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10/Jan/2022

Fertilizantes: riscos de suprimento em 2022/2023

A adubação das lavouras brasileiras de grãos da safra 2022/2023, assim como das culturas perenes, deve ficar mais cara em relação à temporada 2021/2022. A estimativa considera que uma eventual queda nas cotações internacionais dos fertilizantes deve ser compensada pelo dólar valorizado ante o Real, que encarece os insumos majoritariamente importados e tende a manter os valores pagos pelos adubos firmes ao longo de 2022 no Brasil. Isso porque os insumos necessários para a safra 2021/2022 tanto de verão quanto de inverno já foram garantidos antecipadamente para a maior parte dos produtores. A safra de grãos 2022/2023 e as culturas perenes, especialmente cana-de-açúcar, café e laranja, tendem a sentir o maior impacto destes custos mais elevados. Desta forma, a demanda tende a crescer menos, mas ainda deve acompanhar o aumento na área plantada. Neste cenário, a relação de troca, quantidade necessária de determinada commodity para compra de uma tonelada de adubo, que se deteriorou no ano passado e atingiu os piores níveis históricos pressionada pelo aumento expressivo dos insumos, deve ficar menos favorável ao produtor rural na temporada 2022/2023.

Ou seja, para adquirir a mesma quantidade de fertilizante, o produtor precisará desembolsar maior volume de grãos. Para a soja, que será semeada a partir de setembro deste ano, serão necessárias mais de 31 sacas de 60 Kg da oleaginosa para compra de uma tonelada de fosfato monoamômico (MAP) no ciclo 2022/2023, ante 29 sacas de 60 Kg de soja necessárias para aquisição da mesma quantidade do insumo na temporada 2201/2022. Em relação ao milho, a relação de troca entre o grão e o cloreto de potássio (KCl) deve passar de 40 sacas de 60 Kg por tonelada de MAP em 2021/2022 para 62 sacas de 60 Kg por tonelada em 2022/2023. Quanto ao algodão, a relação de troca deve subir de 24 arrobas por tonelada de MAP para 26 arrobas e de 16 arrobas por tonelada de Kcl para mais de 27 arrobas por tonelada de Kcl. Esse movimento deve impulsionar os custos de produção e, consequentemente, pressionar a inflação das commodities. As margens de rentabilidade dos produtores, por sua vez, devem se manter em patamares positivos, mas abaixo dos níveis vistos em 2020/2021.

Devemos ver as margens voltando para médias históricas ou até abaixo dessas. Isso dependerá do preço final das commodities e do custo de produção, mas um recuo em relação aos excelentes patamares de 2020/2021 e 2021/2022 é o cenário mais provável. Considerando que as cotações dos adubos mais que triplicaram nos últimos meses, deveremos ter margens mais apertadas em 2022/2023. A atratividade da relação de troca ao agricultor vai depender dos preços dos adubos a partir do segundo trimestre deste ano, da safra norte-americana de grãos 2022/2023 e da atual produção brasileira de soja e milho. De forma geral, com base nos preços atuais, as relações de troca ainda seriam favoráveis aos agricultores, considerando soja, milho, trigo, algodão e cana-de-açúcar. 65% dos adubos consumidos anualmente no Brasil são utilizados na segunda metade do ano – período de plantio da safra de verão. Desse volume, a maior parte é aplicada nas lavouras de soja e milho 1ª safra. Apesar do cenário de preços sustentados, deverá haver apenas reduções pontuais no volume consumido.

A estimativa é de uma demanda de 44,0 milhões de toneladas de adubos no País em 2022, ante 43,8 milhões de toneladas em 2021. O investimento do produtor em tecnologia para as lavouras vai continuar acontecendo, porque os preços das commodities continuam atrativos, mas talvez não com o mesmo ímpeto que investiu na lavoura anterior. O aumento do consumo também se deve ao crescimento esperado na área plantada. Os dados oficiais de entregas do acumulado do ano passado devem ser divulgados pela Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), que representa a indústria do setor, no início de março. Os números mais recentes da Anda indicam entrega de 38,34 milhões de toneladas de janeiro a outubro de 2021. A Anda não divulga estimativas próprias de entregas, mas a projeção da entidade é de aumento de 8% nas entregas em 2021, para 44 milhões de toneladas. A expectativa é de que não haverá redução expressiva na demanda de adubos neste ano, porque o produtor usa tecnologia para aumentar produtividade e as estimativas mostram que a rentabilidade é favorável. Boa parte dos insumos a serem utilizados nas lavouras de 2022/2023 já foi adquirida pelos produtores.

