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31/Ago/2021

Fretes marítimos: pandemia provoca alta de preços

A pandemia de Covid-19 afetou e tem afetado não somente os preços das commodities agrícolas, mas toda a logística de comércio internacional. O transporte de mercadorias mais comum entre países é o marítimo, com cerca de 90% do transporte global realizado por essa via, de acordo com dados do porto de Los Angeles, maior porto norte-americano. A pandemia afetou a capacidade portuária, visto que os portos diminuíram a entrega e o recebimento de cargas por causa da doença. Toda rede de transporte marítimo é prejudicada quando ocorre paralisação num porto ou num canal, por ser intrinsecamente interligada. Contêineres, por exemplo, quando presos, atrasam a eficiência da rede de transportes como um todo. O navio "Ever Given", por exemplo, encalhou no canal de Suez, bloqueando uma das principais vias marítimas, e o fechamento parcial de dois portos chineses (de Yantian e Ningbo), devido à infecção pelo coronavírus de estivadores, é outro caso.

Após o impacto inicial causado pela pandemia, a retomada das atividades comerciais agravara o cenário: o número de encomendas por insumos e mercadorias aumentou acima da capacidade dos armadores e terminais portuários, encarecendo o frete. De janeiro de 2020 a agosto de 2021, o frete marítimo para contêineres de aço com 20 pés subiu em média, 586,1%, saindo de US$ 1.461,00 para US$ 10.024,00 (20/08). Na China, maior exportadora de produtos manufaturados, onde se acumulavam produtos nos armazéns e nos portos por falta de contêineres, o aumento da demanda resultou no aumento do custo de transporte de contêineres para todas as rotas com origem em portos chineses. Essa situação gerou congestionamento dos navios porta-contêineres e falta de contêineres (por conta da paralisação da indústria ocorrida durante o agravamento da pandemia), que contribuiu para o aumento do frete marítimo.

O interessante é que os aumentos de preços mais relevantes ocorreram, principalmente, dos trajetos Ásia/China para Estados Unidos/Europa. Entretanto, o contrário não aconteceu na mesma proporção. Os estímulos fiscais adotados pelo governo dos Estados Unidos tiveram como consequência um aumento drástico no consumo de mercadorias por parte dos norte-americanos, impactando não somente nos preços nominais dos produtos de consumo, mas também no volume de mercadorias trazidas para o país. Dessa maneira, o porto de Los Angeles foi o primeiro porto no hemisfério oeste a registrar mais de 1 milhão de contêineres movimentados em um único mês. O volume importado de mercadorias expressivamente superior à exportação ocasionou um grande déficit na balança comercial norte-americana.

O Brasil tem pouca relevância no comércio de manufaturas, comparativamente com o comércio de commodities, porém sua posição é de vulnerabilidade em termos de oferta, de preço dos serviços de transporte e de eficiência aduaneira-portuária. Além disso, em um cenário atípico como o exposto, o Brasil é tido como um país fora das grandes rotas do comércio mundial, formadas pela Europa, Estados Unidos e Sudeste Asiático, o que implica em dificuldades para utilização de contêineres. A exportação de commodities agrícolas, de uma forma geral, não é diretamente afetada, já que a exportação se dá através de navios afretados, porém os exportadores de produtos como café, carnes, açúcar e arroz sentiram os reflexos da escassez de contêineres. As indústrias brasileiras têm enfrentado maiores impactos. Além do aumento no valor do frete, na importação e na exportação, empresas estão tendo dificuldades no comércio exterior. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) realizou, em julho de 2021, uma consulta com 128 empresas e associações industriais.

Mais de 70% informaram ter sofrido com a falta de contêineres ou de navios e mais da metade sofreram com o cancelamento ou a suspensão de alguma escala de programa ou serviço regular. Além disso, a consulta revelou que 96% observaram um aumento no valor do frete de importação e 76% nas exportações. O cenário de preços altos do frete marítimo pode se prolongar por meses, mas com possíveis ajustes após as altas, em função das dificuldades logísticas para escoar o volume acumulado de cargas e do início de recomposição de estoques, principalmente chineses, para as vendas de fim de ano nos Estados Unidos e na Europa. Entretanto, à medida em que a demanda seja atendida e as brechas na oferta corrigidas, a expectativa é de que o mercado marítimo internacional siga um caminho de normalidade. Espera-se que não ocorram outros impactos na navegação, principalmente em função de novas medidas de contenção do covid-19, mas cabe atenção aos casos da doença na China, que podem afetar os portos no país. Fonte: Alcides Torres. Agência Estado.