ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

22/Fev/2021

Máquinas Agrícolas: reajustes não afetam vendas

A valorização do aço no mercado internacional, combinada com a firme apreciação do dólar em relação ao Real, vem obrigando a indústria de máquinas agrícolas a fazer reajustes superiores a 20% nos preços finais. Novos aumentos não estão descartados na medida em que siderúrgicas nacionais seguem reportando altas nos valores cobrados de clientes pelo aço. Segundo o presidente da AGCO América do Sul, Luis Felli, a empresa recebe sucessivas solicitações de reajuste e a indústria não tem outra alternativa a não ser repassar isso para seus preços. A AGCO é um dos três maiores grupos de maquinário agrícola presentes no Brasil. Já foram feitos reajustes de preços e devem ser feitos mais. Felli estima que o mercado de máquinas agrícolas em geral tenha elevado os valores de seus produtos em cerca de 20% desde meados do ano passado, de forma gradual. Nesta conta está a valorização cambial, já que o aço é cotado em dólar, mas as compras feitas de siderúrgicas nacionais são realizadas em real. Parte dos componentes das máquinas também é importado.

De modo geral, ao menos metade das peças são produzidas nacionalmente, para atender a exigências do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar as máquinas. Mas, máquinas com componentes importados de alta tecnologia tendem a subir mais rápido do que as de menor tecnologia. A Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Abimaq (CSMIA) considera que o aumento dos preços de maquinário pode ter chegado a 40% em alguns casos e, ainda assim, não refletiu toda a alta de custos das empresas. Desde o fim de 2019 o aço se valorizou em torno de 90% no mercado internacional, ao mesmo tempo em que o dólar também passou por forte valorização (25% aproximadamente). O repasse foi feito pela indústria a partir de julho e foi necessário porque é muito grande a diferença de preços. Mas, as empresas ainda não estão repassando tudo, muitas não fizeram isso, porque o mercado de máquinas agrícolas é muito competitivo e há uma disputa grande por share.

A Câmara reúne mais de 400 fabricantes de maquinário para preparo do solo, plantio, trato cultural, colheita e pós-colheita, criação de animais, tratores, estruturas para armazenagem de grãos, peças e componentes. Na New Holland, marca de maquinário agrícola da CNH Industrial, poucos reajustes foram feitos até o momento, mas a companhia está finalizando um estudo para definir como e quando repassar os sucessivos aumentos do aço e do câmbio. Por enquanto, a empresa tem absorvido esse custo maior, o que diminui a rentabilidade. Houve alguns aumentos por causa do câmbio, mas nem perto da valorização total do dólar, afirmou o diretor de Marketing Comercial da New Holland Agriculture para a América do Sul, Gustavo Taniguchi. A empresa fez os reajustes anuais de praxe na indústria, considerando inflação e custos de produção, em linha com os praticados em anos anteriores. Quase todas as empresas fizeram aumentos no terceiro trimestre. Novas altas nos valores cobrados pelo aço neste ano estão sendo considerados no estudo em curso na companhia.

Só em 2021, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) anunciou dois acréscimos, de 10% no início de janeiro e outro de 15%. Além disso, Usiminas e Gerdau seguem na mesma direção. As altas são sustentadas por uma série de fatores: valorização da commodity no mercado internacional, aquecimento do mercado brasileiro em construção civil, linha branca, veículos, implementos agrícolas e rodoviários e embalagens metálicas. Há também pressão pela alta dos custos das siderúrgicas, com avanços nos preços do minério de ferro, carvão e coque. Felli, da AGCO, lembra que não foram só os custos com aço que subiram. A alta do petróleo no mercado internacional também afeta a indústria, já que os preços de outras matérias-primas usadas na produção de maquinário, como plástico e borracha dos pneus, são influenciados pelas cotações do combustível. É uma avalanche de aumentos do custo. A demanda estava represada (por causa da pandemia de Covid-19) e agora o mercado global está sendo retomado.

