11/Jan/2021
A conectividade no campo brasileiro avançou aquém do esperado em 2020 pela Tim e há poucos dados sobre a ampliação do serviço por suas maiores concorrentes, Claro e Vivo. Isso porque as incertezas trazidas pela pandemia de Covid-19 levaram produtores e empresas a postergar planos de investimentos nessa frente e focar nas operações essenciais. No entanto, olhando para 2021, as principais operadoras do País traçam perspectivas mais concretas e ambiciosas de expansão da rede de internet banda larga em áreas rurais. Somadas as projeções de Tim e Claro com os dados atuais de cobertura (a Vivo não revela números), a extensão do campo com conectividade pode chegar a pelo menos 28 milhões de hectares, ante 5,1 milhões de hectares declarados pela Tim. Se as metas forem atingidas, representarão 40% da área plantada com grãos, de 67 milhões de hectares. O segundo semestre de 2020 foi bem mais ativo em negociações do que o primeiro e entre 70% e 80% dos projetos discutidos deverão se concretizar já neste primeiro semestre de 2021. Será um ano muito bom em fechamento de negócios porque se aprendeu muito com a pandemia, como, por exemplo, que não faz mais sentido mandar uma pessoa de moto para achar uma máquina no campo, embora isso ainda aconteça, segundo o diretor de Marketing Corporativo e IoT (Internet das Coisas) da TIM Brasil e líder do projeto "4G TIM no Campo", Alexandre Dal Forno.
De 2019 para cá houve um aumento exponencial da base de clientes agro. São boas as perspectivas para 2021 e se estima um crescimento de área coberta maior do que em 2020, segundo o head de IoT, Big Data e Inovação B2B da Vivo, Diego Aguiar, informando que em 2020 tanto o número de clientes do setor atendidos pela empresa quando o território rural com conectividade da Vivo aumentou de quatro a cinco vezes. Ele acredita que em um horizonte de dois a três anos o Brasil viverá um crescimento exponencial de área agrícola e de pecuária com conectividade. Enquanto Tim e Vivo pretendem manter a estratégia de atender "cliente a cliente", com projetos sob demanda e custos da estrutura (não apenas do pacote de dados) arcados por produtores ou empresas, a Claro anunciou no dia 16 de dezembro um modelo de atuação diferente: em parceria com a fabricante de máquinas agrícolas John Deere, pretende levar antenas e cobertura 4G a 15 milhões de hectares de lavouras em 2021, arcando com os custos da instalação das antenas. Os 15 milhões serão adicionais, porque a operadora já tem mais de 85 milhões de hectares cobertos no Brasil (entre áreas urbanas e rurais).
Onde houver demanda a empresa levará a estrutura, e se houver procura por mais do que 15 milhões de hectares a Claro está disposta a continuar investindo, segundo o diretor de IoT (Internet das Coisas) da Claro Brasil, Eduardo Polidoro. O investimento da Claro na instalação das antenas - estações rádio-base e sistemas de transmissão de dados - em propriedades rurais será feito a partir do mapeamento do número de agricultores interessados em cada região e a área a ser coberta, realizado pela rede de concessionários John Deere. A estimativa é de que entre 250 e 300 estações rádio-base sejam instaladas pela operadora no próximo ano. O "Campo Conectado", como foi batizada a iniciativa, prevê que a Claro deverá garantir conexão em 100% da fazenda com qualidade suficiente para colocar em prática a chamada "agricultura 5.0", explicou o diretor de ISG (Grupo de Soluções Inteligentes) da John Deere para América Latina, Rodrigo Bonato. Além de oferecer a cobertura, a Claro contará com um centro de monitoramento das operações em tempo integral e equipe exclusiva para atendimento do setor.
