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17/Jun/2020

Syngenta: plataforma digital será lançada no Brasil

Após adquirir a agtech brasileira Strider em 2018 e outras startups de agricultura digital em outros países, a Syngenta reunirá as principais funcionalidades de cada ferramenta em uma única plataforma global, chamada Cropwise, que possuirá interface mais simples para facilitar o uso por pequenos e médios produtores rurais. O Brasil será o primeiro a utilizar as ferramentas, que estarão disponíveis para produtores de outros países ainda este ano, entre os quais Estados Unidos, Rússia, Ucrânia, França, Alemanha, Reino Unido e China, contou o CIO (diretor global de Tecnologia da Informação) e CDO (diretor global de dados) da Syngenta, Greg Meyers. "Vimos o uso tecnologias (digitais para agricultura da Syngenta) aumentar quatro vezes no último ano; hoje são cerca de 2,5 mil produtores no Brasil, boa parte deles de porte médio. Percebemos que milhares deles estão começando a usar ferramentas digitais e, com a Cropwise, teremos uma versão mais simples de uma série de soluções que já vínhamos oferecendo", disse Meyers.

"Estamos trazendo o que considero serem as mais avançadas ferramentas de monitoramento do mundo, de uma forma simples de usar, que vão requerer a inserção de menos dados (pelo produtor). Temos crescido rápido (no que se refere à adoção de tecnologias digitais da empresa) e, com a plataforma, vamos crescer ainda mais no Brasil", acrescentou. As tecnologias digitais da Syngenta, em especial da Strider, já são utilizadas hoje em 4,5 milhões de hectares no Brasil, de acordo com o executivo. Ele diz que não se surpreenderia se, ao fim da safra 2020/2021, 5 mil produtores, o dobro do número atual, estivessem acessando a Cropwise. A nova tecnologia está sendo lançada, inicialmente, com duas linhas de produtos: Cropwise Protector, focada no mapeamento das atividades da lavoura, e Cropwise Imagery, serviço de sensoriamento remoto por satélite da Syngenta, aprimorado e mais preciso. O acesso à tecnologia será diferente em cada país.

No Brasil, para utilizá-la, produtores poderão lançar mão de dois caminhos: pagar diretamente pelo acesso ou obtê-lo por meio dos distribuidores de insumos que trabalham com a empresa. Neste caso, o produtor, ao comprar sementes ou agroquímicos da Syngenta, obtém desconto no custo de acesso à plataforma proporcional ao valor de sua compra. A revenda também poderá optar por arcar com o custo da tecnologia, se preferir. "Não dizemos aos revendedores como precificar seus produtos, não vamos nos envolver nisso", explicou Meyers. "O retorno dos distribuidores tem sido muito positivo e isso é importante quando se trata do mercado de médios e pequenos agricultores, porque eles não têm oito ou dez funcionários de TI, ou agrônomos para todas as áreas, e dependem da consultoria de pessoas ao seu redor, como os revendedores", argumentou. A escolha pela rede de distribuição também passa pela facilidade de escalonar seu uso no País.

"Estamos preocupados que a ferramenta seja usada pelas pessoas em quem o produtor confia. As revendas contam com pessoas que conhecem os produtores e sua situação." Meyers não detalha o investimento total no projeto, mas sinaliza que ele envolveu "algumas dezenas de milhões de dólares". Para o desenvolvimento da ferramenta de mapeamento das lavouras (Protector), a companhia fez consultas a produtores não apenas do Brasil, como também da Europa (Espanha, Itália, França, Rússia), da China e dos Estados Unidos. No Brasil, a equipe da Strider, que agora foi incorporada à nova área de negócios da companhia, a Syngenta Digital, foi reforçada. Segundo Meyers, de 60 a 70 pessoas no ano passado, agora são 120 e ele prevê mais uma ampliação do grupo, em 20% a 30%. Meyers enfatiza, no entanto, que o objetivo não é vender softwares.

"O foco do nosso negócio é produzir sementes e defensivos", afirma ele. As ferramentas digitais e a criação da nova frente de negócios, explica, darão à companhia meios de provar aos agricultores os resultados de seus produtos quando aplicados da forma correta e a ajuda das novas tecnologias, como inteligência artificial, monitoramento, agricultura de precisão, dentre outras. "Se você compra um fungicida da Syngenta e pulveriza muito cedo, perdeu dinheiro. Se pudermos oferecer ao agricultor orientação sobre quando exatamente pulverizar, para que se obtenha um bom resultado, ele vai voltar e comprar mais de nós", diz. "Nos Estados Unidos, somos o número três no mercado de sementes. Então, ainda que estejamos gastando quantia considerável em um programa de agricultura digital, se ganharmos apenas 1% de participação no mercado de sementes de milho dos Estados Unidos, imediatamente pagaria todo o programa", comentou.

No Brasil, boa parte dos produtores rurais ainda está tendo o primeiro contato com ferramentas de monitoramento das atividades na lavoura (plantio, pulverização, colheita), argumenta Meyers, sem acessar ainda sistemas de recomendação de tarefas ou que utilizem inteligência artificial para que o software crie novas recomendações com base nos dados inseridos. Por isso, a estratégia da Syngenta neste momento ainda será oferecer as novas tecnologias para agricultores que produzem soja, milho e alguns grãos, como cevada e trigo, e outras oleaginosas além de soja. Em seguida, deve ser inserida a cultura do café. "Já há muito conhecimento sobre estas culturas, muita informação colhida pela Syngenta", acrescenta. Fora do País, a Syngenta oferecerá, dentro da nova tecnologia Cropwise, ferramentas customizadas para as necessidades de outros países produtores.

Nos Estados Unidos, o foco será a cultura de milho; na Europa, grãos como cevada e trigo, assim como oleaginosas; na China, culturas comerciais, mais focadas no consumidor final, como café, açúcar e algodão. O fato de a plataforma ser global também permitirá, em breve, o acesso mais rápido ao conhecimento e a informações agrícolas de outros países e a busca por soluções de sustentabilidade para o campo ligadas ao controle de pragas. Meyers cita, por exemplo, a lagarta Spodopetera frugiperda, velha conhecida de produtores brasileiros e que surgiu nas lavouras da Ásia no ano passado. "É possível, por exemplo, levar esse conhecimento (adquirido no Brasil no controle da lagarta) à Índia, onde há 500 milhões de pequenos agricultores que não têm nem de perto a sofisticação dos produtores do Brasil, em geral", diz.

Outra possibilidade futura para os brasileiros, diz o executivo, será contar com softwares dotados de informações regulatórias sobre mercados atendidos pelo País, e que ajudarão produtores a cumprir as regras e os limites de aplicação de defensivos exigidos por importadores. "As regras mudam bastante em relação à quantidade de resíduos permitida, e essas ferramentas podem ajudar o campo a navegar na complexidade do mercado agrícola no futuro." Meyers diz que a pandemia da Covid-19 e a crise financeira global abrem oportunidades para novas aquisições de startups com soluções para a agricultura, já que produtores passaram a recorrer mais às tecnologias digitais para contornar as limitações da quarentena. "Com a covid-19 e a crise financeira, o mercado ficará mais atrativo para aquisições. Estamos abertos a fazê-lo se considerarmos que proporcionam uma solução diferente das demais, sempre consultando nossos clientes sobre como usam nossas ferramentas e o que desejariam que fizéssemos a mais", explica. "Nossa preferência é sempre comprar empresas que sejam referência (no mercado)." Fonte: Agência Estado.