Apesar da alta dos preços das máquinas agrícolas, a boa rentabilidade de produtores rurais na safra 2019/2020 e projetada para 2020/2201 alimenta o otimismo da indústria e sustenta perspectivas de aumento nos volumes neste ano. A AGCO América do Sul espera um aumento da ordem de 15% nas vendas do setor. A Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA), da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), prevê alta de 10% no faturamento da indústria, já considerando reajustes no preço do aço que vêm sendo feitos por siderúrgicas neste ano. Pode-se dizer que os preços da soja e do milho dobraram no último ano, enquanto os valores das máquinas agrícolas aumentaram em torno de 20%. Então a relação de troca ainda está muito vantajosa para o produtor, afirmou Felli. Ele lembra que no último ano o preço da soja passou da faixa de US$ 8,00 por bushel para US$ 13,50 por bushel agora, ao mesmo tempo em que o dólar saiu de R$ 4,00 para R$ 5,40.

O produtor rural está em um momento bom, bem remunerado. O diretor de Marketing Comercial da New Holland Agriculture para a América do Sul, Gustavo Taniguchi, considera que o mercado de máquinas agrícolas deve avançar 5% neste ano. O ano de 2020 foi muito positivo, houve aumento da participação da empresa em todos os segmentos em que atua e a pretensão é continuar crescendo, em especial nas vendas de pulverizadores, colheitadeiras e em digitalização agrícola. As vendas estão aquecidas neste início de ano, mesmo com o esgotamento de recursos de linhas do BNDES que contavam com juros a taxas subsidiadas. O cenário de taxa Selic em patamar mais baixo, dizem, tem facilitado a procura por linhas de mercado em bancos privados e de fábrica. No Banco CNH, o CDC tem rodado bem e bancos convencionais também estão trabalhando com outras linhas. Hoje, há linhas em dólar e em euro competitivas, o BNDES Crédito Rural (linha do banco com taxas não equalizadas pelo governo), então o produtor está financiando por essas linhas, afirma Felli, da AGCO.

A demanda aquecida se somou à falta de peças e tem gerado atrasos na entrega de produtos. Desde julho do ano passado a indústria como um todo vem sofrendo de escassez de matérias-primas. Faltam aço, pneus, plásticos, por causa das paralisações das fábricas (no primeiro semestre de 2020 para tentar conter o avanço do coronavírus no Brasil), do desequilíbrio na cadeia de suprimentos e da lentidão na retomada da produção. O reaquecimento de alguns setores, como o automotivo, de construção civil, dentre outros, como o próprio agronegócio, também tem enxugado a oferta de matérias-primas para os fabricantes de máquinas agrícolas. Por outro lado, houve aumento da renda do produtor e uma tendência muito forte de ele fazer upgrade em suas tecnologias e máquinas. O grande desafio para o ano de 2021 é justamente poder atender a essa demanda. Hoje, a AGCO já está com sua capacidade produtiva tomada até o fim do segundo semestre, considerando os pedidos realizados por produtores rurais. Máquinas referentes a novos pedidos só entrarão na linha de produção no segundo semestre.

O prazo de entrega médio, de 60 dias, chega a 150 dias em alguns casos. Os estoques dos concessionários têm produtos para atender, em média, demanda para 30 dias, quando normalmente esse prazo seria de 60 dias. Há muita dificuldade em aumentar a capacidade de produção por falta de peças. O que pode não materializar a perspectiva de aumento de 15% do mercado neste ano é a oferta limitada, avalia Felli. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que reunia, até o ano passado, os três maiores grupos de empresas do setor, além de outras fabricantes (a John Deere deixou a associação em novembro), em 2020, as vendas de máquinas agrícolas e de construção aumentaram 7,3% ante 2019. A CSMIA, que reúne cerca de 400 fabricantes de maquinário para agricultura, pecuária e armazenagem, fechou 2020 com aumento de 17,6% em faturamento real (já descontada a inflação), que atingiu R$ 22,2 bilhões. É um aumento que não era visto desde 2013. Em torno de 60% do resultado foi sustentado por produtores de grãos. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.