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08/Mar/2022

Fertilizantes: guerra expõe a dependência do Brasil

Em 30 anos, o Brasil passou de uma safra de 100 milhões para quase 300 milhões de toneladas de grãos. Consolidou-se como um dos mais importantes produtores e exportadores agrícolas globais, uma potência em segmentos como soja, milho, café, cana-de-açúcar e laranja, entre outras culturas. Mas, a capacidade de produção de fertilizantes não acompanhou esse salto. Na verdade, até recuou. Em 2017, o País produzia 8,2 milhões de toneladas, número que caiu para 6,5 milhões em 2020. Para sustentar o avanço das lavouras, foi necessário ampliar a importação dos fertilizantes. Segundo dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), em 2020 o mercado brasileiro consumiu 40,6 milhões de toneladas. Desses, 32,9 milhões (81%) vieram do exterior. E quase um quarto dos adubos importados vem da Rússia. Com o mercado russo fechado por causa das sanções provocadas pela guerra, o Brasil tem um problema de razoáveis proporções para ser resolvido.

A Anda considera que é preciso fomentar a produção nacional. O governo está anunciando um plano nacional de fertilizantes, pois o Brasil tem o insumo debaixo da terra, mas precisa de muita coisa para colocar esse produto no mercado, como logística, regras e licenças. O plano é oportuno, mas foi desenhado para os próximos 30 anos. Não é a solução para o problema atual. O Brasil vai precisar de 10 milhões de toneladas de cloreto de potássio para a próxima safra, e a expectativa é de que 3 milhões venham da Rússia. Se não vierem, será preciso comprar de outros países, como o Canadá. O problema é que o mundo inteiro se abastece na Rússia, e muitos países vão procurar alternativas, não só o Brasil. O Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes, atrás da China, da Índia e dos Estados Unidos, mas é o maior importador mundial desses insumos, basicamente nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K).

Isso se explica pela composição dos solos brasileiros, pobre em nutrientes, devido à sua característica tropical, principalmente na região do Cerrado, onde se concentra a maior produção de grãos. Para a safra atual, por conta dos preços, que já vinham altos antes mesmo de começar o conflito no Leste Europeu, os produtores não anteciparam as compras de fertilizantes no volume de anos anteriores. O que os agentes do mercado comentam é que a antecipação foi em torno de 30% este ano. No ano passado, na mesma época, estava acima disso. E a guerra pode impor riscos para a próxima safra. Se o conflito acabar rapidamente, os fluxos de insumos da Rússia para o Brasil vão continuar. Se demorar até três meses, o País terá que buscar soluções que ajudem a manter o ritmo da safra, que tem sido crescente. Faltou investimento nas últimas décadas na produção nacional de fertilizantes.

Houve muitos projetos que não foram aprovados por falta de licenciamento e o Brasil se tornou o maior importador mundial. O avanço na produtividade de grãos do País implicou maior consumo de adubos. O Brasil passou a fazer duas safras anuais, a ter mais produtividade sem aumento de área, a fazer a integração pecuária-agricultura, tudo com um consumo maior de fertilizantes. Só que não houve política para aumentar a produção interna e, sem esse incentivo, ficava mais caro produzir internamente. Era mais fácil importar, e o Brasil passou a recorrer ao mercado externo, gerando a dependência que tem hoje. Não há possibilidade de reversão desse quadro em um prazo curto. O Plano Nacional de Fertilizantes não vai resolver o problema imediato. Nessa altura, a melhor solução é diversificar a importação para não depender de um mercado só, como acontece com a dependência da Rússia. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.