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26/Jan/2021

Internet atinge só 23% dos agricultores no Brasil

Segundo pesquisa da McKinsey & Company, obstáculos para um campo mais tecnológico fazem com que apenas 23% dos agricultores tenham acesso à internet em toda a operação agrícola. O número cai para 13% em alguns segmentos, como o de algodão e o de grãos em algumas regiões. Outro levantamento sobre tendências, desafios e oportunidades para a agricultura digital, feito em parceria entre Embrapa, Sebrae e Inpe, mostrou que 57,5% dos produtores têm alguma rede social, incluindo o WhatsApp, e a usam para obter ou trocar informações sobre a propriedade. O estudo, no entanto, revela que a inserção tecnológica, em geral, não acompanha as etapas mais profundas dos processos produtivos. Além da agropecuária de grande escala, que responde pela maior parcela da riqueza produzida pelo País, é um Brasil rural pobre e médio, alicerçado em técnicas primitivas, que produz o alimento que vai parar nas mesas das famílias.

País afora, milhões de pequenos produtores têm na vida enraizada no campo o único incentivo para encarar a desigualdade e o atraso tecnológico. Dos 5 milhões de estabelecimentos rurais no Brasil, 76%, isto é, 3,8 milhões, não dispõem de processos tecnológicos de produção e escoamento da safra. Estudo da Embrapa que aponta que dos 3,8 milhões de estabelecimentos que geram renda, 2,5 milhões (ou 67%) são propriedades consideradas pobres, geridas especialmente por famílias dissociadas de grandes federações do setor e dos processos de modernização, e com renda mensal inferior a dois salários-mínimos (hoje, R$ 2.200,00). Na outra ponta, não chega a 25 mil o total de estabelecimentos que geram 52% do valor bruto da produção agrícola. São as fazendas exportadoras, com renda mensal superior a 200 salários-mínimos (R$ 220 mil).

Por vezes, o problema tecnológico está imbricado com o da energia: é preciso lidar com apagões de 30 horas que queimam equipamentos e exigem gastos extras com um gerador alimentado a diesel. A imprevisibilidade frustra o produtor. Atribuem-se mais de 60% do crescimento agrícola nos últimos anos à melhora tecnológica, que não é restrita à utilização de maquinário moderno. Desenvolvimento de sementes, acesso a insumos com preços menores, sistemas para venda com preços competitivos, meios para escoamento das produções, formação educacional de produtores e mecanismos para acesso rápido a crédito também fazem parte. Tal dinâmica forma as “imperfeições de mercado”, que penalizam os milhões de pequenos produtores. Estes acabam comprando insumos mais caros e vendem a preços mais altos. Assim, têm dificuldades em incorporar tecnologias, e a desigualdade se aprofunda. A tecnologia só é adotada se for lucrativa.

Com essa diferença de preços, a tecnologia que está tocando os grandes produtores, levando a agricultura brasileira a salvar a economia brasileira acaba não sendo adequada aos pequenos. Ela não traz lucro não pela tecnologia em si, mas pelas imperfeições do mercado. A desigualdade tende a piorar, mantendo milhões de famílias de pequenos produtores em condições adversas. Têm algumas políticas do governo, mas o que acontece basicamente é que a solução ainda não é suficiente para colocar os pequenos produtores para adotarem tecnologias e seguirem no caminho da grande produção. É um desafio a vencer: integrar na agricultura moderna os milhões de produtores que ainda estão à margem. O risco de aprofundamento da desigualdade é apontado pela própria Embrapa. No planejamento da entidade para 2030, o alerta: a tendência é a de que o quadro se torne irreversível. Essas tendências vêm caracterizando o desenvolvimento agropecuário brasileiro em praticamente todos os seus subsetores.

Nos próximos anos, esse movimento de concentração da produção (e da riqueza em geral) no campo brasileiro continuará sendo observado ainda mais, tornando-se uma tendência irreversível. E, sem dúvida, esse processo econômico concentrador produz implicações diretas para a ação governamental, incluindo a pesquisa agrícola, e para a disseminação das novas tecnologias. A falta de foco em avanço tecnológico nas pequenas e médias propriedades rurais não põe em risco, aparentemente, o espaço obtido pelo agronegócio brasileiro no mercado internacional, baseado nas commodities. Mas, expõe uma clara oportunidade desperdiçada de avançar em muitos setores do comércio agrícola externo. Por tabela, o País ignora debates de problemas como o êxodo rural, o empobrecimento de municípios do interior e mesmo conflitos de concentração de terra e assentamentos sem conexão com a rede de comercialização. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.