17/Ago/2021
A Boa Safra Sementes, que estreou na B3 em abril com sua oferta inicial de ações (IPO) deve investir até 2026 cerca de R$ 650 milhões em cinco novas unidades de beneficiamento e tratamento de sementes. Mais da metade dos recursos virão dos R$ 400 milhões captados no IPO e o restante, dos resultados dos próximos anos. A primeira planta, em Jaborandi, na Bahia, vai absorver em torno de R$ 100 milhões na primeira etapa da operação e agregar, a partir de 2022, uma capacidade de produção adicional da ordem de 1 milhão de sacos de 40 Kg de sementes por ano. Assim, a empresa poderá produzir até 4 milhões de sacos de 40 Kg por ano no próximo ano. Apesar de ser líder em sementes no Brasil, há vendas um pouco mais concentradas em Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais. A participação ainda é pequena nos mercados do MATOBIPA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) e no Pará. Esta planta servirá como plataforma de crescimento nestas regiões.
Em 2020, a Boa Safra foi responsável por 5,7% das vendas de sementes de soja no Brasil, com maior presença na Região Sudeste (13% de market share) e na Região Centro-Oeste (9,3%). Na Bahia, a empresa tem 4% das vendas de sementes de soja. Com a nova planta, deve acrescentar ao seu portfólio cerca de dez novas cultivares - hoje são 32. As ações da Boa Safra começaram a ser negociadas na B3 no dia 29 de abril. Um dia antes, a companhia havia informado ao mercado que o preço por ação no IPO seria R$ 9,90, no piso da faixa indicativa, de até R$ 12,60. Na estreia das negociações, as ações da empresa dispararam e fecharam em alta de 46,46%, cotadas a R$ 14,50. No dia 12 de agosto, as ações da empresa terminaram em alta de 1,6%, a R$ 14,58. A companhia encerrou 2020 com estrutura para produzir anualmente em torno de 2,5 milhões de sacos de 40 Kg. Neste ano, a capacidade aumentou 23%, para cerca de 3,975 milhões de sacos de 40 Kg, em razão de ampliações realizadas no ano passado, com recursos próprios, antes do IPO.
As obras envolveram as duas principais unidades de beneficiamento e tratamento de sementes da empresa, em Cabeceiras (GO) e Buritis (MG), de onde saem 80% das sementes comercializadas pela companhia. Há ainda outras três unidades arrendadas, em Formosa e Água Fria, em Goiás, e Planaltina, no Distrito Federal. A unidade de Jaborandi deve passar por mais duas ampliações até 2026, nas fases 2 e 3 do projeto. Até 2023, está prevista nova expansão da capacidade produtiva local, para 2 milhões de sacos de 40 Kg, conforme o prospecto definitivo do IPO, entregue pela companhia à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em abril. Dentro do plano de negócios da Boa Safra Sementes, outra unidade de tratamento e beneficiamento, no sul de Minas Gerais, deve começar a ser construída ainda este ano e entrar em operação em 2023. Nela, serão produzidas sementes voltadas principalmente às lavouras do sul de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e São Paulo.
A planta deve receber investimento similar ao projeto em Jaborandi. Há previsão de outras três unidades entrarem em operação até 2026, localizadas em regiões estratégicas escolhidas pela empresa para ampliar seu market share ou ingressar em novos mercados. Uma delas, a ser inaugurada em 2024, deve ser a primeira da Boa Safra em Mato Grosso, Estado no qual tem participação de mercado de aproximadamente 13%. Com esta unidade, a empresa pretende aumentar o market share no Estado. A quarta nova planta da Boa Safra Sementes está prevista para ser instalada no Piauí e ficar pronta em 2025. Com ela, a empresa pretende fortalecer o atendimento de produtores da região e do Norte do Brasil. No mesmo ano, devem começar as obras da primeira unidade da companhia na Região Sul do Brasil, no Paraná ou no Rio Grande do Sul. O Estado a receber o investimento ainda não foi escolhido. A produção de sementes deve ter início em 2026. A empresa não tem vendas na Região Sul atualmente. A expectativa é continuar crescendo em ritmo semelhante ao dos últimos anos.
A Boa Safra aumentou em 20 vezes seu tamanho nos últimos dez anos. Em 2020, registrou receita líquida de R$ 588,5 milhões, 45,5% acima dos R$ 404,4 milhões obtidos em 2019. O lucro líquido aumentou 163,3% no ano passado ante 2019, chegando a R$ 70,2 milhões. Em 2019, a receita líquida também havia crescido de forma expressiva, 29,8%. A expectativa é manter a trajetória de forte crescimento, é para isso que foi feito o IPO. Hoje, o cenário é muito bom para a soja, para as commodities agrícolas e o agronegócio brasileiro. Com a expansão territorial, será possível também ampliar a oferta de cultivares de sementes, de 32 atualmente para perto de 80 em cinco anos. A Boa Safra Sementes tem contratos de licenciamento de tecnologias com as principais detentoras de germoplasma do mercado, como Bayer, Syngenta, Corteva, GDM, TMG e Basf.
