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13/Ago/2021

Irrigação avança no Brasil com novas tecnologias

A agricultura irrigada avança a passos largos no Brasil. De meados dos anos 1980, quando cobria 1,5 milhão de hectares no país, passou a 5,1milhões de hectares em 2014 e a 8,4 milhões de hectares em 2020. Mas, tão importante quanto multiplicar quase seis vezes a área irrigada, foi garantir a evolução dos sistemas empregados a campo, com maior eficiência no uso da água, energia, mão de obra, automação e operacionalização. Sistemas pressurizados de irrigação por aspersão convencional e mecanizados, de irrigação localizada por gotejamento e microaspersão, ocupavam menos de 10% do total irrigado e agora alcançam 65%, com destaque para o sistema de pivô central que, nos últimos cinco anos responde por 46% da área irrigada no Brasil. E a situação atual da agricultura irrigada no País é de grande potencial de crescimento.

Estudos da Esalq - Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) - Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), indicam um potencial de crescimento de até 55 milhões de hectares em áreas de intensificação (sobre agricultura de sequeiro) e de ampliação (sobre áreas de pastagem), sendo 13,69 milhões de hectares destes de potencial efetivo a curto e médio prazo. Isso é possível porque foi ampliada a capacidade de implantar de forma sustentável novas áreas irrigadas, multiplicaram-se os grandes projetos em diversas regiões e a eficiência do sistema de produção irrigada tornou-se rotina no agronegócio brasileiro. Também foi aumentada, em quantidade e qualidade, a capacidade industrial e de importação de sistemas de irrigação convencionais, mecanizados, localizados e acessórios. Sem falar na área comercial e de serviços, que vêm a cada dia se profissionalizando no planejamento, implantação e operação de áreas irrigadas nas mais diferentes condições edafoclimáticas do Brasil.

Por fim, houve evolução no conhecimento e formação técnica dos profissionais que atuam no setor, tanto na iniciativa privada como na pública. Dentro deste panorama de crescimento do passado, presente e futuro, é importante ter em conta esse desenvolvimento nos sete principais biomas brasileiros. Neste artigo, serão analisados dois deles: o bioma Cerrado, que se estende da parte central ao Norte e Nordeste do Brasil e que há anos é onde mais se expande a irrigação no Brasil, e o Pampa, na Região Sul, com alto potencial de crescimento. Não à toa, o Cerrado é um dos principais polos da irrigação no Brasil. Segundo maior bioma do País, ele ocupa uma área de 2 milhões de Km² (200 milhões de hectares), equivalente a 24% do território nacional e tem clima tropical, com as estações seca e chuvosa bem definidas e presença de veranicos. Os solos, por sua vez, são profundos, bem drenados, com baixa fertilidade natural e acidez acentuada. A temperatura média anual varia entre 21,3°C e 27,2°C e o relevo oscila entre o plano e suavemente ondulado, que favorece a agricultura mecanizada e o uso de sistemas de irrigação do tipo pivô central.

Outros sistemas de irrigação também estão presentes, como o gotejamento, principalmente nas culturas do café, batata, cana-de-açúcar, olerícolas e frutíferas. E a aspersão convencional, que se estende por áreas pequenas e médias, com pastagem, milho, feijão, batata e cana-de-açúcar. Por último, o carretel autopropelido é muito usado na fertirrigação com vinhaça na cultura da cana-de-açúcar. Com tantas condições edafo-climáticas e topográficas que favorecem a adoção da agricultura irrigada, a região tem colhido bons frutos ao longo dos anos. De 1980 para 2020, a área plantada no bioma passou de 4,5 milhões de hectares para 18 milhões de hectares, enquanto a produção saltou de 5,2 milhões de toneladas de grãos para 100 milhões de toneladas, um crescimento de quatro e vinte vezes, respectivamente.

Essa espetacular ampliação na produção e produtividade faz com que as áreas de Cerrado respondam por expressivos percentuais da produção agropecuária brasileira: de 50% a 60% do total de carne bovina produzida no País, 50% a 60% da soja, 30% a 40% do milho, 95% a 98% do algodão, 45% a 47% da cana-de-açúcar, 40% a 45% do feijão, 85% a 90% do sorgo e 25% a 30% do café. Protagonista na produção nacional de alimentos, fibras e agroenergia, o bioma é destaque ainda no uso de sistemas de produção sustentáveis, como o plantio direto, que é aplicado em cerca de 60% da área cultivada, e o sistema de integração lavoura, pecuária e floresta (ILPF). Em todo esse desenvolvimento da região do Cerrado, a agricultura irrigada tem um espaço especial, sendo a grande fronteira da irrigação por aspersão mecanizada do tipo pivô central. Afinal, foi no bioma que essa tecnologia encontrou uma grande área de expansão, graças ao clima, relevo, disponibilidade hídrica e tipos de solo, que lhe permitem ocupar extensas áreas de milho, soja, algodão, feijão, pastagem, café, batata, cana-de-açúcar e, nos últimos anos, chegar até a lavouras de trigo.

