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14/Jul/2020

Tecnologia: serviços permitem gestão a distância

De um sítio no Vale do Ribeira, no estado de São Paulo, onde tem passado a quarentena, o produtor Eduardo Godoi, sócio e diretor técnico da Agropecuária Reunidas do Papagaio, monitora quase tudo o que acontece a mais de 2 mil quilômetros de distância, em Sapezal (MT). A última vez que esteve na propriedade foi em 18 de março, quando o milho já tinha emergido do chão, após a soja ter sido colhida. Em 3,6 mil hectares, ele planta ano a ano a oleaginosa seguida do milho 2ª safra e do milho de pipoca, que cobrem 2,2 mil hectares da área total. O motivo para manter cada um dos cinco serviços digitais que assina vai muito além da vontade de operar remotamente o negócio, sendo fruto da busca por padronizar operações, reduzir custos e solucionar problemas recorrentes no dia a dia. Para o centro de inovação AgriHub, sediado em Cuiabá (MT), a pandemia pode ser considerada um catalisador da adoção de tecnologias no campo, porque muitos foram obrigados a experimentar ferramentas que estavam deixando para depois.

Claro que há categorias de serviços mais procuradas agora, como aquelas que evitam o contato pessoal, mas a virada é mesmo no mindset do produto. O produtor pode ceder espaço para tornar as chamadas em vídeo mais comuns, comprar insumos e até vender a produção pela internet. Uma vez mergulhado nesse universo, a tendência é ele ir aderindo a outras ferramentas. Na Reunidas do Papagaio, Godoi começou sua jornada tecnológica pela informatização das operações há cinco anos e pretende aderir, em breve, à venda de commodities online. Clima, máquinas, pragas, silos, tudo passou, pouco a pouco, a ser monitorado pela tela do celular. Segundo ele, o objetivo final nunca foi deixar de visitar o campo nem deixar de tomar decisões finais por ele mesmo, mas otimizar suas idas e vindas conforme os alertas das plataformas digitais. Embora não saiba exatamente o retorno que cada tecnologia lhe trouxe, Godoi afirma que a evolução proporcionada por elas é contínua e se reflete de alguma forma na sua produtividade, tendo como aliados, claro, também o clima e os manejos.

Na última safra, ele colheu uma média de 65 sacas de 60 Kg de soja por hectare. Há quatro anos, colhia 55 sacas de 60 Kg por hectare. Em relação ao milho, a previsão é colher 125 sacas de 60 Kg por hectare no ciclo 2019/2020 ante 106 sacas de 60 Kg por hectare no ciclo 2017/2018. No Brasil, a produtividade média da soja foi de 54,5 sacas de 60 Kg por hectare e do milho, de 89,5 sacas de 60 Kg por hectare na safra passada, conforme estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Entusiasta do mundo digital, mas muito crítico também a ferramentas acessórias, Godoi afirma que evita incorporar qualquer coisa que não faça sentido na sua gestão e que se questiona sempre quanto ao porquê de usar cada ferramenta que tem na fazenda, o que recomenda para quem intensificou a caminhada no mundo digital durante a pandemia. O primeiro software que contratou, por exemplo, foi o da gaúcha Widitec, que associado a sensores auxilia no monitoramento da qualidade de grãos em silos.

O problema era claro: necessidade de um sistema para automatizar o liga e desliga dos motores de refrigeração, porque estava havendo perdas durante a armazenagem. No Paraná, em Campo Mourão, o produtor João Luiz Ferri afirma que o que pesa mais para ele na adoção de tecnologias é o custo-benefício, gerido com métricas mais ou menos usuais, mas assertivas para seu contexto. Em 600 hectares, ele planta soja e milho na safra de verão, e trigo no inverno. Para Ferri, que está diariamente na propriedade, mas tem uma equipe reduzida, de quatro funcionários, poder fazer mais em menos tempo é, sobretudo, uma missão. Com o piloto automático da divisão de agricultura da sueca Hexagon, por exemplo, que norteia a operação de plantio do seu trator, Ferri afirma que aumentou em 15% o rendimento semanal das operações de semeadura e que, além de plantar mais, passou a plantar melhor.

Foi eliminado o remonte de plantio, as falhas nas linhas e não há nem mais excesso nem falta de plantas. Em 2019/2020, ele colheu 80 sacas de 60 Kg de soja por hectare. Para evitar percorrer a fazenda toda semana, ele assina o Climate FieldView, da Bayer, e aderiu gratuitamente ao serviço de monitoramento de pragas da Strider. O primeiro lhe dá um mapa de vegetação da lavoura a cada cinco ou sete dias e, com seu histórico, só vai a campo quando encontra “manchas” nas imagens, que podem sinalizar para problemas de desenvolvimento de plantas, necessidade de controle de pragas ou futuras correções de fertilidade do solo. No caso do serviço da Strider, a facilidade foi ter um técnico da Syngenta, proprietária do serviço, visitando sua propriedade semanalmente para acompanhar a presença de pragas no campo, que passaram a ser monitoradas por aplicativo. Com a pandemia, isso foi de grande ajudar, mas, mesmo antes, diminuiu a frequência com que é necessário enviar pessoal para fazer amostragens no campo.

Dentro das empresas, o estímulo ativo ao uso de tecnologias durante a pandemia também acelerou a experimentação de serviços digitais. Oferecendo descontos na compra de insumos online, a Orbia, joint-venture da Bayer com a Bravium, vendeu R$ 10 milhões em produtos na data da comemoração de seu aniversário de um ano em apenas três horas. E em outra ação, em parceria com o Sicredi e o centro de inovação AgTech Garage, gerou mais de 200 resgates de serviços de 20 startups parceiras. De acordo com a Orbia, entre as soluções mais procuradas em meio à pandemia estão serviços de monitoramento de lavouras à distância e os de informação, como a Atomic Agro, espécie de rede social para pequenos e médios produtores. A Syngenta (Strider) percebeu um outro movimento, de aceleração direta na observação dos dados. Em maio de 2020, ante o mesmo mês do ano anterior, a plataforma da Strider teve incremento de 400% nos acessos. Fonte: Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.