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29/Set/2021

Diesel: reajuste impõe novo desgaste ao governo

O reajuste de preço do óleo diesel de 8,9%, anunciado pela Petrobras nesta terça-feira (28/09), vai chegar ao bolso do consumidor e se refletir nos indicadores de inflação nos próximos dias. Nas refinarias da estatal, a alta de R$ 2,81 por litro para R$ 3,06 por litro vale a partir desta quarta-feira (29/09). A resposta na bomba é quase imediata. Prova disso é que o aumento de 39% acumulado no ano pela Petrobras já foi totalmente repassado aos motoristas e a expectativa é que isso aconteça também dessa vez. Com a alta de hoje, a variação chega a 51%. Em resposta, caminhoneiros (grandes consumidores de diesel e base eleitoral do presidente da República) falam novamente em paralisação. A ameaça pressiona o governo. Da última vez que o clima esquentou, em fevereiro, Bolsonaro demitiu o presidente da Petrobras. Segundo o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), o problema é que, quando a Petrobras sobe o preço, o efeito é em cadeia.

O ICMS é calculado por uma alíquota sobre o preço. Então, automaticamente, aumenta o imposto. A tendência é ter repasse na revenda porque a alta de preços da Petrobras gera efeito em cascata. O anúncio da alta no diesel aconteceu em menos de 24 horas após a Petrobras convocar coletiva de imprensa às pressas para argumentar que não é a vilã dos altos preços dos combustíveis. Joaquim Silva e Luna, presidente da petrolífera, abriu a entrevista dizendo que não vai alterar a política de preços de reajustes, o PPI, e continuará acompanhando o mercado internacional e o câmbio. A fala contraria as intenções de Bolsonaro, que expressou ao Ministério de Minas e Energia (MME), o desejo de "melhorar ou diminuir" os preços dos combustíveis. Silva e Luna tampouco agradou o presidente da Câmara, Arthur Lira, que, após o anúncio do reajuste, convocou uma reunião com líderes para esta quarta-feira (29/09), para discutir alternativas. Poucos dias antes, também o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reclamou da pressão dos combustíveis sobre a inflação.

Entre os consumidores, os mais contundentes são os caminhoneiros. A Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava) avisa que a categoria está no limite, com o combustível subindo sucessivamente. Além de avaliar a realização de nova greve, os caminhoneiros pedem a atualização do piso mínimo do frete rodoviário. Uma revisão do frete pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) tem efeito direto na economia, já que a maioria da logística de produtos do Brasil é rodoviária. Esse é o grande prejuízo da alta do diesel na inflação, embora, a variação do preço do combustível não seja tão evidente no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Como não é comum o consumo do diesel por motoristas de passeio, seu peso no índice é pequeno. No ano, a inflação do diesel subiu 28%, enquanto a de todo grupo de combustíveis automotivos avançou 32%.

O problema é que o produto provoca outros aumentos de preço, dissociados dele. O gás de cozinha, por exemplo, tende a ficar mais caro com a alta do diesel. O preço do produto não sobe desde julho nas refinarias da Petrobras, mas, como o transporte do botijão é o principal custo dos revendedores, a tendência é que ele também encareça nos próximos dias. O mesmo vale para os alimentos. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), até o fim do ano deve ocorrer outros aumentos, porque o mundo está aquecendo e existe defasagem entre oferta e demanda. Então, vai continuar a ser um desafio, principalmente no ano que vem. Ao anunciar a alta do diesel, a Petrobras sinalizou que há espaço para novos reajustes. A estatal afirmou que a revisão de desta terça-feira (28/09) reflete apenas parte da elevação nos patamares internacionais de preços de petróleo e da taxa de câmbio. Concorrentes da estatal acusam-na de ter repassado apenas metade da defasagem do mercado internacional.

Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), para se alinhar de fato aos fornecedores externos, a Petrobras teria de reajustar o diesel em R$ 0,50 por litro e não em R$ 0,25 por litro. Segundo o Instituto de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), a Petrobras tem recorrido ao mercado futuro para oferecer preços melhores do que os negociados no mercado à vista. Mecanismos de hedge (proteção a variações pontuais) permitem que a empresa pratique preços não alinhados com o mercado externo por alguns dias. Neste mês, o diesel de baixo teor de enxofre ficou 3,7% mais caro no mercado à vista do Golfo do México, enquanto o valor da gasolina caiu 1,6%, de acordo com a Administração de Informações de Energia dos Estados Unidos (EIA). Isso justifica a alta do diesel, neste momento, e não a da gasolina. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.