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28/Out/2020

Conectividade: avanço em áreas rurais é um desafio

A revolução tecnológica chegou ao campo brasileiro, mas está longe de ser para todos. Enquanto nas zonas urbanas do País 91,5% da área total tem cobertura para conexão de celulares à rede 4G, nas rurais o índice é de 10,72%, o que pressiona a média nacional para 11,7%, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Ligados ao mundo somente com dispositivos móveis, e ainda com dificuldade de sinal nas fazendas, boa parte dos produtores pouco consegue aproveitar a onda de inovações criadas para melhorar sua atividade. Eles reivindicam um ambiente em que pessoas, máquinas e “coisas” estejam 100% conectadas para permitir a tomada de decisões em tempo real. No Censo Agropecuário de 2017, 1,43 milhão de produtores declararam ter acesso à internet, 909 mil via internet móvel e 659 mil por meio de banda larga fixa. Considerando que há no país 5,073 milhões de estabelecimentos rurais, significa que apenas 28 em cada 100 propriedades podem estar conectadas. Mas, segundo o Ministério da Agricultura, o número tende a ser menor.

Isso porque pode haver superávit de conexões em uma fazenda em relação a outra, além de sinal de celular débil fora do perímetro das cidades. Considerando também a internet via satélite e a rádio no País, 23% da zona rural, percentual estimado em estudo realizado em conjunto com a Esalq/USP. A minoria de estabelecimentos rurais conectados atualmente é formada sobretudo por grandes grupos, com capacidade de realizar investimentos elevados. Um exemplo é a Citrosuco, maior exportadora de suco de laranja do mundo. Com sede em Matão (SP) e receita líquida de R$ 3 bilhões por safra, a empresa planeja conectar, em até dois anos, 25 fazendas e 1,9 milhão de hectares com tecnologia 4G por meio do programa “4G TIM no Campo”. O contrato com a operadora de telefonia foi firmado no primeiro trimestre. O projeto, orçado em US$ 50 milhões, contempla aporte em infraestrutura, softwares e parcerias com startups.

Num segundo momento, a ideia é conectar as fazendas de laranja do grupo a quatro unidades de produção de suco e cinco terminais marítimos, afora caminhões e navios dedicados à exportação. O Grupo São Martinho, cuja receita líquida totalizou R$ 3,7 bilhões na safra 2019/2020, começará a testar o 5G já em abril de 2021 em sua unidade de Pradópolis (SP). A companhia fez acordo com a Ericsson para aumentar a velocidade de conexão das máquinas da usina e sua transmissão de dados. Enquanto o 4G lhes permitiu olhar para a operação em tempo real, e abandonar pen drives descarregados com delay na sede da fazenda, o 5G virá para dar autonomia a algumas atividades e corrigir desvios de rota remotamente. Com o 5G, haverá possibilidade de usar máquinas autônomas, de mudar a direção da câmera de um drone para identificar um problema no campo e de comunicar a empresa com outras para gerenciar estoques.

A São Martinho já investiu R$ 60 milhões para operacionalizar sua rede de banda larga privada, arquitetada pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), a mesma que deverá servir de base para suportar o 5G, quando ele for regulamentado. A rede própria fez da São Martinho “operadora de si mesma”, pois a empresa não encontrou operadoras interessadas no projeto de conectividade da companhia em 2014. Hoje, com 18 antenas, 33 estações de rádio que propagam o sinal de internet e quatro centrais de monitoramento das operações, a São Martinho acompanha 2,1 mil máquinas em 330 mil hectares de suas quatro unidades produtivas. Para cuidar somente da rede, tem quatro profissionais que se revezam em turnos. Com esse aparato, a empresa projeta que seu custo de produção poderá cair de R$ 2,00 a R$ 3,00 por tonelada de cana-de-açúcar colhida, o que, dentro da capacidade de moagem do grupo, de 24 milhões de toneladas, representaria uma economia de até R$ 72 milhões por safra.

Em Pradópolis, por onde começou a implantação do Centro de Operações Agrícolas (COA), o desempenho das 52 colheitadeiras avançou 11% nesta safra, para 1,1 mil toneladas de cana-de-açúcar colhida por dia por máquina, mais que o dobro da média do mercado. Nas pequenas e médias propriedades rurais onde a internet ainda não chega, o potencial de avanço é imenso. Segundo a Associação ConectarAgro, existe um falso sentimento de que propriedades maiores precisam mais de tecnologia que as demais, o que não é verdade. Um trator a 15 quilômetros por hora que erra a operação em uma linha de cultivo durante 1 minuto, gera 250 metros de trabalho mal feito. Há aí um problema grande para o produtor que é pequeno. Levar internet ao campo é uma forma de estimular o avanço tecnológico e reduzir custos produtivos, mas também de dar acesso à educação e até à saúde no interior do Brasil. Na hora da entrevista, o empregado de hoje quer saber se tem internet na fazenda antes mesmo de perguntar o salário.

Essa necessidade de conexão se evidenciou na pandemia, quando quem não tinha acesso à ficou isolado. No Brasil, é obrigação das operadoras dar acesso à telefonia fixa, mas o mesmo não vale para o acesso à internet. Integrante da ConectarAgro, ao lado de AGCO, CNHi, Climate Fieldview, Jacto, Solinftec, Trimble e Nokia, a TIM diz que está endereçando o tema da exclusão digital. A operadora afirma que, ao atender com conexão móvel 4G de 700 MHz projetos de grandes produtores em 2019, a TIM estabeleceu uma área de cobertura sobre 5,1 milhões de hectares que beneficiou 50 mil fazendas, das quais 90% com menos de 100 hectares. A meta até 2021 é expandir a rede para outros 8 milhões de hectares e atingir o público dos pequenos e médios também por meio de cooperativas. Uma torre cobre de 20 a 40 mil hectares e é um grande desafio juntar esses produtores. A Vivo afirma que a empresa estuda novos modelos de negócio para atender aos produtores menores, e está preocupada em levar também serviços que agreguem valor à produção como os dois que já possui, de monitoramento do clima e do maquinário.

A conectividade é o pilar de tudo, e isso poderia ser acelerado no campo com incentivos fiscais e direcionamento dos recursos do Fust à expansão da banda larga. No triênio 2018-2020, a Vivo investiu cerca de R$ 26,5 bilhões em conectividade nas zonas rural e urbana. Representante de 14 mil pequenas companhias que atuam em 5.000 dos 5.570 municípios do País, a Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint) defende a criação de um fundo garantidor de crédito com recursos do Fust para ampliar a rede de fibra ótica dessas empresas, que já responde por quase 60% da cobertura nacional da tecnologia. Os pequenos provedores têm dificuldade de conseguir crédito porque a rede de fibra em si não é aceita como garantia. Outra bandeira da Abrint é que a União arque temporariamente com os custos do aluguel dos postes por onde transita a rede, propriedade de empresas de energia. O custo do aluguel é, em média, de R$ 8,00 por poste por mês, que são colocados a cada 100 metros. Uma rede de 200 quilômetros, comum no campo, nos custa R$ 16 mil por mês e, assim, numa área remota a arrecadação toda não cobre a instalação. Fonte: Valor Econômico. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.