A estimativa é de que 20% dos fertilizantes a serem aplicados na primeira metade da temporada 2022/2023 – segundo semestre deste ano – já estão comprados pelos produtores. O cenário mais provável é de relativa estabilidade no consumo neste ano, já que o setor produtivo discute uma eventual redução no nível de adubação que pode ser compensada pelo provável aumento de área semeada. Deverá haver uma redução na intensificação do investimento no pacote tecnológico visto nas safras passadas. Há espaço para que haja redução, principalmente em elementos que fixam no solo e que foram reforçados no ano passado, mas isso tende a ser avaliado caso a caso, pelo produtor. Outro efeito colateral deste cenário de preços firmes é a desaceleração das compras antecipadas por parte dos produtores. Desde 2019, agricultores vinham assegurando insumos para lavouras com significativo adiantamento – ritmo que vem caindo desde o avanço expressivo dos adubos. Provavelmente, haverá concentração de compras no fim do primeiro semestre e início do segundo semestre para uso na safra 2022/2023. O produtor tem incertezas em travar a compra adiantada em virtude da relação de troca, mas tende a fazer compras mais distribuídas aproveitando oportunidades de mercado.

A concentração das compras pode gerar um acúmulo nas entregas e possivelmente gargalos logísticos. A preocupação é com a soma de pequenos fatores que podem atrasar a logística das entregas e afetar a disponibilidade do insumo na fazenda no período adequado. A logística é sempre um ponto de atenção. Há incertezas de que os navios com adubos importados cheguem no momento adequado e que o calendário de plantio será cumprido corretamente. A preocupação com os riscos de desabastecimento de alguns ativos ainda permanece. No ano passado, rumores de possível falta de alguns ativos à medida que Rússia e China restringiram as exportações e Estados Unidos embargaram Belarus foram a tônica dos últimos meses no mercado brasileiro. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, visitou vários países produtores de adubos, pedindo garantia no fornecimento ao País. A falta de nutrientes não se concretizou, mas a apreensão com uma eventual falta de insumos continua neste ano. Há riscos que precisam ser monitorados para que sejam minimizados. O risco real que deverá ser monitorado é a oferta global não acompanhar o crescimento da demanda.

Como o Brasil importa entre 80% e 85% do consumo doméstico, estaria exposto a riscos de oferta. Se o volume ofertado de adubos em 2021 se mantiver neste ano, o abastecimento do Brasil não será comprometido. Se as exportações da Rússia para o Brasil seguirem normalmente como o prometido e embarques de Belarus continuarem, as entregas necessárias ocorrerão normalmente para a próxima safra. O maior risco é que o Brasil poderá ter é no fornecimento de potássio para a safra 2022/2023, em meio às sanções dos Estados Unidos às companhias da Belarus de cloreto de potássio (Kcl). Há um risco concreto de desabastecimento, se a sanção realmente interromper o fluxo de exportação da Belarus, porque o volume é muito grande. 20% do cloreto de potássio (KCl) importado do Brasil vem de Belarus e importamos 98% do Kcl consumido. Apesar de a sanção de negócios estar voltada às empresas norte-americanas, o embargo afeta o Brasil porque o pagamento das compras brasileiras, feito em dólar, passa por bancos norte-americanos e por meio deles é destinado aos fornecedores da Belarus. As instituições financeiras norte-americanas também estão sujeitas à medida e estarão impedidas de efetuar as remessas às empresas sancionadas na Belarus. De modo concreto, há risco de oferta insuficiente de KCl se essa situação prevalecer até abril. quando novas sanções entrarão em vigor. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.