30/Ago/2021
O cenário global de escassez de navios e contêineres para exportação e a disparada dos fretes marítimos estão deixando um gosto amargo de oportunidade perdida para o agronegócio brasileiro. Embora o País esteja batendo recordes de faturamento nas vendas ao exterior, a sensação do setor é de que os números poderiam ser melhores. Para exportadores e operadores portuários, a situação não deverá melhorar antes do ano que vem. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), é complicado falar em aperto logístico ou reclamar quando o Brasil está batendo recordes. Mas. a percepção é de que poderia ser bem melhor, e isso significaria também mais divisas para o País. Em julho, as exportações do agronegócio brasileiro alcançaram US$ 11,3 bilhões, 15,8% mais que no mesmo mês de 2020 (os embarques nunca haviam superado US$ 10 bilhões em julho). Mas, esse crescimento refletiu sobretudo o aumento de preços dos produtos exportados, já que os volumes caíram 9,9%.
Estimativa do Conselho dos Exportadores de Café (Cecafé) aponta que, entre maio e julho, o segmento deixou de embarcar, por causa do problema logístico, cerca de 3 milhões de sacas de 60 Kg, ou US$ 445 milhões (considerando valores médios). Em abril, a taxa de rolagem (adiamento) dos embarques era de 20%. Em julho, foi para 40%, e agora, em agosto, estamos perto de 50%. Na área de carnes, a situação não é diferente. Em seus balanços do segundo trimestre, JBS e Marfrig relataram um pouco do reflexo do problema logístico. Na Marfrig, a escassez de contêineres atrasou exportações e tirou 2% de seu lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), com aumento dos estoques de R$ 700 milhões. A JBS relatou um impacto de R$ 3 bilhões provocado pelo aumento de estoques, um efeito colateral do apagão de contêineres. Se não fosse isso, seu lucro trimestral de R$ 4,4 bilhões poderia ter sido ainda melhor.
Num momento propício para mais vendas, há esse limitante, reforça a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). Para a sucroalcooleira Jalles Machado, o transtorno deverá ser de curto prazo. A falta de contêineres afetou os embarques de açúcar orgânico da empresa para os Estados Unidos entre abril e junho, e o gargalo deverá perdurar até setembro. Os fretes marítimos aumentaram cerca de cinco vezes no período, mas, ainda assim, essa deve ser uma questão pontual no resultado da empresa. O problema paira também sobre o exportador do arroz. Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), o alto custo dos fretes e a falta de contêineres fizeram o preço médio do transporte marítimo subir 217% em agosto na comparação com maio, com picos de até 450%. Esse cenário gerou perdas de R$ 36,4 milhões para o segmento no primeiro semestre deste ano.
Segundo a Maersk (maior armadora de contêineres do planeta), a perspectiva para a segunda metade de 2021 não é muito melhor. A empresa informou que fechamentos de portos na Ásia por conta da pandemia (como o de Ningbo, na China) prejudicou a produtividade do serviço logístico. Além disso, a recuperação econômica nos Estados Unidos e na Europa tem aumentado a demanda por navios e, consequentemente, também a busca por contêineres. Há um congestionamento logístico no comércio marítimo global que deve durar até 2022. Com isso, os fretes e congestionamentos devem se manter neste segundo semestre. Segundo a empresa de logística portuária Wilson Sons, além da dificuldade nos embarques há também atrasos na importação de itens importantes para o produtor rural, como os fertilizantes. Fonte: Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.