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24/Fev/2022

Fertilizantes: risco de desabastecimento no Brasil

O acirramento da tensão entre Rússia e Ucrânia, que se reflete no mercado internacional de fertilizantes, afeta também o mercado brasileiro de adubos. Para o Brasil, majoritariamente dependente de importações, eventuais desdobramentos desta crise aumentam o risco de desabastecimento de adubos para a safra 2022/2023 e para adubação de culturas perenes. Além de sofrer os efeitos imediatos do encarecimento mundial dos adubos, o Brasil tende a estar vulnerável também aos impactos de um eventual recuo na oferta russa de adubos ou no fornecimento global destes insumos, caso sanções econômicas sobre os adubos russos sejam adotadas ou um conflito ocorra, em virtude de importar 85% do volume consumido internamente. Segundo o Itaú BBA, a preocupação com o abastecimento aumentou muito para o Brasil e pode piorar se a situação se agravar, pois há muita dependência externa. A Rússia é o principal fornecedor de adubos ao Brasil, contribuindo com cerca de 20% dos adubos internalizados anualmente.

No ano passado, a importação de adubos russos pelas indústrias brasileiras foi de 9,273 milhões de toneladas de um total de 41,573 milhões de toneladas, segundo dados do Comextat (serviço de estatísticas de comércio exterior do Brasil) da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério da Economia. Independentemente de o Brasil adotar ou não um posicionamento no conflito, o País está sujeito a eventuais embargos mais pesados que possam ser aplicados pelos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) à Rússia. Em hipótese de sanções em que empresas norte-americanas e europeias estejam proibidas de realizar negócios e transações com companhias russas, à semelhança das impostas sobre Belarus, os impactos são diretos para o Brasil, em virtude do pagamento das importações ser feito na moeda norte-americana, inviabilizando as compras. Se as sanções incluírem transação financeira com empresas russas, isso se torna como se o Brasil também estivesse impondo e “bagunçando” todo o comércio, mesmo que esteja de fora.

Há um risco de desabastecimento mais concreto ao Brasil, que pode se consolidar caso a situação venha a se deteriorar, principalmente no mercado de potássio, que já enfrenta fluxo interrompido de exportações belarussas. Tirando Belarus e Rússia, haveria corte de 40% da oferta de potássio. Em fósforo, é uma situação semelhante de que pode faltar e em nitrogenados, o problema seria grave também. As preocupações com o abastecimento do País aumentam, mas ainda não se espera desabastecimento, especialmente quanto aos insumos para a safra de grãos 2022/2023, semeada a partir de setembro, e com a adubação das culturas perenes no segundo semestre deste ano. Há outro problema, que é o atraso nas compras pelos produtores em relação a outras safras. Até o momento, o volume comprado é muito pequeno. Se o conflito se estender por mais dois meses, o abastecimento e as entregas podem ficar comprometidas por concentração no fluxo logístico. Os adubos precisam estar nas fazendas no máximo até o fim de agosto e são poucos meses pela frente para realizar as compras.

Outro efeito observado internamente foi a retração imediata de indústrias do mercado, retirando listas de preço de vendas dos adubos em meio à instabilidade das cotações na tentativa de restringir a comercialização. As misturadoras não querem vender estoques sem saber qual será a direção e teto do preço. É comum ter essa retração em momento de instabilidade. Elas estão esperando ver o que vai acontecer e tendem a retornar no curto prazo. Uma das alternativas, em caso de recrudescimento do conflito, para contornar a interrupção de embarques russos e eventuais sanções econômicas, seria a realização de barter humanitário entre Brasil e Rússia, pelo qual o País poderia adquirir adubos em troca de exportação de alimentos e commodities. As carnes são um dos produtos citados para esta alternativa, já que a Rússia importa proteína animal brasileira. O ponto é: O Brasil precisa muito mais de fertilizantes deles do que eles de produtos alimentícios do Brasil. Além disso, mesmo havendo boa relação, não é possível ficar extremamente confortável porque podem lançar mão de embargos e outras medidas do dia para a noite, como já fizeram. Não há uma mútua dependência que asseguraria a relação. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.