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24/Fev/2022

Fertilizantes: preocupação com desabastecimento

A escalada da tensão na crise entre Rússia e Ucrânia gera reflexos diretos no mercado internacional de fertilizantes que vão desde reações nos preços internacionais dos adubos a eventuais impactos na oferta mundial destes insumos. As consequências recaem sobre todo o complexo NPK (nitrogênio, fósforo e potássio), macronutrientes básicos utilizados nas lavouras. Isso porque a Rússia é o segundo maior exportador mundial de nitrogenados e terceiro maior exportador global de fosfatados e potássicos, contribuindo com 16% dos adubos exportados no mundo. O primeiro efeito e imediato da elevação da tensão entre os dois países se dá sobre os preços dos adubos. Neste primeiro estágio preliminar, de escalada e ameaças, há impacto nos preços. A tendência é de alta para os três ativos no mercado internacional. Na terça-feira (22/02), com o acirramento da crise, os derivativos de ureia listados no CME Group, nos Estados Unidos, subiram de US$ 20,00 a US$ 25,00 por tonelada ontem, encerrando a US$ 625,00 por tonelada. Logo no início do dia, a alta era de US$ 45,00 por tonelada, cerca de 10%.

Os contratos derivativos de fosfatados não foram negociados ontem e não há comercialização de derivativos de potássicos. Para o Itaú BBA, a escalada entre os dois países é um fator altista no curto prazo para as cotações internacionais dos adubos, mesmo em cenário de preços já elevados. A expectativa era de acomodação das cotações a partir do segundo trimestre. Agora, se os preços do gás natural não cederem e as tensões aumentarem, os valores dos adubos tendem a não se acomodar ou recuar. Este tom de tensões dá força especialmente à retomada da alta dos nitrogenados. Em caso de invasão efetiva da Ucrânia por parte da Rússia, as cotações do complexo NPK podem subir de 10% a 30% no período de dois a três dias. Há potencial para alta neste nível pela importância da Rússia na oferta dos três nutrientes. A ureia, que é o mais volátil, já subiu 10% antes mesmo de a tensão chegar em estágio acirrado. Os desdobramentos sobre os preços são imponderáveis caso as tensões permaneçam neste ritmo.

É difícil imaginar quais patamares os preços podem atingir caso as sanções econômicas ou um conflito possam interromper o fluxo exportador da Rússia. O mercado físico tende a repercutir esta alta, mas de forma mais lenta. Se a tensão permanecer, os preços no mercado físico tendem a acompanhar a alta dos futuros. A tendência é clara de aumento de preço. Se a situação se agravar, o impacto ao preço físico pode ser rápido, especialmente se houver uma correria de demanda puxada pelo aumento do receio de interrupção no fornecimento russo. Além do reflexo sobre as cotações, as preocupações quanto à oferta mundial destes insumos aumentam em meio à escalada da crise, já que inúmeros países dependem dos adubos russos. A elevação dos riscos de um conflito na região, o que inviabilizaria rotas de escoamento dos adubos e já gera sanções econômicas por parte de potências como Estados Unidos e Europa, pode afetar o fornecimento mundial dos fertilizantes do completo NPK.

Desde o ano passado, há um aperto na oferta global de adubos e quaisquer alterações no volume exportado pela Rússia pode estreitar ainda mais a disponibilidade destes insumos, considerando que outras origens importantes também estão sobrecarregadas. A Rússia exporta aproximadamente 40 milhões de toneladas de adubos por ano, equivalente a 16% do mercado mundial. Até o momento, as sanções impostas por países da União Europeia e pelos Estados Unidos não incluem empresas de adubos e são consideradas como "lights" por especialistas em geopolítica. No momento, são sanções de médio e longo prazos e a dimensão tende a depender da evolução ou não da tensão. Os fertilizantes tendem a não estar no primeiro foco dos embargos. Petróleo e gás natural podem ser os alvos de primeiro rol de sanções mais graves. Mas, os riscos de um pacote de sanções incluírem os adubos são altos dados o peso e a representatividade da indústria para a economia russa. Há muitas possibilidades de sanções incluírem adubos e dos insumos estarem nas primeiras rodadas.

Do ponto de vista de quem está olhando a asfixia da economia a fim de uma trégua no conflito, os embargos podem mirar na indústria de fertilizantes, que é muito relevante, mas esbarram em riscos relacionados a alimentos. Um elevado nível de compras dos produtores norte-americanos de insumos para a safra de grãos 2022/2023 poderia fortalecer o ímpeto dos Estados Unidos em sanções mais pesadas. Entretanto, que, como o tema é "sensível" ao mundo em virtude de reflexos na produção mundial de alimentos, pode haver movimento e intervenção de organismos, o que poderia envolver entidades como Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) em uma eventual negociação. A África, por exemplo, depende dos fertilizantes russos e é um continente em situação de fome. Um bloqueio da exportação de fertilizantes afeta a alimentação do mundo e alonga o problema inflacionário mundial, que já é alto. Em hipótese de sanções econômicas englobando os fertilizantes russos, os impactos seriam sérios ao mercado mundial de adubos.

A situação já é crítica pelos preços elevados e em iminência de uma crise de desabastecimento mundial. Neste caso, a possibilidade de desabastecimento em potássio passaria de risco para consolidação; em fósforo, surgiria um risco relevante de falta; enquanto em ureia poderia haver um remanejamento na oferta mundial com outras origens capazes de suprir uma eventual ausência russa no mercado. Outra preocupação seria o tempo prolongado destas sanções. Mesmo que brandas, se forem de dois a três meses, é muito grave neste momento do mercado global. Em um cenário de agravamento da crise e ocorrência de conflito ou invasão da Ucrânia pela Rússia, as consequências ao mercado de adubos tendem a ser mais bruscas com possibilidade de interrupção no fornecimento de adubos russos. Esta hipótese deve-se a eventuais bloqueios em estradas e portos que podem ocorrer caso haja iminência de um conflito. Porém, o fluxo dos embarques por questões logísticas tende a ser menos prejudicado que por questões comerciais diante do acesso da Rússia ao oceano pelo Mar Báltico e Mar Negro. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.