14/Fev/2022
A baixa disponibilidade de dessecante para soja no mercado interno, com atraso na entrega do produto pelos fabricantes às fazendas, se acentua conforme avança a colheita da safra 2021/2022. No campo, o problema de falta do herbicida e do atraso nas entregas é mais crítico na Região Centro-Oeste, onde a colheita da oleaginosa está mais adiantada do que na Região Sul. Além da evolução dos trabalhos de campo, no Sul a quebra na safra por causa da estiagem exigirá menor volume do defensivo. Contudo, os estoques não são suficientes para atendimento da demanda na totalidade. Em Mato Grosso, onde já se colheu cerca de metade da área plantada, o atraso na entrega do produto e a falta de dessecante no campo são generalizados, de acordo com a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT). Os relatos são de que os pedidos não estão sendo honrados na totalidade. A entrega está sendo fracionada. De um pedido de 100 litros, por exemplo, produtor recebeu apenas 50 litros.
A estimativa é de que há atraso de pelo menos 60 dias na entrega do herbicida. Trata-se de compras feitas antes da safra 2020/2021 e que deveriam ter sido entregues ao produtor no máximo ao longo de dezembro. Normalmente, ele chega em novembro no campo. O volume recebido pelos produtores varia conforme a região e a quantidade encomendada. É um problema que ocorre em todo o Estado e, além dos dessecantes, também ocorre com outros herbicidas, como o glifosato. Na avaliação da Aprosoja-MT, o cumprimento dos contratos daqui para a frente já não adianta muito, dado o atual estágio da colheita, que está avançando e o dessecante deve ser aplicado na preparação para a colheita. A colheita poderia estar mais adiantada. Quem não recebeu o produto registrou um atraso de seis a sete dias na retirada da soja, o que empurra para a frente o plantio de milho 2ª safra de 2022, que pode atrasar.
Há relatos de produtores aplicando glufosinato de amônio como alternativa, porém o produto tem efeito dez dias superior ao Diquat e também está escasso nas revendas de insumos. Há receio de que a falta dos defensivos adequados estimule o uso de produtos não adequados para esta finalidade e a lavoura vire um balão de ensaio. Outro fator apontado pelos produtores é o aumento expressivo do preço do Diquat, passando de R$ 40,00 por litro para R$ 130,00 por litro, no prazo de um ano, na região de Sorriso (MT). O custo de produção de soja no Estado aumentou R$ 700,00 por hectare, na esteira do aumento dos herbicidas e da retirada do Paraquat do mercado brasileiro. Mesmo com os preços elevados, a Aprosoja-MT estima que a demanda pelos dessecantes no Estado tenha aumentado pelo menos 3% em relação à temporada passada, acompanhando o aumento da área plantada. A área aumentou praticamente 300 mil hectares, o que é representativo no consumo do produto.
A procura é alta porque praticamente todos os produtores utilizam a dessecação como ferramenta para encurtar o ciclo e plantar milho em janela ideal. No Paraná, os relatos de falta de dessecante são pontuais, segundo levantamento da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar). Há relatos de falta de dessecante na fazenda, mas não são todos os produtores que estão precisando. Em algumas regiões, há problemas pontuais, de grande quantidade de agricultores demandando o produto ao mesmo tempo. No Estado, a colheita da oleaginosa atingiu 15% da área plantada até o dia 8 de fevereiro. O problema só não é maior porque há quebra de cerca de 40% na safra da oleaginosa no Estado. Nas áreas mais afetadas pela seca, a tendência é de que os produtores não utilizem o herbicida para dessecação. No Estado, o produto é aplicado principalmente nas lavouras semeadas mais tarde, que necessitam de uniformização e da aceleração da colheita para plantio do milho de 2ª safra.
Mesmo com a quebra, as cooperativas não vão conseguir atender a todos os produtores na totalidade. A maior preocupação das cooperativas é o baixo volume internalizado do produto. O estoque doméstico das cooperativas hoje é menor do que nos outros anos. Há atraso nas entregas da indústria e dificuldade de obter rapidamente novas encomendas. A falta do produto em casa acende a luz amarela de que o volume disponível não seja suficiente para suprir os cooperados. A alternativa encontrada pelas cooperativas é remanejar a distribuição do herbicida entre os produtores. A maioria ainda não retirou o insumo para dessecação. O encarecimento do Diquat também é citado pelas cooperativas, que afirmam que os preços do produto dobraram em um ano no Estado. Quatro moléculas são passíveis de serem aplicadas na dessecação, entretanto o Diquat apresenta custo-benefício e eficiência melhores e mais semelhantes ao Paraquat.
Em Sorriso (MT), os produtores sentem os efeitos da oferta apertada dos dessecantes. A entrega do volume comprado via cooperativa está sendo fracionada, o que prolonga o tempo de colheita de soja. Os produtores usam metade da dose do dessecante, junto com adjuvante, e a dessecação. Ao invés de colher em cinco ou seis dias, a colheita ocorre em oito ou dez dias. Essa dessecação "mal feita" está resultando em desconto no preço pago pela soja, em virtude da não uniformização do grão. Não há produto disponível para pronta entrega nas revendas da região e os relatos são de prazo de pelo menos 90 dias para recebimento de novos volumes comprados. Revendas de Mato Grosso, de grandes redes, não possuem dessecante para pronta entrega. Algumas delas falam em prazo mínimo de 60 a 90 dias para entrega do insumo e outras afirmam que não há previsão de chegada. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.