Devido à sua alta facilidade operacional, de automação, eficiência de aplicação de água, durabilidade e capacidade de irrigar grandes áreas, o pivô central ocupou o espaço que tem hoje em toda região do Cerrado e, em especial, nas áreas do MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí r Bahia), com destaque para a região oeste da Bahia e áreas complementares nos estados do Maranhão, Tocantins e Piauí. Em Minas Gerais, está presente no Noroeste, Norte e Triângulo Mineiro. Em Goiás, chega a Rio Verde e Cristalina, enquanto em Mato Grosso predomina mais ao sul. Conforme a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), o sistema de pivô central ocupa 1,5 milhões de hectares no Brasil e sua concentração está no Cerrado brasileiro, onde encontrou terreno fértil para crescer e demonstrar todo seu potencial, que agora serve de exemplo para produtores de outros biomas, como os Pampas. O Pampa gaúcho possui uma grande biodiversidade e abrange a maior parte do Rio Grande do Sul, ocupando cerca de 63% do território do Estado e, ainda, porções territoriais nos países vizinhos, Uruguai e Argentina.

Como o significado do próprio nome, o Pampa se caracteriza por ser uma região plana, com extensas áreas de solos de várzea, onde predomina a produção do arroz e carnes. O Rio Grande do Sul é o principal Estado produtor de arroz do Brasil, sendo responsável por cerca de 60% da produção orizícola nacional. As áreas de produção de arroz são tradicionalmente irrigadas por inundação, um sistema de baixa eficiência e, que devido às perdas por evaporação da superfície solo-água e pelo movimento descendente da água no interior do solo (percolação), apresenta uma elevada demanda hídrica. Considerando o cenário mundial atual, que se caracteriza pela crescente demanda por água e energia, bem como a preocupação com os impactos ambientais associados aos diversos processos produtivos, especialmente no agronegócio, a viabilidade econômica e a própria sustentabilidade dos sistemas de irrigação ficam na dependência do uso mais eficiente dos recursos hídricos e energéticos disponíveis.

Com a necessidade da utilização de técnicas para otimizar o consumo de água na agricultura, a utilização de sistemas de irrigação por aspersão (pivô central e lateral móvel) se apresenta como uma alternativa para o cultivo do arroz na Região Sul do Brasil, principalmente em áreas onduladas, com maior declividade e menor disponibilidade hídrica. E as vantagens não param por aí. Utilizar a irrigação por aspersão na cultura do arroz permite a adoção do plantio direto e sistema de cultivo com rotação de culturas como soja e milho, práticas que são seriamente limitadas na irrigação por inundação devido ao uso de áreas de baixada naturalmente mais úmidas. A irrigação por aspersão permite ainda a implementação do sistema de integração lavoura-pecuária, bem como a utilização da prática de fertirrigação, e, por não utilizar taipas (que mantêm a água dentro dos tabuleiros de arroz), facilita operações mecanizadas de semeadura e colheita. Quando se fala de irrigação no Brasil, pode-se dizer que hoje os produtores contam com as tecnologias de mais alto nível disponíveis no mundo.

A exemplo dos sistemas inteligentes de irrigação capazes de ser acionados e acompanhados por smartphones, de armazenar dados e informações na nuvem, nortear o manejo da irrigação de forma remota e identificar pragas e outros fatores redutores da produtividade nas lavouras. O grande desafio para o desenvolvimento da agricultura irrigada nas diferentes regiões brasileiras é, na verdade, a aplicação das tecnologias de diferentes áreas do conhecimento para extrair a máxima produtividade e rentabilidade das culturas agrícolas, manejando de forma sustentável a água e a energia nas lavouras para se obter a máxima eficiência do sistema de irrigação. Com isso em vista, a expectativa é que, num futuro próximo, as empresas deixem de ser apenas fabricantes de peças e equipamentos de irrigação para serem impulsionadoras de tecnologias para a agricultura irrigada. E a tecnologia vai muito além da venda de equipamentos, ela deve estar embarcada no pacote de serviços e soluções oferecido ao produtor rural. Fonte: agTechGarage. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.