Após a seleção das variedades, com base em demandas de mercado, a empresa compra destas empresas sementes matriz para fornecer a produtores rurais integrados, que farão o cultivo e a multiplicação das sementes em campo. É depois disso que a empresa, em suas unidades, beneficia e faz o tratamento das sementes. Pela necessidade de plantar e multiplicar as sementes nas regiões às quais serão destinadas, em virtude de suas características e condições climáticas locais, e de transportá-las dos campos às plantas de beneficiamento, a Boa Safra precisa ter unidades próximas às áreas de cultivo. Normalmente, a empresa contrata produtores integrados, que vão multiplicar as sementes, dentro de um raio de 150 a 200 quilômetros da planta. Teoricamente, seria possível contar com campos (de multiplicação) de sementes na Região Sul, pegar o material e levar para a planta de Goiás para beneficiar, mas não seria viável economicamente, pelo frete.
Atualmente, a Boa Safra conta com 93 mil hectares de produtores integrados, de onde saem as sementes que a empresa beneficia e trata. Com a produção nestes campos, a companhia pode fornecer sementes para aproximadamente 2,8 milhões de hectares de lavouras. Em 2022, com a planta de Jaborandi, os campos de produtores integrados devem somar 115 mil hectares e a área coberta com sementes Boa Safra, 4 milhões de hectares. Isso representaria 73,6% acima dos 2,304 milhões de hectares cultivados com sementes de soja da empresa em 2020. Apesar do esperado aumento da produção nos próximos anos, a rede de distribuição da companhia, que hoje abrange 500 pontos de vendas, não deve crescer de forma expressiva no curto prazo. As novas unidades permitirão, efetivamente, diversificar a oferta de variedades para as lojas que já vendem sementes da empresa. Quando houver a planta no sul de Minas Gerais, por exemplo, a empresa chegará às mesmas revendas no estado de São Paulo com um portfólio maior.
Na Região Sul é onde será preciso um maior esforço, com abertura de pontos de venda do zero. No extremo norte também há poucas vendas e será necessário um trabalho comercial forte. A aquisição de novas empresas está no radar da companhia e pode contribuir para sua expansão, mas não é prioridade hoje. A empresa busca um crescimento orgânico (construção de novas plantas) e, se surgir uma boa oportunidade, com preço justo, avaliará. Eventualmente, a compra de uma empresa localizada em uma das regiões onde a Boa Safra pretende instalar novas unidades poderá alterar os planos de investimento para a localidade. Entre os atributos considerados em um possível negócio estão o tamanho da planta, preferencialmente de porte médio com possibilidade de ampliação, e sua localização. Outros diferenciais podem ser marca e acesso a clientes.
A companhia deve encerrar o ano de 2021 com uma capacidade de produção de 130 mil bags (sacas) de sementes de soja (cada bag guarda aproximadamente 5 milhões de sementes). Para 2022, a previsão é de capacidade de 170 mil bags. há perspectiva de demanda crescente por sementes de soja no País. Enquanto na safra 2020/2021 o volume foi de 2,12 milhões de bags, em 2026/2027 deve chegar a 2,40 milhões de bags. A empresa vem expandindo sua capacidade produtiva. Em 2021, a capacidade produtiva da companhia será 30% superior à do ano passado. A Boa Safra Sementes tem em sua carteira de pedidos, a serem faturados nos próximos meses, um montante de R$ 546,431 milhões, 188,3% acima dos R$ 189,522 milhões em carteira registrados no segundo trimestre de 2020. A perspectiva é de que a maior parte seja confirmada por produtores no terceiro e quarto trimestre. Os produtores têm antecipado as compras e os preços dos produtos (sementes) também estão aumentando. Além disso, a empresa está ampliando a capacidade de produção.
Geralmente, os pedidos em carteira se confirmam e o percentual convertido em faturamento é muito alto. A empresa tem, em média, no máximo 5% de cancelamentos na carteira. Historicamente, a empresa vende o equivalente a 92% da capacidade produtiva, ou algo entre 90% e 95%. Os produtores atualmente conseguem comprar insumos, como sementes de soja, com preços mais altos, e travar o valor da soja que será colhida em 2022 ainda mantendo sua rentabilidade. Os preços das sementes são fortemente influenciados pelos preços da soja no Brasil, já que o grão de soja é a principal matéria prima para produção de sementes. Entram no cálculo, ainda, os royalties pagos às empresas detentoras de tecnologias, custos com energia, funcionários e outros, além de químicos e moléculas utilizados no tratamento das sementes. Uma eventual redução das cotações de soja no futuro pode trazer para baixo os preços das sementes da oleaginosa.
O clima seco atual não afeta a companhia agora, porque as sementes que serão entregues a produtores rurais no segundo semestre já estão armazenadas em câmaras frias, aguardando o momento da entrega. A Boa Safra Sementes corrigiu alguns dados referentes ao seu resultado financeiro no segundo trimestre de 2021, divulgado no dia 13 de agosto, após o fechamento do mercado. O Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) atingiu R$ 17,966 milhões, 102,82% ante os R$ 8,858 milhões apurados em igual intervalo de 2020. O lucro líquido foi de R$ 11,7 milhões, 314,6% acima dos R$ 2,822 milhões registrados no segundo trimestre do ano passado. A dívida bruta em junho era de R$ 136,198 milhões e a líquida, negativa em R$ 49,660 milhões. Da dívida bruta, a maior parte, R$ 92,307 milhões, tem prazo de amortização de menos de um ano; outros R$ 31,630 milhões devem ser pagos entre 12 e 36 meses; R$ 8,870 milhões em 36 a 60 meses e R$ 3,391 milhões em um prazo superior a 60 meses. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.