Por esses serviços, os produtores terão custo aproximado de R$ 20 por hectare por ano. Haverá também os gastos relacionados à quantidade de dados utilizada na fazenda. A operadora ainda não tem contabilizado quanto dos 85 milhões de hectares cobertos pela empresa no País são áreas de lavoura. Não existe informação oficial da área plantada brasileira cruzada com a cobertura de dados. Para isso é necessário o georreferenciamento dos polígonos das áreas agrícolas, e devem ser publicadas essas informações em breve. A parceria com a John Deere no levantamento da demanda foi determinante para a mudança no modelo de negócios da Claro, ao trazer uma demanda mais sólida para a Claro, que já existia. Só a John Deere tem hoje mais de 30 mil máquinas, de construção ou agricultura, com modem para ser conectado a algum serviço. A Tim mantém sua meta de levar a cobertura 4G a mais 8 milhões de hectares neste ano, além dos 5,1 milhões de hectares já atendidos, por meio da associação ConectarAgro, que reúne as fabricantes de máquinas agrícolas AGCO, CNH Industrial e Jacto, além de Climate FieldView (Bayer), Nokia, Solinftec, TIM e Trimble. Em setembro de 2020, Dal Forno, da Tim, havia contado que as negociações tinham sido retomadas, passado o período de insegurança mais crítico da pandemia, e que os projetos em discussão envolviam cerca de 20 milhões hectares.
Mas a Tim fechou 2020 com apenas 500 mil hectares, além dos registrados em 2019. A empresa esperava um segundo semestre mais ativo, mas para 2021 a meta é de 8 milhões de hectares a mais. O preço da soja nunca esteve tão alto e mesmo que o dólar caia um pouco ante o Real, ainda será bem mais alto do que em 2019. Isso faz com que grupos do setor estejam capitalizados e pensem estrategicamente, e conectividade é algo totalmente estratégico. Tanto a Tim, quanto a Vivo, pretendem continuar encarando a conectividade como um pilar para oferecer outros serviços de IoT. No ano passado, a Vivo fez uma demonstração na EsalqTec (incubadora de tecnologias para o agronegócio da Esalq) de soluções de 46 startups, das quais quatro entraram para seu portfólio de soluções. Nele estão, por exemplo, dispositivos de monitoramento da operação agrícola para colheitadeiras e tratores mais antigos ou que saíram de fábrica sem esses acessórios, sensores de umidade e drones. A operadora vem buscando mais startups para estabelecer parcerias, nas áreas de maquinário inteligente e acompanhamento do clima. Em outubro, a TIM lançou seu marketplace (mercado virtual) de soluções IoT para os segmentos de Agronegócio, Cidades Inteligentes e Utilities.
Para o agro, levou a Agrosmart, de Campinas (SP), que hoje monitora a produção de 800 mil hectares no Brasil, e espera em 12 meses aumentar o número de startups com soluções para o setor para dez, segundo Dal Forno. A iniciativa ainda não trouxe retorno financeiro, mas já está gerando negociações e propostas comerciais. Diego Aguiar, da Vivo, conta que a expansão da rede da Vivo como um todo no País também beneficia o setor rural, ao diminuir os custos para a operadora e para produtores de levar antenas às regiões mais distantes dos centros urbanos. Para levar a estrutura de conectividade até o meio rural, precisamos do backbone (ponto de saída, espinha dorsal da rede) e do backhaul (ligação do backbone até o ponto final onde se quer conexão). Há lugares em que o backhaul chega a 200 quilômetros, então é importante expandir a rede para diminuir o backhaul até o produtor rural. Segundo Aguiar, a Vivo investiu R$ 26,5 bilhões em conectividade no País nos últimos três anos. Ele defende a atuação da operadora com projetos customizados para cada cliente, em vez de ampliar a cobertura no campo de forma massiva.
A estratégia tem se mostrado bastante acertada e há boas perspectivas para 2021, especialmente em termos de demanda por soluções, segundo a Vivo. Após o anúncio feito pela Claro em dezembro, a Vivo passou a ser a única operadora sem parceria com empresas de máquinas agrícolas, possibilidade que ainda não foi avaliada pela companhia. Hoje, a empresa conversa com clientes de vários fabricantes de maquinário e isso tem seus prós e contras; não há preferência por marcas. A área de B2B (atendimento a empresas) da Vivo tem uma quantidade considerável de vendedores e parceiros de negócios no Brasil inteiro, e os parceiros de IoT também ajudam a trazer demanda. Ainda que com atuação centrada em médios e grandes produtores, as operadoras vêm buscando meios de chegar aos pequenos. A Vivo está em fase avançada de negociação com duas cooperativas. A Tim também prepara um modelo de negócios voltado a cooperativas, mirando os agricultores de menor porte. A empresa está trabalhando para isso e acredita que conseguirá anunciar algo no primeiro semestre deste ano. Hoje, a maior parte da demanda por conectividade recebida pela TIM vem de grandes produtores rurais e empresas dos segmentos de cana-de-açúcar, grãos e fibras. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.