10/Jan/2022
Os preços pagos pelos fertilizantes no Brasil tendem a continuar elevados em 2022. Uma eventual queda nas cotações internacionais, prevista para o segundo semestre do ano, poderá ser anulada pela valorização do dólar ante o Real, o que encarece os insumos majoritariamente importados. No Brasil, os preços devem continuar elevados por conta do dólar. O cenário para este ano, com eleições, traz bastante incerteza cambial e as projeções apontam que o dólar não deve ceder da casa dos R$ 5,60, o que traz impacto às cotações locais. Uma retração dos preços internos de insumos importados não pode ser descartada, a depender dos fundamentos de mercado ao longo deste primeiro semestre. Contudo, se ocorrer, será menor do que a baixa prevista para as cotações internacionais. 2022 será um ano de muita volatilidade cambial. Caso o período de aquisição de insumos coincida com dólar mais forte ante o Real, esse movimento pode amortecer uma possível queda dos preços no exterior. Entretanto, a alta das cotações encontra um teto na demanda, que não absorve integralmente o aumento contínuo dos preços. As relações de troca, quantidade de determinado grão necessária para compra de uma tonelada de adubo, estão nos piores patamares dos últimos anos, o que limita novas altas.
Em 2021, os principais nutrientes importados registraram alta expressiva nos valores indicados nos portos brasileiros. O valor de importação da ureia – referência para preço de nitrogenados – colocada em porto brasileiro aumentou 195% entre janeiro e dezembro de 2021, encerrando o ano com média de US$ 820 por tonelada. O fosfato monoamônico (MAP) avançou 109% no acumulado do ano, para US$ 860 por tonelada. O cloreto de potássio (KCl) subiu 22% na mesma base comparativa, alcançando US$ 790 por tonelada em dezembro. Os preços elevados são uma consequência do crescimento global da demanda, que não foi acompanhada pela elevação da oferta na mesma proporção. Mas o dólar estará favorável às exportações das commodities agrícolas, mantendo a rentabilidade dos agricultores. O câmbio deverá seguir instável até a eleição, o que influencia tanto os fertilizantes quanto os preços mais rentáveis de venda dos grãos pelo agricultor. O produtor vai fazer as contas para a compra de adubo e a venda da commodity em dólares.
Para a exportação, o câmbio forte é sinal de maior rentabilidade, mas traz entendimento ao mercado de que preços dos adubos devam permanecer altos por mais um período. O Brasil importa 80% a 85% do volume de adubos consumido anualmente – cerca de 40 milhões de toneladas – e, por isso, as cotações locais estão sujeitas às oscilações internacionais e ao câmbio. O cenário global de consumo global de adubos é de desaceleração dos preços no médio e longo prazo. Já a conjuntura apertada de oferta permanece no radar do mercado internacional. Os principais drivers de oferta no primeiro semestre deste ano serão a implantação da cota russa para exportação de nitrogenados, a permanência das restrições chinesas nas vendas externas de adubos, as sanções norte-americanas e europeias à Belarus. No mercado internacional, a perspectiva é de manutenção das cotações elevadas no primeiro trimestre deste ano, com acomodação graduais dos preços no segundo trimestre e tendência de arrefecimento nos preços do complexo NPK (nitrogênio, fósforo e potássio – principais macronutrientes) a partir do segundo semestre.
Esse primeiro período do ano, até a metade do primeiro semestre, será um período de maior restrição na oferta e maior demanda com compras dos produtores do Hemisfério Norte. Na segunda metade do ano, deverá haver um alívio gradual nos fatores de abastecimento que limitam a retração, o que forneceria condição para o viés de queda dos preços. Entre os fatores que podem melhorar a partir do segundo semestre e contribuir para aumento da oferta, estará o fim da cota russa para exportações de nitrogenados e um retorno da produção industrial da China após a crise energética. A oferta ainda não retomará o patamar pré-Covid, mas o indicativo é de um cenário de maior alívio, ainda dependendo destes fatores que irão se desenrolar. Os fortes preços internacionais esperados para o primeiro semestre deste ano devem ser sentidos primeiro pelos produtores norte-americanos, que plantam a safra de grãos 2022/2023 à frente dos brasileiros e estão na janela de compra de adubos. Dessa forma, os Estados Unidos devem ser afetados em maior grau pela manutenção de preços na primeira metade do ano (safra de grãos 2022/2023).
Uma eventual diminuição na compra norte-americana poderia ser mais um fator de pressão no mercado, mas os principais fatores que direcionarão os preços para as aquisições brasileiras no segundo semestre são os relacionados à produção. O espaço para a queda dos preços internacionais ainda é limitado. A oferta deverá ficar menos pressionada com a normalização do uso de energia para produção dos adubos e uma alta não tão considerável da demanda. Deveremos ter um balanço entre oferta e demanda um pouco mais equilibrado a partir do segundo trimestre de 2022, mas o custo de produção dos fertilizantes ainda estará muito elevado, o que contribui para manter os preços. Outro ponto que pode frear essa baixa das cotações é o fato de após o fim da janela de compras do Hemisfério Norte ser prosseguido pelo período de aquisição da América do Sul, sustentando a demanda. A tendência é de termos uma redução na preocupação com disponibilidade, mas não significa que haja queda expressiva dos preços. O recrudescimento da pandemia de Covid-19, embora possa não afetar novamente a oferta de adubos, traz um alerta a possíveis atrasos globais na logística de entrega dos insumos.
A perspectiva é de acomodação e arrefecimento nos preços dos nitrogenados e fosfatados. Entretanto, para os potássicos, o cenário ainda é de manutenção dos preços elevados após o endurecimento das sanções norte-americanas e europeias a fornecedores de KCl da Belarus. Ao longo do segundo trimestre de 2022, poderemos ver recuos graduais dos preços do nitrogênio e do fósforo. Para o potássio, a projeção é de uma queda mais branda, mas, com os embargos mais recentes, não há chance de recuo expressivo, caso as sanções norte-americanas realmente interrompam o fluxo significativo de exportações da Belarus – que responde por 20% do mercado global do macronutriente. No início de dezembro/2021, algumas sanções entraram em vigor, incluindo a proibição de negócios entre empresas dos Estados Unidos e a estatal bielorrussa Belaruskali, produtora de potássio. Outras, contudo, passarão a ser válidas a partir de 1º de abril, incluindo embargos à estatal Belarusian Potash Company (BPC), comercializadora do insumo e responsável pela maior parte das exportações de Kcl do país. Há, de fato, um risco concreto de desabastecimento, se a sanção realmente interromper o fluxo de exportação da Belarus, porque o volume originado naquele país é muito grande. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.