ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

07/Dez/2021

Fertilizantes: Brasil pode ter problemas de oferta

Além de enfrentar valores mais elevados para adubação da safra 2022/2023, o agricultor brasileiro poderá ter problemas de fornecimento de potássio, após os Estados Unidos incluírem a empresa estatal Belarusian Potash Company (BPC) na lista de sanções à Belarus. É uma situação séria. Há risco concreto de desabastecimento, se a sanção realmente interromper o fluxo belarrusso de exportação, porque o volume é muito grande. Cerca de 20% do cloreto de potássio (KCl) importado do Brasil vem de Belarus. O cenário considera que Belarus não conseguiria exportar sua produção ou que os embargos norte-americanos reduzam significativamente as vendas do país. A sanção, oficializada na quinta-feira (02/12), é uma retaliação do governo norte-americano ao regime de governo do presidente de Belarus, Aleksandr Lukashenko, especialmente à política migratória. Foi a quinta rodada de sanções dos Estados Unidos à Belarus.

Até então, a restrição abrangia apenas a estatal Belaruskali, majoritariamente produtora de potássio, portanto não havia impacto direto sobre as vendas do país. Agora, o cenário é diferente, já que a BPC é a responsável pela maior parte das exportações de potássio do país. A sua subsidiária BPC Agrorozkvit LLC (Agrorozkvit) também está sujeita às sanções, assim como a Foreign Limited Liability Company Slavkali (Slavkali), que produz fertilizantes à base de potássio. Belarus é responsável por 20% do potássio consumido no mundo. Apesar de a sanção de negócios estar voltada a empresas norte-americanas, o embargo afeta o Brasil porque o pagamento das compras brasileiras, feito em dólar, passa por bancos norte-americanos e por meio deles é destinado aos fornecedores belarrussos. As instituições financeiras norte-americanas também estão sujeitas à medida e estarão impedidas de efetuar as remessas às empresas de Belarus sancionadas. Elas têm quatro meses para encerrar as transações com as estatais em questão.

Na prática, o Brasil não está proibido de comprar, mas não vai poder pagar. Todo mundo que importa em dólar estará envolvido nessa situação e vai sentir o efeito por envolver empresa norte-americana no pagamento, no caso os bancos, independentemente da origem/localização do importador. Os Estados Unidos também serão afetados pela restrição, mas em menor grau, já que importam pouco volume do país do Leste Europeu, de 500 mil a 1 milhão de toneladas por ano. Contudo, os agricultores norte-americanos não passarão ilesos do aumento direto dos preços do KCl decorrentes do embargo. A medida é válida a partir de 1º abril, podendo afetar as compras brasileiras da safra de verão (1ª safra 2022/2023) e 2ª safra de 2023. De modo concreto, trata-se de uma safra com possível falta de KCl se essa situação prevalecer até abril. O Brasil tem poucas jazidas de potássio e importa cerca de 98% do potássio consumido anualmente.

O macronutriente é considerado um dos mais importantes, responde por 30% do volume utilizado nas lavouras e é aplicado desde plantações de grãos a culturas perenes. Belarus é o terceiro maior fornecedor de cloreto de potássio para o Brasil, contribuindo em média com 20% do volume internalizado, atrás de Rússia e Canadá. No acumulado deste ano, foram 2,23 milhões de toneladas, 19% do importado de janeiro a novembro (11,828 milhões de toneladas). O cloreto de potássio representa um terço do volume total de adubos importado anualmente pelo Brasil. Mas, há alternativas para contornar a sanção e possivelmente garantir fornecimento de potássio ao País, contudo elas são de difícil aplicação e exigem longo tempo de implementação. Entre hipóteses possíveis, está o barter humanitário, que está isento de sanções comerciais, e que consistiria em troca de produto brasileiro considerado alimento, como as commodities, pelo fertilizante.

Essa saída já foi aplicada em situações anteriores, como no conflito geopolítico entre Estados Unidos e Irã, em que o Brasil manteve as transações com o país do Oriente Médio por meio de barter de ureia e milho. Outra opção seria a estruturação de mecanismo para realizar o pagamento em euro, o que provavelmente não seria viabilizado pelos agentes europeus, já que a União Europeia (UE) mantém embargos acordados com os Estados Unidos sobre Belarus. A negociação via China também seria uma possibilidade. Todas são medidas de difícil implementação e que poderiam levar mais de um ano para serem aplicadas. Já uma eventual compensação das compras para antes da restrição não é viável em virtude da falta de capacidade do país de fornecer adubo imediatamente em conjuntura de oferta apertada. Tecnicamente, o problema é o pagamento ser feito antes de 1º de abril, mas mesmo que a misturadora ou produtor quisesse comprar antecipadamente, não é possível adiantar todo este volume porque a oferta lá está apertada. Por isso, o cenário é tão complicado.

A busca por novos fornecedores do produto ou em ampliar o volume importado de determinados players é limitada pelo aperto na oferta global do ativo e pelo peso e Belarus no mercado (representando 20% do comércio global). Todas as origens que têm capacidade de produzir o potássio estão trabalhando no limite. Não há como repor 14 milhões de toneladas exportadas anualmente por Belarus rapidamente. Um possível alívio no aperto global da oferta, embora ainda aquém do volume restrito, poderia vir da reabertura de uma mina de potássio da Mosaic Fertilizantes no Canadá, com capacidade de produzir de 1,5 milhão a 2 milhões de toneladas. Recentemente, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou que o governo está se mobilizando para compensar possíveis perdas com outros fornecedores. Em meio às incertezas da efetivação das sanções e eventuais reviravoltas que possam ocorrer nesta disputa geopolítica, a talvez única certeza é o aumento dos preços do adubo, que já subiu mais de 200% no acumulado do ano.

No curto prazo, é um novo fator fortemente altista. Os preços devem subir bastante. Até agora, a sanção tecnicamente não refletia diretamente na exportação do país. O cenário é muito complexo. A expectativa é de que possa haver algum eventual revés ou acordo entre os países. Este endurecimento contra Belarus pesa também sobre a perspectiva de acomodação e arrefecimento das cotações dos adubos para o próximo ano. Em meados de abril e maio de 2022, deve haver recuos importantes nos preços de nitrogênio e fósforo. Para o potássio, a projeção era de queda mais branda. Agora com essa situação, não há chance de queda desde que as sanções norte-americanas realmente interrompam o fluxo significativo de exportações de Belarus. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.