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14/Out/2021

Fretes: custos puxados pelo óleo diesel e demanda

O frete rodoviário das principais rotas de grãos subiu em média 13% no acumulado deste ano e mais de 30% na comparação com igual período do auge da safra 2020/2021 (fevereiro a abril). As estimativas são do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Esalq/USP (Esalq-Log) e se referem à média de preços do mercado interno. O aumento do custo do transporte foi puxado pelas altas consecutivas do óleo diesel e pela maior demanda para escoamento da safra de verão (1ª safra 2021/2022). A tendência é de que os preços recuem no último trimestre do ano, mas ainda permaneçam elevados na comparação com os valores do ano passado. Nas principais rotas de exportação (fazenda/porto), o incremento do frete é ainda maior. Dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) mostram que o custo para transporte de soja de Sorriso (MT) para Santos (SP) subiu 16% de janeiro a 7 de outubro deste ano, atingindo a média de R$ 331,84 por tonelada. De Sorriso para Miritituba (PA), o frete subiu 40% no ano, alcançando em média R$ 182,57 por tonelada no dia 7 de outubro.

Estes trechos são considerados referência no mercado porque Sorriso é o maior município produtor de soja e milho do Brasil; são trechos com mais de 2 mil quilômetros; são rotas realizadas com modal misto (rodoviário/ferroviário e rodoviário/hidroviário) e porque Santos e Miritituba são os principais portos utilizados para exportação de grãos da Região Centro-Oeste. Os especialistas atribuem a inflação do frete a três fatores: o atraso na janela da soja da safra 2020/2021, que levou à concentração de grãos no mesmo período para escoamento; a valorização dos grãos diante do dólar apreciado ante o Real, que aumentou a demanda para transporte fazenda-porto, e aos sucessivos aumentos do diesel. A safra de soja teve volume normal, apesar da menor produção de milho. Isso se refletiu em fretes muito altos até julho, em virtude do escoamento da soja, e depois declinaram, porque a necessidade de cargas era menor, mas se mantiveram acima dos valores do ano passado.

O Esalq-Log calcula que, no pico de movimentação da safra, quando há maior volume de cargas negociadas, a média de reajuste do mercado interno foi maior, da ordem de 35%, ante também o pico de escoamento da temporada anterior. No acumulado do ano, a alta foi de 13%. A acentuação do aumento deve-se ao acúmulo de grãos para transporte no mesmo período em virtude do atraso na janela da soja 2020/2021. Vários Estados colheram a maior parte da safra juntos, em curto espaço de tempo. A necessidade de transporte na fazenda foi muito concentrada e intensa no território brasileiro. Os cálculos do Esalq/Log consideram o transporte de grãos de Sorriso para Rondonópolis (614 quilômetros), rota fazenda/indústria doméstica. Na base setembro, o valor do frete entre as mesmas cidades passou de R$ 95,92 por tonelada em setembro de 2020 para R$ 105,47 por tonelada no mês passado. Mesmo com 10 milhões de toneladas a menos de milho, o frete está maior em R$ 10,00 por tonelada, o que pode ser explicado pelo preço do combustível, com aumento de mais de 50% no óleo diesel.

A alta poderia ter sido ainda maior caso o País tivesse colhido uma 2ª safra de 2021 dentro da normalidade. A participação do combustível ia de 25% a 29% no preço do frete nas principais rotas agrícolas em setembro. Para este quarto trimestre, contudo, a perspectiva é de recuo nas cotações. A menor demanda pelo transporte rodoviário tende a compensar os eventuais novos aumentos do diesel. Isso porque nos últimos três meses do ano, sazonalmente, há menor escoamento de grãos, já que a safra de verão (1ª safra) está sendo plantada. Soma-se a este cenário a menor movimentação da safra de inverno decorrente da quebra na produção da 2ª safra de milho de 2021. Como já foi encerrada a colheita da 2ª safra de milho de 2021, os preços do frete devem cair até dezembro. A menor oferta do cereal e o fato de as exportações do grão serem inferiores vai refletir na diminuição constante da demanda por frete nestes últimos três meses. Contudo, as cotações do frete em Reais tendem a continuar superiores na comparação com igual período do ano passado puxadas pela valorização do óleo diesel.

O encarecimento do frete, de 13% no acumulado do ano, além de se refletir nos custos da cadeia, pesa sobre a precificação dos produtos agrícolas, reduzindo a competitividade dos grãos brasileiros e a rentabilidade dos produtores. A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) estima que a despesa no Brasil para levar soja até o porto seja 80% maior do que a média dos outros países. Levantamento do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Esalq/USP (Esalq-Log) mostra que todo o custo logístico (somando gastos rodoviários e portuários) alcança entre 30% e 40% do valor pago pela soja. Todos esses custos se refletem no preço final do alimento. Na ponta, quem sente o impacto é o consumidor. Na última safra, apesar do aumento do valor do transporte de 35% em comparação com 2019/2020, o frete representou em média de 10% a 15% do valor pago pela soja em Sorriso (MT) ante fatia de 20% a 25% reportada na temporada anterior. A valorização da commodity compensou os reajustes de movimentação de cargas.

Para Mato Grosso, maior produtor de soja e milho do País, o custo da logística representa uma fatia importante do preço recebido pelos grãos, já que o Estado está longe dos portos. O Movimento Pró-Logística observa que, na prática, o frete é pago pelo comprador do grão (trading ou fábrica doméstica) e não pelo produtor. Contudo, o valor do transporte é embutido no preço ofertado pelo comprador para a commodity, o que interfere na rentabilidade dos agricultores. No fim, quem paga a conta é o produtor, pois a fixação do valor da soja é definida pelo preço do produto no porto, incluindo todos os gastos logísticos que são descontados do comprador para o produtor. A FPA estima que a logística represente metade do custo de produção agrícola e que o frete foi um dos principais componentes de alta do custo entre as safras 2019/2020 e 2020/2021. Para o Movimento Pró-Logística, essa situação pode ser aliviada com a execução dos projetos públicos e privados para diversificação dos modais ferroviários e hidroviários e com investimentos especialmente no Arco Norte. De acordo com dados do Movimento Pró-Logística, 65% da safra brasileira ainda é movimentada por rodovias.

Não há gargalo para exportação da safra, porém há custo elevado. Quando a Ferrogrão for viabilizada, o frete será mais atrativo, também com a ferrovia EF-170, que vai ligar os estados de Mato Grosso e Pará. O Movimento Pró-Logística cita também a expansão da Ferronorte (EF-364, que liga Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), a conclusão da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico, que liga Mato Grosso e Goiás) como projetos em desenvolvimento para ampliação do modal ferroviário. Se esses projetos saírem, haverá uma melhoria muito grande no modal ferroviário brasileiro. No modal hidroviário, o setor espera maior oferta de transporte e menor custo mediante a aprovação da BR do Mar, que tramita no Senado Federal. Hoje, levar produto do Rio Grande do Sul para Recife (PE) é mais caro do que transportar do Rio Grande do Sul para a China porque há custos elevados de tripulação e óleo combustível marítimo. O Movimento Pró-Logística defende também como ações necessárias a ampliação da hidrovia no Rio Tocantins e a viabilização do uso do Rio Tietê, após dragagem. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.