14/Set/2020
Com resultados positivos nos últimos anos e exportações recordes de segmentos estratégicos, mesmo durante a pandemia do coronavírus, a exemplo dos embarques de carnes e os grãos para o exterior, o agronegócio busca formas de otimizar recursos para ter maior competitividade. Neste sentido, uma tendência que ainda é incipiente, mas vem crescendo, é a locação de máquinas e equipamentos. A prática já é comum em países como Estados Unidos e Argentina. No Brasil, está mais presente na Região Sudeste por ser mais disseminada entre os produtores de cana-de-açúcar. Em alguns casos, onde as máquinas têm valor de mercado acima de R$ 2 milhões, pode ser uma alternativa para agricultores que precisam aumentar a eficiência de operações de campo, mas não têm capital para investir na renovação da frota, ou que desejam usar o recurso de outra forma.
Segundo a Tereos Açúcar e Energia Brasil, subsidiária da francesa Tereos, que tem sete usinas no país e mais de 1.000 máquinas alugadas, entre colhedoras de cana-de-açúcar, caminhões e tratores, entre outras, há oportunidades para a renovação dos canaviais e investimentos em tecnologia, enquanto é possível alocar recursos para máquinas e equipamentos. Isso, é claro, com um parceiro que ofereça a locação a custo competitivo. Durante a crise gerada pela pandemia, em que o setor sucroenergético foi bastante afetado, ter um montante de investimentos livre no fluxo de caixa se torna ainda mais essencial para as usinas. Em um momento de crise, ter a oportunidade de investimento através de um terceiro é bastante atrativo. A outra opção é não renovar a frota, o que acarreta custos maiores na manutenção dos canaviais. O setor de papel e celulose é outro que vem crescendo na locação de máquinas e equipamentos nos últimos cinco anos. Segundo a Vamos, empresa com cerca de 400 contratos e 14 mil equipamentos alugados (45% no agronegócio), há oportunidade em outros segmentos da cadeia agrícola.
A concentração de clientes da empresa está na Região Sudeste, onde o setor sucroalcooleiro é mais dominante. Mas, o objetivo é para levar para a Região Centro-Oeste, onde a predomina o setor de grãos. Por isso, das 14 lojas da Vamos voltadas para a venda e locação de maquinário, 11 estão na Região Centro-Oeste. A empresa investiu quase R$ 500 milhões em compras de máquinas para a locação, boa parte para o setor sucroalcooleiro, com cerca de 40% em 2019. A economia com o aluguel pode chegar a 30% nos casos de caminhões, e até 20% para as máquinas. Além disso, sem a necessidade de comprometer capital ou o crédito bancário. O modelo de negócios traz flexibilidade para as companhias do agro. Há algum tempo, não se falava em locação de carro leve. Hoje, as empresas só fazem a renovação da sua frota através desse modelo. No setor de máquinas agrícolas, isso é bastante maduro em alguns segmentos no exterior e é um caminho sem volta no Brasil, já que traz alternativas para o cliente. Segundo a Ouro Verde, companhia que também atua com o aluguel de máquinas e equipamentos, além dos grãos, também há oportunidades para crescer entre os cultivos de café e algodão.
Havia um preconceito em relação a locação de máquinas. Mas, a nova geração de sucessores está fazendo conta. Eles querem ter o equipamento disponível para a colheita a um custo competitivo. As empresas acreditam que outro incentivo para ganhar fôlego é a queda menor que o esperado nas taxas de juros em linhas do Plano Safra 2020/2021, como o Moderfrota. Muitos agricultores estão expandindo a área plantada e, algumas políticas financeiras que tinham juros muito atrativos, hoje já não é mais assim. Então, os clientes estão buscando outra forma de ter o acesso a esse equipamento. A Ouro Verde também atua em um modelo de parceria com os agricultores, onde é feita a compra do equipamento e, simultaneamente, o aluguel para o mesmo produtor. Hoje, a empresa é parceira de alguns clientes, onde é oferecido a compra dos ativos para que ele possa ter um fluxo de caixa, e, em paralelo, é feito um contrato de capital. As empresas não revelam o valor do aluguel para uma colhedora, trator ou pulverizador.
Este valor varia de acordo com a extensão da propriedade, quantidade de máquinas alugadas e o tempo dos contratos. No geral, a locação dura, em média, de 5 a 6 anos. Outra opção é oferecer a locação junto a um serviço. Há locações puras, como alugar em uma locadora, ou a locação que agrega algum tipo de serviço, como a manutenção das máquinas. Isso pode diferenciar essa oferta pelas empresas e agregar, já que a manutenção não é uma especialidade de quem aluga. Para Carlos Cogo, diretor da Consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio, a tendência é de crescimento desse tipo de operação nos próximos anos. "Nós estamos falando de médio e longo prazo porque é uma barreira cultural, que vai cair aos poucos. A chamada uberização de máquinas vai acontecer assim como acontece no setor de caminhões”, avalia. "Alguns produtores preferem ser donos da máquina. Mas aí, com as contas que nós fazemos para algumas situações, de usar a máquina uma ou duas vezes para o ano ou em uma janela curta, é mais interessante alugar um equipamento", completa. Fonte: A Granja. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.