08/Jun/2021
Entidades e especialistas avaliam que avanços nesse campo devem combinar o aperfeiçoamento de aspectos regulatórios, investimento em novas tecnologias, consolidação do foco na preservação das bacias hidrográficas e o enraizamento de paradigmas do ESG (boas práticas ambientais, sociais e de governança). O ESG virou métrica financeira, orientando investimentos. O grande produtor, lincado ao mercado internacional está mais preocupado com isso e buscando o uso da água com mais racionalidade. Segundo a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), o Brasil terá de se adaptar rápido. O risco é uma linguagem direta para o setor financeiro e o investidor. Há uma consciência maior do setor privado sobre o risco e a crise da água é um dos cinco temas mais importantes para se pensar o futuro no Brasil e no mundo. Essa equação combina o risco regulatório (associado à outorga e impactado pela expectativa de maior escassez de água), questões climáticas, financeiras e a reputação das empresas.
Uma tendência relevante é que o cuidado com toda a cadeia produtiva ganha importância. Há uma mudança sistêmica. Essa é a década da ação, de trazer valor agregado à atividade produtiva. Para a Abag, introjetar o ESG na matriz de sustentabilidade, que já é bastante avançada no Brasil, é o desafio colocado para o agronegócio. Essas premissas estão na equação de traders e instituições financeiras, influenciando o acesso a recursos pelas empresas e novos investimentos. No futuro próximo, o consumo de água deve tornar-se um indexador. É preciso estudar as métricas de consumo adequadas e estabelecer um controle mais efetivo do volume disponível e do que é usado. A tendência é um aumento nos valores de outorga. A Embrapa destaca a necessidade de corrigir a regulamentação ambiental. Uma outorga leva até dois anos para ser concedida e muitas empresas iniciam sua operação antes. É preciso melhorar a legislação. Para Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) passos novos na regulação poderiam estimular e potencializar o reuso, com parâmetros e incentivos para essa prática; assim como o reconhecimento da preservação da água como utilidade pública.
Para os especialistas, também é possível avançar no campo da assistência técnica, com equipamentos de mais baixo custo e operação simplificada. A preservação de nascentes é uma medida emblemática, mas não resolve o problema sozinha. Há que pensar na conservação do solo de forma mais ampla. A preservação das bacias hidrográficas, com práticas de manejo e conservação mais aderentes ao potencial de cada região, é vetor estratégico para induzir a produtividade futura do agronegócio. Se houver um gasto acima do estoque não funciona. É preciso entender a capacidade de cada bacia, estabelecer uma gestão sustentada e controles mais eficientes. É preciso fomentar boas práticas junto ao produtor rural. Quando se combina conservação com produção, há mais sustentabilidade no longo prazo. O desenvolvimento de culturas mais resistentes à escassez segue na pauta do desenvolvimento tecnológico do agronegócio.
A Embrapa Cerrados destaca que a genética é uma ferramenta que leva tempo, mas traz resultados positivos quando bem aproveitada. Pesquisas da instituição em busca de plantas mais tolerantes à seca e eficientes no consumo de água registram avanços em culturas como a soja e a cana-de-açúcar. Um programa de melhoramento de sementes deve agregar atributos além da produtividade. É preciso pensar no ganho ambiental e social. Em outra vertente, o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) estabeleceu parceria com a Embrapa Hortaliças para ampliar a matriz hídrica, atender comunidades isoladas e viabilizar a agricultura irrigada de menor porte em áreas de vulnerabilidade social. O projeto cria mecanismos para reuso da água de esgoto na plantação de hortaliças. Resultados parciais indicam que a água obtida é adequada a irrigação das plantas. O objetivo do IICA é levá-lo para regiões do semiárido brasileiro, nos estados do Ceará, Piauí e Paraíba. Fonte: Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.