rússia e Ucrânia. Por meio dela revelou-se a extrema e perigosa dependência de outros países que o Brasil tem no suprimento de insumos agrícolas, especialmente de fertilizantes. Uma potência agrícola planetária, com crescentes índices de produção e produtividade, o Brasil obtém no exterior mais de 80% dos fertilizantes que necessita. Os principais nutrientes aplicados no País são potássio 38%, cálcio 33%, nitrogênio 29%. A cultura da soja demanda mais de 40% dos fertilizantes aplicados. O Brasil importa 9 milhões de toneladas de insumos por ano e é o quarto consumidor mundial de fertilizantes, atrás de China, Índia e Estados Unidos. O País é dependente das importações, porém tem todas as matérias-primas para produzir, como gás natural, rochas fosfáticas e potássicas e micronutrientes.

As reservas de potássio estão localizadas em Sergipe e no Amazonas. O País, porém, nunca foi competitivo na produção de fertilizantes, mas também nunca priorizou a produção desse importante insumo para a agricultura nacional. No atual cenário, a escalada dos preços dos insumos, cada vez mais escassos no mundo, tornou-se avassaladora. A ureia aumentou 300% no ano passado. O fosfato aumentou 100%, de US$ 400,00 por tonelada para US$ 800,00 por tonelada e o potássio encareceu 170% e passou de US$ 290,00 por tonelada para US$ 780,00 por tonelada. A ureia é feita de gás de petróleo. A Rússia suspendeu a produção para abastecer a Europa com gás. Por outro lado, o cloreto de potássio de Belarus não está sendo exportado em razão da guerra, pois a Lituânia trancou o acesso ao seu porto dos produtos daquele país. Em setembro, no plantio da 2ª safra de 2022, o Brasil precisará de grandes quantidades de fertilizantes. É previsível que os produtores rurais usem menos fertilizantes na próxima safra, condição que se refletirá em menor produtividade.

Então, são quase cinco meses para equacionar essa questão. As fábricas não pararam nos países produtores, portanto, o maior desafio será efetivamente de logística em razão da guerra, com a navegação marítima restrita, portos fechados, sanções em curso, etc. Além da falta de navios, as rotas internacionais tornaram-se perigosas para a navegação e o banimento da Rússia do sistema bancário internacional cria insegurança sobre o pagamento das transações internacionais. Nesse preocupante panorama é muito positivo o anúncio do Ministério da Agricultura sobre a criação do Plano Nacional de Fertilizantes. O primeiro desafio é provar que o Brasil pode ser mais competitivo. O País precisa buscar a autossuficiência nessa área porque os fornecedores mundiais são poucos. O Brasil importa 25% dos fertilizantes russos, mas pode buscar outros fornecedores como China, Canadá, Israel, além de países africanos.

O Plano Nacional de Fertilizantes precisa encontrar um caminho para as necessidades da agricultura brasileira. Nesse aspecto é encorajador constatar que o Ministério da Agricultura negocia ureia com o Irã e a ministra Tereza Cristina, da Agricultura, foi ao Canadá atrás de cloreto de potássio. Mas, o conflito também perturba os mercados de cereais e petróleo, commoditties que têm forte impacto no setor primário da economia. A Ucrânia é quarta exportadora de milho e produtora de trigo. Com ela fora do mercado em razão do conflito, haverá menos milho no mercado mundial. Esse grão é essencial para a nutrição animal e com sua escassez ficará mais caro ainda para transformá-lo em proteína animal. Os criadores de aves e suínos e as indústrias de processamento da carne terão, portanto, forte aumento de custos. O mercado do trigo também piora porque a Rússia é maior produtor e exportador mundial. O Brasil consome 12 milhões de toneladas das quais importa 6 milhões, boa parte da Argentina, principal fornecedora.

O país vizinho já registra grande procura e os preços estão em viés de alta. Por outro lado, a movimentação das máquinas e equipamentos agrícolas requer diesel, subproduto do petróleo, que teve a cotação majorada de US$ 80,00 por barril para US$ 120,00 por barril nos últimos três meses. Outro fator perturbador é o transporte marítimo que registra aumento do frete e a falta de navios, como resultado do fechamento de portos e restrição da navegação no Leste Europeu. Como o comércio está globalizado, os efeitos são sentidos em todas as regiões do planeta. Os custos de produção aumentarão e o preço dos alimentos inexoravelmente subirá, prejudicando os consumidores. O conflito produz múltiplos efeitos, tendo como consequência mais nociva a escassez geral de insumos para a produção agrícola e aumento do preço dos alimentos para o consumidor final. Fonte: Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (FAESC). Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.