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26/Mar/2021

Frete entre Brasil e China dispara com pandemia

A desorganização dos fluxos do comércio global provocada pela pandemia, que fez explodir o preço do frete entre China e Brasil, hoje cinco vezes mais caro do que um ano atrás, e elevou o custo de importação de insumos pela indústria. Agora, ameaça atrapalhar as exportações de carnes e frutas. A falta de contêineres refrigerados, essenciais para o transporte desses produtos, vem atrapalhando embarques. O bloqueio do Canal de Suez, que fica no Egito e por onde passam 10% do comércio global, após um navio encalhar na quarta-feira (24/03), poderá agravar ainda mais o problema. O auge recente da escassez de contêineres refrigerados, antes do bloqueio de Suez surgir no radar, ocorreu no fim do mês passado, segundo a Hamburg Süd (transportadora marítima integrante do grupo dinamarquês A.P. Moller-Maersk). Esse desequilíbrio se insere no contexto mais amplo da desorganização dos fluxos de transporte, cujo maior reflexo é o encarecimento do frete para a China, fenômeno global verificado desde meados de 2020, que ainda não foi dissipado.

No início da pandemia, restrições ao comércio e ao transporte e a queda na demanda paralisaram navios mundo afora. No segundo semestre, a demanda por bens, já turbinada pelo fato de que, por causa do distanciamento social, famílias do mundo todo passaram a gastar mais em produtos do que com serviços, voltou mais rapidamente do que o esperado, levando a uma corrida pelos serviços de transportes. Houve falta de contêineres e navios, enquanto as operações seguiam, em alguma medida, mais lentas por causa dos protocolos contra a Covid-19. A situação foi definida por empresários do setor de transporte marítimo como “tempestade perfeita”. Como resultado, o preço médio do frete para a China disparou. Na terceira semana do ano, o frete entre Brasil e China estava quatro vezes e meia acima do início de 2020 e 18 vezes mais caro do que em meados do ano passado. De lá até a semana passada, a terceira deste mês, esse preço médio teve um alívio, com queda de 23%, mas ainda está 405% mais caro do que em igual período de 2020.

Com o encarecimento do frete para a China, insumos para fabricar produtos como eletrodomésticos, eletrônicos e roupas ficam mais caros, pressionando essas indústrias a aumentarem os preços ao consumidor. No lado das exportações, os mais prejudicados são os produtores de carnes e frutas porque os desequilíbrios na logística se concentram na movimentação de cargas em contêineres. Os principais itens exportados pelo Brasil (soja, milho e minério de ferro) são transportados em grandes navios graneleiros fretados por inteiro. Os custos, normalmente, ficam com o comprador, ou seja, o quadro afeta pouco os exportadores dessas commodities. Segundo a Hamburg Süd no Brasil, até o fim de fevereiro, a empresa deixou de entregar 5% do volume total de exportações refrigeradas com o qual se comprometeu em contratos. Para resolver o problema, a empresa está fazendo uma busca ativa por contêineres, evitando descartar contêineres antigos cuja vida útil pudesse ser ampliada com manutenção e alugando navios adicionais.

A expectativa era regularizar o fluxo, carregando toda a carga contratada no longo prazo, até a próxima semana, quando as primeiras informações sobre Suez ainda sugeriam uma rápida desobstrução. No Brasil, os contêineres refrigerados são usados basicamente para exportações de carnes e frutas. Mas, não dá para comparar os embarques de carnes com os de frutas. Maior produtor e exportador global de carne bovina, o Brasil mandou para o exterior 2 milhões de toneladas de carne vermelha ano passado, uma receita de US$ 8,5 bilhões, conforme a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). Já os produtores de frutas venderam para o exterior 1 milhão de toneladas (manga, melão, uva e limão são os destaques), com receita de US$ 876 milhões, mostram dados da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafruta). Um cliente grande de limão, por exemplo, exporta 600 contêineres por ano. Um cliente grande de carne exporta mil contêineres por semana. Por isso, os transportadores dão preferência para as exportações de carnes. Os clientes são grandes companhias, como JBS, BRF e Marfrig.

Além disso, a produção de carnes não tem muita sazonalidade, com embarques constantes ao longo do ano, o que permite firmar contratos de frete de mais longo prazo. Os preços do frete para a China que dispararam, medidos pelo SCFI, são de contratos negociados semana a semana, no chamado mercado de spot, geralmente, mais elevados do que os de longo prazo. Já as frutas têm safra, com picos de produção. Grandes produtores de melão também costumam firmar contratos de longo prazo para transportar exportações, mas muitos pequenos produtores e cooperativas recorrem ao mercado spot. Diante dos desequilíbrios, a Hamburg Süd abriu mão, por exemplo, de fechar contrato para transportar as exportações de maçã de Santa Catarina. Também deixou de transportar exportações de ovos. A expectativa era de participação forte na safra de maçã brasileira, mas foi preciso recuar. O segundo trimestre do ano é marcado pela safra de frutas em diversas regiões do mundo, elevando a demanda por contêineres refrigerados, o que contribui ainda mais para a escassez desses equipamentos.

O quadro pode se agravar com o bloqueio do Canal de Suez por causa de um efeito indireto. O Canal liga o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho, no Oriente Médio, com acesso ao Oceano Índico. A principal rota de comércio que passa por ali liga a Ásia, com destaque para a China, à Europa, e leva muita carga refrigerada. Com uma grande quantidade de contêineres frigoríficos presa nos navios “engarrafados” em Suez, a escassez global desses equipamentos poderá aumentar ainda mais. Para a Abrafrutas, a desorganização global dos transportes afetará as exportações brasileiras de frutas de forma inevitável. Isso porque o transporte aéreo, usado nas frutas frescas de alto padrão, também está em crise, pois boa parte das cargas era embarcada em voos de passageiros, travados desde o ano passado por causa da pandemia. A saída dos produtores será escoar as frutas tipo exportação para o mercado nacional. O Brasil exporta de 2% a 3% da produção total de frutas, em volume. A única boa notícia é que, para os consumidores, poderá haver algum alívio nos preços. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.