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18/Fev/2022

Potássio: há riscos de desabastecimento no Brasil

O cenário de desabastecimento de cloreto de potássio (KCl) ao Brasil se torna mais concreto em meio à inviabilização dos embarques do produto por parte da Belarus. Ainda é prematuro dizer que vai faltar o produto, mas esta é a tendência. Belarus contribui com cerca de 20% do cloreto de potássio importado anualmente pelo Brasil, do total de aproximadamente 12 milhões de toneladas internalizadas por ano. O quanto o Brasil será afetado dependerá do volume comprometido pelo bloqueio das exportações belarussas. Se houver diminuição de 60% a 70% do volume, será uma crise séria porque não há como repor volume em curto prazo. Se a redução fora de 20% a 30%, haverá aperto na oferta, mas sem caos. Aparentemente, as sanções estão funcionando. A ponderação de que possa não faltar produto decorre da hipótese de redução do volume aplicado nas lavouras pelos produtores brasileiros e talvez norte-americanos.

Um corte de 20% no uso do Kcl somente entre Estados Unidos e Brasil representaria 4 milhões de toneladas a menos. Se grandes consumidores cortassem 20% do uso, de certo modo a oferta e demanda se encaixariam, mas é difícil prever a redução e percentual neste momento. A redução da aplicação em lavouras com estoque do produto no solo possivelmente não traz prejuízos à produtividade das lavouras. A situação de escassez do produto pode afetar, principalmente, as compras brasileiras da safra de verão (1ª safra 2022/2023) e safra de inverno 2022/2023. O Brasil tem poucas jazidas de potássio e importa cerca de 98% do potássio consumido anualmente. O macronutriente é considerado um dos mais importantes, responde por 30% do volume utilizado nas lavouras e é aplicado desde plantações de grãos a culturas perenes.

Belarus é responsável por 20% do potássio consumido no mundo, exportando entre 12 milhões e 12,5 milhões de toneladas de Kcl anualmente, sendo praticamente a totalidade deste volume comercializado pela BPC. A inviabilização dos embarques de potássio belarusso veio à tona ontem pela exportadora estatal do país Belarusian Potash Company (BPC), que exporta praticamente a totalidade do volume produzido no país. Em comunicado enviado a clientes, a BPC reconheceu a impossibilidade de escoar o produto e cumprir os contratos firmados com os importadores, em meio ao andamento das sanções norte-americanas e europeias sobre Belarus. A BPC declara força maior nos embarques de potássio após sanções em andamento contra Belarus, que levaram a sua incapacidade de acessar seu principal porto de exportação, Klaipeda (Lituânia), depois que a ferrovia estatal da Lituânia deixou de transportar potássio de Belarus desde 1º de fevereiro.

Essa incapacidade da companhia em cumprir os embarques e contratos já era esperada pelo mercado, apesar de chamarem o impedimento de força maior que não era cogitado. O que está por trás dessa decisão é a incapacidade da BPC em exportar o produto pela inviabilização das rotas logísticas para escoamento como consequência das sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos e União Europeia. Este fato, por si só, não gera problema, mas sim evidencia a gravidade da crise. Desde dezembro, as estatais produtoras e comercializadoras de potássio belarrusso estão inclusas no rol de sanções impostas por Estados Unidos e União Europeia (UE) sobre Belarus como retaliações ao governo do presidente de Belarus, Aleksandr Lukashenko. A medida proíbe empresas norte-americanas de estabelecer negócios com companhias belarussas, incluindo embargo a pagamento feito por instituições financeiras dos Estados Unidos. A sanção sobre a BPC entrará em vigência no dia 1º de abril.

Entretanto, mesmo não estando na atual lista de embargos, a BPC encontra dificuldade em escoar o produto em virtude de interrupção nos serviços prestados pela ferrovia estatal da Lituânia, membro do bloco europeu, em 1º de fevereiro. Era a principal rota de logística do produto. A declaração da BPC reforça a leitura de que as sanções sobre Belarus estão sendo eficientes. Esta visão já havia sido fortalecida pelo comunicado da fabricante norueguesa de fertilizantes Yara, feito há um mês, de que vai encerrar as compras de potássio de Belarus até 1º de abril, conforme exigem sanções internacionais. São fatos que mostram que as sanções estão sendo muito eficazes com rotas de exportação inviabilizadas e negócios embargados. Aparentemente, a sanção vai conseguir diminuir a oferta do país ao exterior. O comunicado da BPC pode exercer pressão altista sobre os preços internacionais do Kcl à medida que evidencia a seriedade da crise e o risco concreto de desabastecimento.

A questão da Yara soma-se à conjuntura de aperto na oferta e risco de desabastecimento pelo fato de que a misturadora irá precisar comprar o insumo de outros fornecedores, em volume estimado entre 2 milhões e 2,5 milhões de toneladas. Em cenário de desequilíbrio no balanço entre oferta e demanda, a necessidade de um grande player de abastecimento em outros países acentua o aperto na oferta. A Yara estima que compra de 10% a 15% da produção anual da estatal Belaruskali, um dos maiores produtores mundiais de potássio, que responde por 70% do potássio produzido por Belarus. As alternativas para contornar as sanções são pouco viáveis, apesar das estatais belarussas informarem que estão buscando encontrar solução para a interrupção do fornecimento. Quanto ao fluxo do produto, uma possível rota de escoamento seria pela Rússia, que está em tensões com a Ucrânia.

Contudo, há gargalos logísticos como a insuficiência de caminhões e vias portuárias que limitariam a operação e escoamento das 12 milhões de toneladas de potássio belarrusso. Se conseguirem viabilizar parcialmente os embarques por meio de outras rotas, em 1º de abril o problema será muito maior com a segunda fase de embargos a negócios com a BPC. O pagamento é feito, majoritariamente, por dólar, sendo que os bancos norte-americanos estão obrigados a cumprir as sanções. A possibilidade de pagamento das remessas via outras moedas também encontra dificuldades. Um dos fatores é o não interesse de outros países em se indispor com os Estados Unidos e União Europeia. Outra hipótese seria o barter trader (troca de potássio por outro produto). Mas, essas alternativas provavelmente não vão funcionar. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.