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17/Fev/2022

Frete marítimo: preço alto e escassez de contêineres

Conforme a Confederação Nacional da Indústria (CNI), um leve alívio no custo do frete marítimo da Ásia para o Brasil, na primeira metade de 2021, ficou para trás nos últimos meses, e o preço médio do serviço de transporte começou 2022 custando 5,7 vezes mais do que antes da pandemia. A demora na normalização dos gargalos na logística global pode sinalizar um "novo normal" de custos maiores para os próximos anos. O principal efeito do novo cenário é encarecer os insumos importados pela indústria, colocando mais pressão na inflação. A disparada no preço do frete marítimo ocorreu no segundo semestre de 2020, em meio à retomada da economia global. No início da pandemia, restrições ao contato social e a queda na demanda paralisaram o comércio internacional, e até fizeram o custo do frete tombar. Na retomada, a demanda por bens voltou mais rapidamente do que o esperado, turbinada por políticas de transferência de renda e pelo fato de que, por causa do distanciamento social, consumidores passaram a gastar mais em produtos do que em serviços pessoais.

Isso levou uma corrida pelos serviços de transportes, pressionando a capacidade de portos, armazéns, navios e contêineres. O desequilíbrio entre demanda e oferta fez os preços explodirem. Com a disparada, o preço do frete de importação da Ásia para o Brasil atingiu, em janeiro de 2021, a média de US$ 8.900,00 por contêiner de 20 pés (equivalente a 6 metros), 4,6 vezes mais do que janeiro de 2020, antes da pandemia. O alívio do início de 2021 durou pouco. Em março, o preço atingiu US$ 6.200,00 por contêiner, mas voltou a subir, chegando a US$ 9.700,00 por contêiner em dezembro. O preço médio de US$ 11.150,00 por contêiner de janeiro deste ano é 5,7 vezes maior do que o de janeiro de 2020, uma disparada de 472%. Inicialmente, a avaliação era de que se tratava "gargalos passageiros", um fenômeno conjuntural, muito associado à pandemia. De fato, a pandemia catalisou o problema, mas o desequilíbrio entre a demanda por serviços de transporte e a oferta de capacidade, em termos de portos, armazéns, navios e contêineres, agora parece ter elementos estruturais.

Em outras palavras, os preços do frete marítimo de antes de 2019 podem ter ficado para trás. A elevação do custo foi catalisada pela pandemia, mas há indicativos de que esses valores, bem superiores à média da última década, seriam um novo normal. Dois fatores principais explicariam esse "novo normal". O primeiro é o 'boom' do comércio eletrônico. Ainda que tenha sido turbinado pelo isolamento social ao longo da pandemia, o hábito de comprar mais coisas pela internet, sem sair de casa, parece ter vindo para ficar entre os consumidores. E isso eleva a logística de transporte a um nível superior de importância para as empresas da indústria e do comércio, afinal o consumidor quer receber o produto o quanto antes. Mais essenciais, os serviços de logística tenderiam a ficar mais caros mesmo. O segundo fator tem a ver com o ciclo de negócios do setor de transporte global, e 90% das movimentações do comércio internacional são feitas pelo mar.

Depois de um ciclo, nos anos 2010, marcado por faturamento estagnado e margens de lucro apertadas, as grandes companhias de logística estariam entrando numa década de ganhos melhores, diante da nova situação. A década passada foi de margens apertadas por que, do lado da demanda, o comércio global nunca se recuperou totalmente da crise financeira de 2008, com os fluxos de transporte da década passada abaixo daqueles dos anos 2000. Ao mesmo tempo, o ciclo dos anos 2000 impulsionou a construção de navios. A combinação de demanda morna com boa oferta de capacidade ajudou a segurar os preços do frete. Agora, as companhias deverão aproveitar para recompor suas margens de lucro, contribuindo para que preços mais elevados sejam a tendência nos próximos anos. Para o Brasil, os gargalos na logística global afetam principalmente as importações e a produção industrial. Com as cadeias de produção integradas internacionalmente, a indústria depende de importar componentes.

Esses insumos vêm encarecendo desde o segundo semestre de 2020, em parte por causa do preço do frete. Esse custo se soma a outros, como a alta na cotação do dólar e a escassez de alguns componentes. Um símbolo do problema é o atraso na produção de veículos por causa da falta de semicondutores. A consequência direta é a inflação. As exportações também são afetadas, mas com efeitos mais pontuais no comércio exterior brasileiro. Isso porque a maior parte dos embarques do País é de matérias-primas, com destaque para soja, milho, minério de ferro e petróleo, que são transportadas em navios graneleiros, enquanto os gargalos logísticos atingem, principalmente, o transporte via contêineres. Essas grandes caixas de aço aumentam a produtividade do transporte, mas seu uso depende de um sistema todo encadeado, que foi afetado pelos desequilíbrios entre oferta e demanda.

Entre os principais produtos brasileiros vendidos ao exterior que dependem do sistema estão as carnes e as frutas, que usam contêineres refrigerados. A F Trade, empresa especializada em logística para comércio exterior, especialmente de frutas e outros perecíveis, vê um quadro de colapso na logística mundial e acredita que os problemas poderão durar ainda este ano inteiro. Se os preços do frete de importação da Ásia parecem ter estabilizado, ainda sobem para a exportação de frutas, cujas cargas são relativamente pequenas. Nesta semana, a empresa deixou de carregar uma carga de limão por falta de contêineres. Se o Brasil tivesse uma supersafra de maça, que não houve por causa da seca na Região Sul, não haveria como escoar. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.